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segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Pílula do dia seguinte ou camisinha?

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Doutora Márcia Felician: "Só está livre de DST quem não faz sexo. Meninos e meninas, cuidem-se mais -- sempre!

por Conceição Lemes

Em 14 de julho, o Viomundo publicou a matéria Pílula do dia seguinte: use a seu favor! No final do texto, deixamos a nota: caso ainda tenham dúvidas sobre a PDS (sigla pela qual é cada vez mais conhecida), é só deixá-las nos comentários.

Quase 300 leitores e leitoras (a maioria) já postaram lá:

1. Boa parte diz ter recorrido à PDS porque “a camisinha estourou”.

2. O único temor manifesto é a gravidez. Ninguém pergunta se havia risco de adquirir alguma doença sexualmente transmissível (DST). Nem mesmo entre quem alega que a “camisinha estourou ou soltou”.

3. Predomina a ideia de que o medicamento é 100% eficaz.

4. Parte utiliza sem ter mantido relação sexual desprotegida no período fértil.

5. Muitas jovens usam mensalmente a PDS; algumas duas, três, até cinco vezes por mês, outras associam ainda anticoncepcionais orais convencionais.

“A pílula do dia seguinte está sendo usada indiscriminadamente, sem orientação médica, por indicação de amigas, vizinhas”, adverte a ginecologista Márcia Felician, do Serviço de Ginecologia do Hospital do Ipiranga e do Pérola Bynton, em São Paulo. “Quem faz uso da PDS mensalmente ou várias vezes num único mês está tomando hormônio demais. Já o risco de praticar sexo sem camisinha é adquirir alguma DST, inclusive o HIV e o HPV. A ‘rota’ para ‘pegar’ uma e outra é a mesma!” HIV é o vírus da aids. HPV, o vírus do papilomavírus humano, é o responsável pelas verrugas genitais; se não tratadas, podem causar câncer no colo uterino e no pênis.

PÍLULA DO DIA SEGUINTE NÃO É CONTRACEPTIVO!

A preocupação da doutora Márcia se explica. Ela é quem atualmente responde às questões postadas na matéria sobre a pílula do dia seguinte. Está por dentro, portanto, dos equívocos nessa área.

“A pílula do dia seguinte não é um método anticoncepcional, para ser usado de rotina, como muitas pensam”, avisa. “É apenas recurso de emergência.”

É para situações especiais Uma delas é quando falha o método anticoncepcional usado. Por exemplo, conta errada, quando usa tabela, rompimento da camisinha, deslocamento do diafragma ou do DIU, relação incompleta malsucedida e esquecimento de tomada da pílula convencional. Outra: violência sexual, estupro. Também em caso de eventual relação sem uso de método anticoncepcional. É administrada oralmente na fórmula de um ou dois comprimidos.

“Mas ela é 100% eficaz?”

Não há método 100% eficaz. Até a laqueadura e a vasectomia, recursos definitivos, eventualmente falham. A PDS tem eficácia acima de 95%. Mas para isso deve ser tomada em até três dias, ou 72 horas, após a relação sexual desprotegida. Quanto mais precoce o uso, maior a eficácia.

“A possibilidade de a PDS falhar é pequena, mas existe, mesmo tomada corretamente”, previne a doutora Márcia. “Entre as cartas respondidas, há pelo menos três leitoras que nos informaram depois que ficaram grávidas.”

“A PDS pode ser tomada em qualquer época do mês?”

Só tem sentido tomar a pílula do dia seguinte se a relação sexual desprotegida ocorrer dentro do período fértil.

Explicamos. A mulher pode engravidar somente durante a fase de ovulação, que ocorre em torno do 14º ciclo menstrual.

O primeiro dia de sangramento é considerado o primeiro dia do ciclo menstrual. Como nem a ovulação acontece no 14º dia, considera-se o período fértil entre o 12º e 16º dias.

Mulheres que têm ciclos de intervalos que variam de 24 a 32 dias podem ter variações quanto à época fértil.

Fora do período fértil, não há risco de gravidez. Portanto, você não precisa – nem deve! – recorrer à pílula do dia seguinte. Não terá nenhum benefício e, ainda, vai tomar hormônio desnecessariamente.

“E por que não mensalmente?”

Nem mensalmente nem várias vezes por mês. O uso repetido, como acontece com outros medicamentos, bloqueia certos receptores, o organismo se acostuma, deixa de reconhecer a PDS, diminui a sua eficácia e aumenta o risco de engravidar.

A mulher que a utiliza frequentemente se expõe mais também aos riscos do anticoncepcional hormonal, entre os quais o de acidente vascular cerebral, a AVC, ou derrame cerebral.

CAMISINHA LEVA A FAMA, MAS A MAIORIA NÃO USA DIREITO

À camisinha frequentemente se atribuiu a “culpa” pela necessidade da PDS: estourou, escapou, soltou.

“Fala sério, gente, estoura mesmo ou alguns de vocês não usam, mas dizem que usam, pois é o discurso da moda?”, desconfia a doutora Márcia. “Está comprovado por muitos estudos no mundo inteiro que a grande maioria dos rompimentos se deve ao uso incorreto e não por problema de qualidade di produto.”

Por isso, de preferência, utilize preservativos já lubrificados. Quando não é lubrificado ou se deseja aumentar a lubrificação, nunca utilize lubrificantes à base de óleo, como vaselina e cremes; alteram a composição do látex, deixando-o mais frágil. Também não use saliva nem espera. O único lubrificante recomendado é aquele à base de água (você encontra em farmácias); facilitam a penetração, permitem a sensação de umidade sem comprometer a qualidade da camisinha.

É preciso ainda certificar-se de que a camisinha tem a identificação completa do fabricante ou do importador. Observe as informações sobre o número do lote e a data de validade. Verifique se a embalagem do preservativo traz o símbolo de certificação do Instituto Nacional de Metrologia (Inmetro). É a prova de a qualidade do produto foi testada. Não utilize preservativos guardados em porta-luvas de carro, pois o calor do sol deteriora o látex.

“O uso de duas camisinhas diminui o risco de ela estourar?”

Não. Na verdade, camisinhas sobrepostas podem se romper com o atrito. O uso correto e a lubrificação do preservativo garantem a segurança. Se quiser aumentá-la, insistimos, utilize somente lubrificantes à base d’água.

“Ah, mas eu sei colocar...”

Ótimo. Mas tem gente que não sabe. Assim, para prevenir que a camisinha estoure, é importante adotar os seguintes cuidados:

* Abra a embalagem com cuidado – nunca com os dentes – para não furar a camisinha.

* Coloque a camisinha apenas quando o pênis estiver duro.

* Encaixe a camisinha na ponta do pênis, sem deixar o ar entrar. Aperte o “bico” da camisinha até sair todo o ar. Cuidado para não apertar com muita força e estragá-la. Também não “torça” a ponta.

* Desenrole a camisinha até que o pênis fique todo coberto.

* Não deixe a camisinha ficar apertada na ponta do pênis - deixe um espaço vazio na ponta que servirá de depósito para o esperma. Se ela não ficar bem encaixada na ponta, ou se ficar ar dentro, a camisinha pode rasgar.

* Só use lubrificante à base de água. Nunca vaselina e outros lubrificantes à base de óleo.

* Após a ejaculação, retire a camisinha com o pênis duro. Segure-o pela base para evitar que o esperma derrame, vaze da camisinha.

* Dê um nó no meio da camisinha e jogue-a no lixo. Nunca reaproveite. Usar duas vezes o mesmo preservativo não previne contra doenças e gravidez.

“E se mesmo assim a camisinha estourar?”

“Independentemente do sexo do parceiro, o certo é interromper a relação, higienizar-se e iniciar o ato sexual novamente com um novo preservativo. A higiene dos genitais deve ser feita com água e sabonete”, orienta Ivo Brito, coordenador da Unidade de Prevenção do programa Nacional de DST/Aids do Ministério da Saúde. É desnecessário o uso de substâncias químicas, que podem inclusive ferir pele e mucosas, aumentando o risco de contágio pela quebra de barreiras naturais de proteção.

Essa é uma das situações em que a PDS está indicada, desde que a relação sexual ocorra no período fértil. Se você achar que eventualmente há risco de alguma infecção, ainda que pequeno, vá ao médico, consulte-se. Por exemplo: caso a sorologia do (a) parceiro (a) para HIV seja desconhecida. O Ministério da Saúde recomenda que se faça o teste de HIV 90 dias depois, para que não fique qualquer dúvida.

PRESERVATIVO CONTRA HIV, HPV, HEPATITE B, HERPES, CLAMÍDIA ...

“A camisinha protege contra o HIV, as demais DST e ainda evita a gravidez indesejada”, ressalta a médica sanitarista Mariângela Simão, coordenadora do Programa Nacional de DST e Aids do MS. “É o único método que protege você nas relações sexuais de tudo isso ao mesmo tempo.”

Existem pelo menos 80 doenças que podem ser transmitidas por via sexual. O grande temor é a infecção pelo vírus da imunodeficiência humana, ou HIV, que no seu desenvolvimento leva à aids. A aids tem controle, porém não tem cura ainda.

Mas há outras muito preocupantes. Por exemplo, bebês nascidos de mãe com sífilis não tratada têm sequelas gravíssimas. A infecção por alguns tipos de papilomavírus humano, ou HPV, está associada ao desenvolvimento de câncer do colo do útero (o mais comum), vulva, vagina e pênis. Dos adultos que se infectam pelo vírus da hepatite B, cerca de 10% tornam-se seus portadores para o restante da vida, com grande risco de desenvolver cirrose e câncer no fígado. Mulheres infectadas por clamídia e gonorréia podem ter obstrução nas trompas e se tornar inférteis.

As DST são transmitidas, principalmente, por contato sexual sem o uso consistente da camisinha com pessoa infectada. Frequentemente elas se manifestam por meio de feridas, corrimentos, bolhas ou verrugas. Só que nem sempre no início algumas DST dão sintomas. Avançam, portanto, silenciosamente. Resultado: se o casal transa sem camisinha, o parceiro negativo pode infectar-se também.

“Como não viver com o coração na mão?”

Na quase totalidade dos casos, a PDS previne gravidez inesperada após relação sexual desprotegida. Permite que a mulher faça a sua opção sem medo, sem culpa, sem o risco do aborto clandestino. O aborto é a terceira causa de morte materna e a quinta causa de internação na rede pública de saúde do país. Porém, não é um método contraceptivo para ser usado habitualmente.

“Se você está em fase reprodutiva e ainda não tem um método contraceptivo, vá ao médico, converse com ele sobre os prós e contras de cada um e escolha o mais adequado ao seu estilo de vida e condições de saúde”, orienta a doutora. “É fundamental para ter uma vida sexual mais tranquila.”

A menos que a opção do casal seja a camisinha, é indispensável usá-la junto com os demais métodos contraceptivos. É o único jeito de proteger-se eficazmente contra as DST.

“Ah, mas meu parceiro não gosta...”; “Eu o conheço bem...”

Algumas mulheres acham que com 15 dias conhecem o parceiro. Com um mês de relacionamento, já dá para eliminar a camisinha. O parceiro é de confiança... É o príncipe encantando que será o pai dos seus filhos...

“Nada disso, meninas e meninas”, alerta a doutora Márcia. “Só há um jeito de eliminar a camisinha. O casal ser realmente monogâmico e fazer o teste de HIV.”

Que garantia vocês têm de que os parceiros anteriores dos seus atuais parceiros não tinham o HIV ou outras DST sem saber?

“Boa aparência”, “família excelente”, “gente fina”, “eu já o conheço”... “Testes visuais” não funcionam. Garantia ZERO.

Por isso, se quiserem transar sem camisinha, os dois devem ir ao médico. A mulher, ao ginecologista. O homem, ao urologista. Dependendo do exame clínico, alguns exames podem ser pedidos.

Mas um é indispensável a ambos: o teste de HIV. Deve ser feito após 90 dias do início do relacionamento. É o tempo necessário para que o HIV se positive no teste, caso um dos dois seja positivo e desconheça. Enquanto isso, camisinha.

Se o teste der negativo, ambos têm de ser monogâmicos. E se alguém pular a cerca, camisinha, pelo amor de Deus!!!

“Só está livre de DST quem não faz sexo”, insiste a doutora. “Cuidem-se mais – e sempre!”

Nota do Viomundo: Caso ainda tenham dúvidas sobre os temas abordados na reportagem, a doutora Márcia Felician se dispôs a esclarecê-las. É só deixar as perguntas nos comentários. Márcia tem títulos de especialista em Ginecologia e Obstetrícia e em Genistoscopia. É médica do Serviço de Ginecologia do Hospital do Ipiranga e do Pérola Bynton, ambos em São Paulo.

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