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domingo, 1 de março de 2015

Descontrole financeiro da gestão do tucano Richa explica crise no Paraná

ESTELITA HASS CARAZZAI DE CURITIBA para a FSP


O tucano Beto Richa assumiu o governo do Paraná em 2011 rodeado por grandes expectativas. Aos 45 anos, havia sido o prefeito mais bem avaliado do país em Curitiba, segundo o Datafolha, e pavimentava caminho para se tornar líder nacional do PSDB.

Porém para adversários e até mesmo aliados ouvidos pela Folha a ânsia de apresentar resultados, aliada à falta de gestão, o levaram a uma grave crise financeira, que agora ameaça o Estado.

Desde seu primeiro ano, seu governo gasta mais do que arrecada. Em 2014, quando Richa foi reeleito, o Paraná teve o segundo maior déficit do país, conforme dados preliminares, e começou 2015 devendo R$ 1,2 bilhão por obras e serviços já realizados.

Servidores estão sem receber o terço de férias desde dezembro. Universidades estaduais ameaçam fechar as portas. Obras foram paralisadas.

"É muito decepcionante. Foi tipo acreditar em Papai Noel", diz a professora Mariza Locateli, que votou em Richa. "A gente achava que ele era a melhor pessoa do mundo. E olhe que situação."

A derrocada fiscal começou com uma prática comum a muitos governos: viver de um "orçamento fictício".

Na lei orçamentária, o governo Richa superestimou receitas e subestimou despesas. À Folha ele disse que se baseou em projeções de crescimento do PIB que não se confirmaram. "A economia se deteriorou, tivemos problemas."

Amparado pela previsão orçamentária, autorizou despesas sem se preocupar se havia dinheiro. Em campanha, prometeu "um novo ritmo de obras". Também aumentou o salário de professores e contratou 10 mil policiais, elevando a folha próximo ao limite máximo previsto em lei.

A alta de receitas, graças ao desempenho da economia local, não foi suficiente. A arrecadação subiu 70% em cinco anos, mas as despesas dobraram. "Foi um erro", avalia um ex-integrante do governo. "Todos sonharam alto e ninguém viu como estava o caixa", completa.

Em 2013, os problemas começaram a aparecer. Com pagamentos atrasados, empreiteiras paralisaram obras.
Editoria de Arte/Folhapress

'PERSEGUIÇÃO'

Richa, diz aliados, não reconheceu a fragilidade: atribuiu a culpa à "perseguição" do governo federal, que demorou para liberar empréstimos que obtivera com órgãos nacionais e internacionais.

O Proinveste foi liberado pelo BNDES a todos os Estados, menos ao Paraná. O acesso aos R$ 816 milhões só foi possível após ordem judicial, em agosto passado, dois anos após a autorização.

O governador nega que o fato tenha servido como bode expiatório para a crise. "Nós fizemos a nossa parte. Reduzimos custeio, cortamos secretarias e comissionados."

Para o governo, a situação melhoraria com os empréstimos –a crise foi empurrada com a barriga. No fim de 2014, ano da reeleição, o caixa estava R$ 1,7 bilhão negativos.

Segundo o cientista político Emerson Cervi, da UFPR (Universidade Federal do Paraná), Richa cometeu "uma barbeiragem administrativa", mas conseguiu preservar a imagem. Venceu no primeiro turno com 55% dos votos.

"Pesou mais a mão do político que do administrador", diz. "A decisão de voto é sempre comparativa. Os oponentes não conseguiram convencer que seriam melhores." Neste ano, um quarto do orçamento foi cortado. Obras estão paradas, servidores, em greve, e há protestos nas ruas.

O governador, que diz ter agido "com sensibilidade", promete situação melhor até o fim do ano –agora, com medidas amargas, como mudanças na Previdência e aumento de impostos.

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