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quinta-feira, 21 de agosto de 2014

A crise na USP como a disputa de um projeto de universidade


Muito tem se debatido sobre a situação da USP. Na grande imprensa vemos repetidas vezes notícias sobre a anunciada crise financeira da maior universidade do país, como que tentando justificar as políticas de austeridade do atual reitor, Marco Antonio Zago.
 
Assim que assumiu seu reitorado, Zago anunciou uma série de cortes no orçamento. Foram afetadas bolsas de estudo, intercâmbio e estágio, instalações, equipamentos, o Hospital Universitário, a manutenção dos prédios. Toda a universidade sofreria as consequências da irresponsabilidade do reitorado de João Grandino Rodas, da qual, não por coincidência, Zago fazia parte da alta cúpula como pró­ reitor.

Mas o mais grave estaria ainda por vir: em maio foi anunciado o congelamento das contratações na USP e que não haveria reajuste salarial para professores e funcionários das universidades estaduais paulistas. Simples assim, sem qualquer possibilidade de negociação.

A resposta de professores, funcionários e estudantes da USP, UNESP e Unicamp foi imediata, e deflagrou­-se a greve que dura já quase 90 dias.

No dia 20 de Agosto, a USP enfrentou o lamentável cenário que, infelizmente, nos últimos anos tem se tornado comum no campus Butantã. Novamente, a universidade amanheceu sob chuvas de bombas e balas de borracha da Tropa de Choque, o que, segundo a própria Polícia Militar, foi solicitado pela reitoria. A repressão política, conhecida e experimentada por tanta gente nas manifestações desde o ano passado, permanece sendo a ferramenta para "diálogo" do governo do estado e das reitorias da USP.

Para nós, a questão que se coloca nesse momento é: de onde vem a tal crise financeira e a intransigência de Zago?

Conforme os dados estudados e divulgados pela Associação de Docentes da USP, nos últimos 20 anos a universidade cresceu muito – como deve crescer, e ainda muito mais – aumentando o número de cursos, de campi e de atividades. O número de alunos aumentou 83% na graduação, 63% no mestrado e 231% no doutorado

No mesmo período, o número de professores aumentou irrisórios 4%, o número de funcionários diminuiu em 5%, e o poder de compra destes diminuiu em 9,5%. Ora, perguntamos então de onde vem o alegado "inchaço" de empregos na universidade, a suposta "acomodação" de professores e funcionários, tão alardeados pelo reitor na grande imprensa, se as condições de trabalho e estudo apenas pioraram.

O que está em curso na USP é um processo longo de sucateamento. O crescimento quantitativo não foi e não é acompanhado pelo crescimento qualitativo da universidade, que vem sofrendo ataques já há um bom tempo. É evidente que as condições de produção de conhecimento para a sociedade, objetivo primeiro da universidade, tem apenas piorado.

E Zago pretende ir além.

Em documento ao qual tivemos acesso apenas pela imprensa, fica claro qual o projeto: desvinculação dos serviços de saúde oferecidos pela universidade e da permanência estudantil, demissão voluntária de 3000 funcionários, flexibilização do regime de dedicação exclusiva. Zago e o governo do estado, que lhe dá aval, têm um projeto – fazer com as universidades o que já foi feito com a educação pública em geral. E é claro que isso afeta diretamente a nós, estudantes. Se há piora nas condições de trabalho na universidade, há piora nas condições de estudo.

Para ficarmos apenas em um exemplo, não haverá reposição de professores aposentados, o que implica também em menos disciplinas oferecidas nos cursos. Já temos salas de aula lotadas, dificuldades no acesso à permanência, na obtenção de bolsas, e não podemos retroceder no pouco que temos.

Se a USP chegou à situação financeira que vemos hoje, é porque ainda há muito a ser feito para que cumpra seu papel. Mas se a USP de alguma maneira sobreviveu e sobrevive a esse projeto de sucateamento, é porque o movimento estudantil, de professores e de funcionários sempre respondeu a esses ataques. Não é à toa a frequência das greves em nossa universidade. 

Seguiremos defendendo a educação pública, gratuita e de qualidade e, mais do
que isso, sua expansão.

A solução da crise na USP não passa pelo arrocho, pelo sucateamento e pela precarização.

Um comentário:

  1. os estudantes da usp devem ir no portal da transparencia ver quanto o governo federal repassou para o governo Alckmin e cobrar dele os devidos invedstimentos. ele esta afundando a USP porque sabe que os estudantes nao se curvam diante dele e de sua gang destruidora do patrimonio braisleiro.

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