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sábado, 1 de novembro de 2014

Recado aos #coxinhas do "Sul é meu país": “Não queremos toda a América do Sul de volta”, diz líder Guarani

Divulgação
Em debate sobre situação da demarcação de terras indígenas no Brasil, papel das mulheres nas decisões políticas das tribos é destacado 

Por Bruno Pavan
Da Redação do Brasil de Fato

Aconteceu na noite desta quinta-feira (30) o evento “Kunhague Mbaraete: as mulheres indígenas na luta pela terra”. Realizado na Universidade de São Paulo (USP), o encontro reuniu lideranças femininas das aldeias Tekoha Y’vo, de Guaíra no Paraná, e da Tekoa Tendondé Porã, situada no extremo sul de São Paulo.

Entre as convidadas para o debate estavam as professoras Paulina Martines e Jera Giselda, que participam ativamente das tomadas de decisão de suas tribos. A luta de ambas é comum: ter um pedaço de terra demarcado onde possam plantar, viver e ensinar seus costumes para a próxima geração de seu povo.

Giselda faz parte da liderança desde 2008 e afirma que os homens a receberam bem. Já a vice-liderança dos Tekoha Y’vo reforça que o machismo dentro e fora das aldeias ainda limita a participação das mulheres nesse processo de tomada de decisão.

Crescimento das aldeias


Distante quarenta quilômetros do centro da cidade, a aldeia Tendoné Porã ocupa um espaço de 25 hectares no estremo sul da metrópole. O crescimento da população vivendo ali é considerado seu maior problema, o que reforça a necessidade de uma demarcação definitiva.

“De 20 anos pra cá muita coisa mudou. Lembro quando tínhamos 27 famílias no espaço todo. Hoje temos mais de 180, cerca de mil pessoas. Com isso, você perde muito do que tinha antes, não tem mais espaço para plantar e isso acaba causando inúmeros problemas”, contou Giselda.

No mês de abril, Guaranis das seis aldeias existentes em São Paulo fizeram um ato na Avenida Paulista para cobrar a assinatura da demarcação de terras ao ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. No protesto, mais de mil canetas foram colhidas e enviadas ao seu gabinete em Brasília.

A situação em Guaíra


“Invasão indígena não combina com ordem e progresso”, dizia a placa que estava no centro da cidade de Guaíra, na região oeste do estado do Paraná. Os indígenas que deram nome à cidade não são mais bem-vindos ali.

Inúmeros casos de violência foram registrados contra os índios da cidade como sequestros e assassinatos. Uma índia foi estuprada e recebeu um recado claro: “fala pra Funai que nós vamos acabar com eles”. Em outra situação, um grupo de índios foi baleado quando voltavam de um jogo de futebol.

De acordo a líder Paulina, por ser uma cidade pequena e não viver em uma terra demarcada, os índios têm de usar os mesmo serviços públicos que a população branca e isso acaba reforçando o preconceito. “Nós não somos aceitos na sociedade por sermos indígenas”.

Paulina também explica que já foram propostos inúmeros acordos da Usina de Itaipu com a prefeitura para que fosse construída uma espécie de vila indígena. Os índios, porém, não vão aceitar e pretender aguardar até o laudo antropológico para a definição da demarcação.

“A área poderá ser bem maior ou bem menor do que estamos esperando, mas nós não queremos uma vila, tampouco a América do Sul de volta. Queremos um pedaço de terra para que possamos viver, produzir nosso alimentos e ensinar nossos valores”, finalizou.

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