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sábado, 4 de maio de 2013

Farofada no Granito: “A melhor calçada da capital é um bem público”


Kaley Michelle, atriz e uma das organizadoras da manifestação Farofada no Granito, que acontece neste domingo, a partir do meio-dia, na Avenida Bispo Dom José

na Gazeta do Povo

Assunto debatido em táxis, salões de cabeleireiros e redes sociais em janeiro deste ano, as calçadas de granito da Avenida Bispo José, no bairro Batel, em Curitiba, ainda dão pano para manga. A utilização de um material que custa até seis vezes mais do que outro, comumente utilizado em outros bairros da cidade, foi o estopim para uma discussão generalizada sobre um suposto benefício a uma área específica – e rica – de Curitiba.
A instalação do granito fazia parte da revitalização da área central da capital, iniciativa do então prefeito Luciano Ducci (PSB). A prefeitura, já sob o comando de Gustavo Fruet (PDT), optou por reavaliar o projeto. A reforma foi suspensa e a obra foi finalizada com lajotas de concreto, mais baratas.
Não bastasse a polêmica, e a calçada remendada, mais um ingrediente colaborou para a que a discussão renascesse: o granito passou a ser utilizado por skatistas – em um vídeo divulgado na internet há alguns dias, um agente da Guarda Municipal repreende um jovem por utilizar o espaço.
Tudo isso inflamou os ânimos da atriz Kaley Michelle, que resolveu inovar ao criar, em uma rede social, a Farofada no Granito. Sete mil pessoas confirmaram presença no evento, que acontece neste domingo, a partir do meio-dia, na Avenida Bispo Dom José. “Há uma certa pretensão em acreditar que o Batel é um bairro diferente do resto da cidade” afirma. Confira a entrevista com a organizadora da manifestação:

Qual o objetivo da Farofada no Granito?
O objetivo principal é mobilizar as pessoas pela retomada do espaço público como referência da democracia e convocá-las a fiscalizar o poder público. É uma manifestação cultural bem-humorada que se posiciona contra os privilégios concedidos a um pequeno grupo e também contra a exclusão de amplos segmentos sociais do espaço público, em especial os mais jovens.
O que as pessoas vão encontrar lá, das 12 às 18 horas?
Vão encontrar pessoas, a rua, a cidade e, se possível, algumas manifestações artístico-culturais espontâneas. Também haverá abordagens educativas, informativas e coleta de assinaturas solicitando melhorias para cidade. Mas o foco mesmo é a troca de conhecimentos e posicionamentos políticos sobre Curitiba.
Em outra entrevista, você disse para os participantes levarem “pão com mortadela, torresmo e cadeira de praia.” É uma ironia contra os moradores do Batel, um bairro rico da cidade?
A convocação para levar cadeiras de praia e comidas populares é para contrastar com a obra luxuosa bancada com recursos públicos num espaço eminentemente privado.
O episódio dos skatistas – que foram impedidos de praticar o esporte pela Guarda Municipal no local – influenciou na idealização do projeto?
Claro, foi o estopim para um sentimento geral de indignação com a obra, mas a ideia de ocupar a rua e se posicionar quanto a essas questões já vem sendo debatida por diversos grupos de ativistas desde que a polêmica surgiu. A “melhor calçada de Curitiba”, como dizem alguns, é um bem público, tem que estar disponível para todos. Não havendo uma situação de conflito com pedestres, o uso da calçada para a prática de skate é legítimo. A própria fala da Guarda Municipal no caso mostra uma crítica implícita. Pergunta o guarda ao skatista: “não está vendo que esse negócio é de ouro?”
Há quase 7 mil pessoas confirmadas no evento, via Facebook. Em entrevista à rádio CBN, você disse que está em contato com a prefeitura da cidade. Como eles receberam a notícia? Ajudaram de alguma forma?
Agiram de modo institucional e respeitoso; a prefeitura foi notificada por ofício que protocolamos antes de virar notícia. Ao terem conhecimento da proporção que o ato tomou, eles se dispuseram a dar uma maior atenção. Comprometeram-se a mandar efetivo de segurança, trânsito e limpeza.
Há alguns empresários – e um vereador, o José Carlos Chicarelli (PSDC) – integrantes de um grupo chamado O Granito é Nosso, que defende a instalação da calçada mais cara. Você se preocupa com a possível presença dessas pessoas no evento?
Sim, nos preocupamos em garantir que eles tenham todo o espaço democrático que eles próprios queriam nos negar. Esperamos que eles possam participar do ato e percebam que as mobilizações da sociedade podem sem democráticas e pacíficas.
Você tem um histórico de participação em eventos sociais e protestos. Por que movimentos desse tipo, em espaços públicos, estão pipocando cada vez mais em Curitiba?
A representação política está em crise, no lugar dela começa a aparecer um desejo de maior participação direta, cultural, social e política. As pessoas sentem que vão ganhando mais voz e a internet tem surgido como um espaço de comunicação essencial para essa nova visão.
Qual sua opinião, enfim, sobre a calçada de granito no Batel?
A prefeitura deveria garantir calçadas de qualidade para toda a cidade, custeando as calçadas daqueles que não podem pagar por elas e exigindo daqueles que podem. Não podemos aceitar calados que se concedam privilégios a uns poucos, enquanto tantos não têm nada.

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