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segunda-feira, 28 de março de 2011

“Está falando comigo?”: Taxi Driver faz 35 anos




Robert de Niro é Trevis Treakle, um sociopata na América pós-Watergate
Taxi Driver, clássico do diretor Martin Scorsese, completa 35 anos com edição especial em Blu-ray
Parece mentira, mas houve um tempo em que os adultos eram o público-alvo primordial de Hollywood. Um ano antes de a história do cinema norte-americano abraçar, para sempre, a causa do entretenimento intergeracional, com o fenômeno planetário de Star Wars – Guerra nas Estrelas (1977), Taxi Driver, obra-prima de Martin Scorsese, integrou aquela que talvez tenha sido uma das últimas grandes safras de filmes para gente grande a sair dos estúdios.
Vencedor da Palma de Ouro, Taxi Driver foi indicado ao Oscar de melhor filme ao lado de pesos-pesados dos anos 70, como Rede de Intrigas (de Sidney Lumet), Esta Terra É Minha Terra (Hal Ashby) e Todos os Homens do Presidente (Alan J. Pakula). Acabou nocauteado por Rocky, um Lutador, escrito por Sylvester Stallone e dirigido pelo hoje esquecido John Avildsen. Era um indício da mudança de ventos.
Passados 35 anos de seu lançamento nos cinemas, Taxi Driver é, entre os títulos citados no parágrafo anterior, o que melhor resistiu ao tempo. Na edição comemorativa que será lançada em 6 de abril no formato Blu-ray, saltam aos olhos as qualidades que fazem do longa-metragem de Scorsese um clássico contemporâneo.
O excepcional roteiro de Paul Schrader torna a trágica história de Trevis Treackle exemplar dos Estados Unidos pós-Watergate, mergulhados em angústia e ceticismo. Veterano da Guerra do Vietnã, o ex-fuzileiro naval vivido com maestria por Robert de Niro, ao retornar do front, não encontra um lugar no mundo para chamar de seu.
Entre sessões de cinema pornô e seus turnos como motorista de táxi numa Nova York sombria e decadente, Treakle é um sujeito ensimesmado e com dificuldades de estabelecer vínculos. Apaixona-se por uma mulher inatingível (Cybill Shepherd), assume o papel de anjo protetor de uma prostituta adolescente (Jodie Foster, em atuação histórica) e, por fim, na medida em que enlouquece, decide se tornar uma espécie de vigilante capaz de inibir à bala os males do mundo.
A edição comemorativa que chega às lojas na próxima semana incluem quase três horas de extras, que vão de comentários em audio de Paul Schrader e Robert Kolker, professor de Estudos de Mídia da Universidade da Virgínia, a pequenos documentários, como Scorsese on Taxi Driver, de 17 minutos, em que o diretor conta em detalhes as origens do projeto, apresentado a ele pelo colega Brian de Palma (de Dublê de Corpo). O melhor, no entanto, fica por conta de Making Taxi Driver, filme de 70 minutos que esmiuça todo o processo de realização daquele que é, sem exageros, um dos grandes tesouros do cinema americano de todos os tempos.

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