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terça-feira, 3 de março de 2015

Médicos Cubanos dizem estar em casa em Curitiba

Médicos que atuam na Capital contam que já conseguiram se integrar à cidade

no Bem Paraná

A cubana Maria Cristina Benedico Gonzalez, 46 anos, é um dos 11.429 profissionais médicos cubanos cooperados que integram o Programa Mais Médicos, implementado pelo do Ministério da Saúde para ampliar o número de médicos na rede básica de saúde. De natureza expansiva, doutora Maria Cristina, como é conhecida na Unidade de Saúde Atenas, na Cidade Industrial de Curitiba (CIC), diz que sempre se sentiu bem recebida na comunidade. 

“Eu moro a algumas quadras daqui (da unidade de saúde) e, por isso, acabo encontrando com meus pacientes na padaria, no mercado e até na igreja e, desde o começo fui muito bem recebida por todos”, conta.

Passados pouco mais de um ano e meio desde que o programa foi lançado, muita coisa mudou. No início, os primeiros médicos cubanos que desembarcaram no Brasil por meio da parceria com a Organização Panamericana de Saúde (Opas), foram hostilizados pelos médicos brasileiros, que não quiseram aderir ao Mais Médicos.

Hoje, a situação se inverteu, e a última chamada para o Mais Médicos, no começo deste ano, teve a adesão de 92% de médicos brasileiros, que se juntam aos profissionais estrangeiros que já estão no programa.

Outra coisa que atualmente nem se cogita é falar mal dos estrangeiros, especialmente os cubanos. E em Curitiba chegou a ser até mais fácil. “Não tive problema algum para me adaptar”, conta Jorge Luis Gonzales, 47, que atua na Unidade de Saúde São Miguel, também na CIC. “O brasileiro é muito parecido com o cubano, a nossa forma de ser, nossa alimentação são muito parecidas”, conta.

Gonzales é natural da província de Santa Clara, na região central de Cuba. Separado, ele conta que os amigos têm substituído ele no cuidado com os pais. Antes de vir para o Brasil, Gonzales trabalhou dois anos em Botsuana, no sul da África, e em Caracas, na Venezuela. “A cultura de Botsuana é muito diferente da cubana e na Venezuela a violência assustava”, conta. “Aqui não, eu me sinto em casa”, finaliza.

Amigos — Natural Ciego de Ávila, na região oeste de Cuba, Maria Cristina confirma que quase nunca fica em casa. “Como tenho vários compromissos com meu governo dentro do programa, que funciona como uma especialização para nós, às vezes tenho que pedir para que me deixem um pouco sozinha para poder colocar em dia as minhas tarefas”, conta. Formada em 1993, em Cuba, Maria Cristina conta que se especializou em Medicina da Família, onde a formação abrange pediatria, ginecologia, cirurgia geral e clínica geral.

Por conta das amizades que fez em Curitiba, Maria Cristina, que completará um ano de atuação na unidade, revela que já conhece Curitiba por inteiro. “Conheço todos os parque de Curitiba e já me arrisco a sair sozinha”, conta. Além de Curitiba, Maria Cristina que cumpre 8 horas de trabalho, de segunda a sexta-feira, já conhece Morretes, no litoral do Estado, Foz do Iguaçu e também Balneário Camboriu, litoral de Santa Catarina. “Os meus amigos me levam para toda a parte”, diz Maria Cristina sorridente.

Essa rede de amigos, confessa Maria Cristina, ajuda a suportar a saudade da mãe e das filhas, de 23 e 12 anos, que ficaram em Cuba. Ela revela que pelo programa que a contratou terá férias e passagens pagas para voltar ao País. “Mas é uma vez por ano que consigo vê-las”, conta.

Integração — Uma das formas de integrar Maria Cristina à comunidade foi apresenta-la à Pastoral da Visitação, movimento da Igreja Nossa Senhora de Lurdes, conta Noemia Colossi Brustolim, coordenadora da Unidade de Saúde. “Foi a Vera, a nossa auxiliar de enfermagem quem a levou para a Pastoral e, como ela tem uma natureza bastante expansiva, acabou conquistando a todos e rapidamente”, conta. “Hoje ela é disputadíssima por aqui, tanto pelos pacientes no posto, quanto pelos membros da comunidade e do posto, que acabaram se tornando amigos”, diz Noemia.

Tendência — Aparentemente sacramentado, o Programa Mais Médicos agora caminha em nova direção, pelo menos no que se refere aos profissionais. Se antes a classe médica no Brasil torceu o nariz para ele, a tendência que gradativamente os profissionais estrangeiros sejam substituídos por brasileiros conforme for acabando o contrato.

Nas duas primeiras chamadas do Programa Mais Médicos em 2015, 92% das 4.146 vagas ofertadas em 1.294 municípios brasileiros e 12 Distritos Indígenas foram preenchidas por profissionais com CRM Brasil. Os 3.823 médicos começaram as atividades em 1.209 municípios nesta semana. Nos dias 17 e 18 de março, 4.362 inscritos na expansão do Programa poderão selecionar as 318 vagas disponíveis em 218 cidades e 10 Distritos Sanitários Especiais Indígenas (DSEI). No Paraná ainda restam 12 vagas.


FRASES
“Eu moro a algumas quadras daqui (da unidade de saúde) e, por isso, acabo encontrando com meus pacientes na padaria, no mercado e até na igreja e, desde o começo fui muito bem recebida por todos”
da Maria Cristina Benedico Gonzalez, médica cubana que trabalha na Unidade de Saúde Atenas, na CIC

“Lá (em Cuba) nós trabalhamos com a prevenção, por isso temos a formação voltada para o atendimento da família. As pessoas (pacientes da US São Miguel) estranharam a quantidade de perguntas que fazia, mas agora estão mais acostumadas”
do Jorge Luis Gonzales, que atua na Unidade de Saúde São Miguel, na CIC

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