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quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Emergência de hospitais opera no limite na capital


na Gazeta do Povo (via boletim do NEMS - PR)


Curitiba terá de investir mais no atendimento básico de saúde e nos Centros Municipais de Urgências Médicas (CMUMs) para desafogar os três hospitais que atendem emergências na capital pelo SUS e estão no limite da capacidade. O sistema composto pelo Hospital Cajuru, Hospital Evangélico e Hospital do Trabalhador tem mostrado sinais de esgotamento – da última quinta-feira até o último domingo pela manhã, por exemplo, o Cajuru teve de restringir a entrada de pacientes em ambulâncias do Samu e Siate.

Segundo os gestores do Cajuru, a única forma de manter o atendimento no curto prazo, evitando a superlotação, é garantindo que só sejam recepcionados os casos mais graves. O diagnóstico feito pela gestão municipal é o mesmo. O novo secretário de Saúde, Adriano Massuda, admite que esta retaguarda hospitalar – que poderia ser feita pelos CMUMs – é insuficiente e até desorganizada. Em entrevista à Gazeta do Povo (leia mais nesta página), Massuda promete fortalecer a rede básica de saúde para diminuir o número de pacientes nos centros de urgência e, assim, fazer com que esses CMUMs se foquem no atendimento de baixa e média complexidade. “Os CMUMs estão estrangulados porque têm uma demanda que poderia ser resolvida na atenção básica”, afirma.

Se os centros municipais fizessem um pré-diagnóstico antes de o paciente ir ao hospital, isso evitaria as filas de espera e a lotação dos leitos. “Somos um hospital de alta complexidade, mas atendemos a muitos casos que nem deveriam chegar até aqui”, afirma o diretor-geral da área de saúde do Grupo Marista – que administra o Hospital Cajuru –, Álvaro Quintas.

Segundo ele, o Cajuru recebe, por exemplo, pacientes com o tornozelo inchado, que poderiam ser tratados em postos de atendimento básico. “O problema é que o hospital é porta aberta e não podemos negar atendimento a quem chega. Temos uma equipe de alta complexidade sendo subutilizada”, lamenta.

Repasses

O superintendente de Saú­­de do Hospital Evangélico, Ro­­gério Kampa, também defende o pré-diagnóstico nas unidades de saúde e diz que a crise nos hospitais que atendem emergência pode ser explicada ainda por outros fatores, como o atraso no repasse das verbas dos atendimentos feitos pelo SUS, a defasagem na tabela de pagamento (incapaz de cobrir os gastos dos hospitais) e a grande procura dos moradores da região metropolitana.

O Evangélico enfrenta problemas com os funcionários que ameaçam fazer greve por falta de pagamento dos salários. De acordo com Kampa, a promessa de pagamento por parte do governo federal existe, mas ainda não foi efetivada.

Problemas

CMUMs estão sempre lotados e têm estrutura precária

Organizar a administração do sistema público de saúde é um dos primeiros passos para fazer com que a população não busque atendimento de saúde no lugar errado e acabe ocupando um leito de alguém que precisa mais. Mas, além disso, para que os Centros Municipais de Urgências Médicas (CMUMs) de Curitiba possam atender a população que efetivamente não precisa buscar tratamento no hospital, é preciso que esses centros estejam bem estruturados, o que não acontece.

Uma auxiliar de enfermagem do CMUM do Boqueirão, que prefere não ser identificada, afirma que os leitos dos centros estão sempre lotados e falta infraestrutura. “Os pacientes precisam pedir aos familiares para levar cobertor de casa, porque nem isso temos em número suficiente. Às vezes falta tubo de oxigênio, que precisa ser pego emprestado de alguma ambulância”, conta.

“Precisaríamos de mais cinco Centros de Urgências Médicas”

O novo secretário de Saúde de Curitiba, Adriano Massuda, explicou à Gazeta do Povo os planos para atenuar os problemas do atendimento de urgência e emergência na capital paranaense. Veja a seguir os principais trechos da entrevista.

Qual é a realidade do tratamento de emergência e urgência em Curitiba? Qual é o plano para melhorar a rede?
O atendimento de emergência e urgência sofre um estresse na cidade há pelo menos cinco anos. Está no limite. Temos uma boa estrutura para urgência e emergência. O problema é a estruturação e o funcionamento de toda a rede. Não existe organização de sistema de saúde no mundo que se faça sem uma atenção básica forte. Precisamos ampliar a estratégia de saúde básica, que cobre 33% de toda a cidade. O objetivo é dobrar já no primeiro ano. O segundo ponto é ampliar a resolutividade dos oito CMUMs. Já temos mais dois em construção. Um no centro, perto da rodoviária e outro no Tatuquara. Precisamos de mais resolutividade em trauma ortopedia dentro do CMUM.

Qual é o problema da vazão dos atendimentos dos CMUMs?
A retaguarda hospitalar de cada centro é insuficiente ou desorganizada. Podemos dizer que existe problema, mas não está em situação de caos. Há picos de atendimento, nos quais determinada região possui maior demanda e fica sobrecarregada. Isso é habitual no sistema de emergência e urgência, por isso precisa existir uma retaguarda hospitalar para quem precisa de atendimento mais complexo. A infraestrutura precisa ser melhorada, mas não é isso que explica as dificuldades. É o funcionamento da rede que vai melhorar a gestão da saúde.

Mas não faltam médicos nas unidades básicas?
O problema na unidade básica é uma questão do número (de médicos) e da qualificação. Precisamos de uma política de valorização dos profissionais, como plano de cargos e salários. Nessa gestão vamos contratar mil novos profissionais de saúde. O problema qualitativo será resolvido com cursos permanentes de atenção básica e de urgência e emergência.

O número de pacientes da região metropolitana também contribui para esse quadro?
Muitos pacientes com baixa complexidade vêm aos CMUMs e poderiam ser atendidos em suas cidades. Claro que Curitiba não pode fechar as portas para pacientes de outras cidades. Há uma falha no município de origem. A formação para os nossos profissionais poderia se expandir para os municípios da RMC.

A quantidade de CMUMs é ideal para a capital?
Pelo critério do Ministério da Saúde, oito é um número suficiente para Curitiba. Mas como atendemos à região metropolitana precisaríamos de mais cinco. Dois estão em andamento, dois devem ser construídos a médio prazo, daqui a dois anos. Além de mais um a longo prazo. Assim poderíamos atender à demanda para os próximos 10 anos.

Um comentário:

  1. Os CMUNs, pensados para qualificar o PA de baixa e média complexidades e possibilitar o acesso do cidadão em dias/horários em que as UBS estivessem fechadas, acabaram perdendo seu importante papel na rede de saúde municipal. Aponto algumas questões que, ao meu ver, contribuiram para tal:
    1. Baixa resolutividade do cuidado médico na UBS, com pacientes procurando diversos serviços frente a uma mesma queixa inicial;
    2. Baixa ou nenhuma integração dos CEMUMs com a rede de UBS. Soma-se a isso a falta de investigação quanto ao perfil dos atendimentos realizados, o que impossibilita a reorientação do serviço;
    3. Terceirização dos atendimentos médicos para instituições hospitalares que ofertam grande parte dos plantões aos seus médicos residentes, não vinculados à administração pública e que que, não generalizando - nem sempre estão preocupados com a efetiva resolução das queixas dos usuários, situação que contribui ainda mais para a baixa resolutividade do próprio CMUM. Tal situação, se não pode ser generalizada, pode ser "compreendida" quando temos um residente de cirurgia toráxica ou oftalmologia, p. ex, fazendo plantão como clínico geral;
    4. Grande parte das queixas poderiam ser atendidas nas UBS, de Ctba ou Região Metropolitana, mas, ao tempo que o serviço não deve dispensar um paciente com queixa de dor lombar crônica que engrossará a fila da "urgência", por outro lado os Cursos de Medicina vinculados às Instituições de Ensino parceiras deveriam, em contrapartida e junto com a SMS, desenvolver um amplo programa de educação médica continuada pautado por critérios epidemiológicos, contribuindo decisivamente para uma maior resolutividade das UBS;
    5. Necessidade de definir claramente o papel deste nível de atenção na rede de serviços, certamente ele não pode ser em grande parte do tempo uma "UBSzona" com um plus de procedimentos e onde o usuário sabe que, mesmo esperando por um bom tempo, certamente será atendido.

    Se por um lado considero acertadas as afirmações do Secretário Adriano Massuda, me preoucupa o fato de que 5, 6 ou 7 novos CMUMs acabarão, em pouco tempo, entrangulados pela demanda reprimida de Ctba e RM, pois, ao contrário de outras áreas os serviços de saúde são, de forma peculiar, autogeradores de demanda, quanto mais oferta, mais procura.
    Um abraço e parabéns ao secretário, vê-se que em pouco tempo ele já contrói uma boa e ampla análise do contexto local, creio que a duras penas e muito trabalho.
    Antonio C. Nascimento (SMS Ctba).

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