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sexta-feira, 6 de março de 2015

Reinaldo de Almeida César: “O Caveirão do Chorume” [detonando Francischini]

Reinaldo de Almeida César* no Blog do Esmael


Tivesse acontecido no Rio, o GLOBO daria em manchete que deputados chegaram no Caveirão. É assim que o veículo é conhecido por lá. Agora, se houve frouxos intestinais em uma de suas excelências na chegada à Assembleia por aqui, já é outra estória. Ficou para o folclore político nativo.

Não consigo aceitar a tese de que o uso do camburão foi ideia do secretário Francischini.

O secretário é um policial experimentado. Foi tenente da PM, Agente e Delegado da PF. Tem pleno conhecimento que qualquer manual raso, básico mesmo, define as restritas hipóteses de emprego de veículo de transporte de tropas especiais.

O secretário Francischini sabe como poucos manejar as ferramentas do marketing pessoal. Em menos de uma década de vida pública, tornou-se fonte qualificada de jornalistas e até publicou um livro sobre possíveis façanhas de sua carreira policial. Ele é um self made man na política local. Difícil achar no cenário político do Paraná quem tenha melhor senso de oportunidade da notícia.

O uso do Camburāo seria um enorme risco de imagem para o secretário e para os passageiros daquela insensatez.

Deu no que deu. A imagem dos deputados saindo do Camburão ainda custará muito aos nobres parlamentares.

Acho que alguém deve ter vendido a doença para vender o remédio. Pintaram aos ilustres deputados um quadro de terror, o povo ensandecido cortaria cabeças e promoveria empalamentos à luz do dia, em plena praça.

Por outro lado, se desse tudo certo na viagem do Camburão, os ilustres deputados ficariam devendo favores para todo sempre ao patrono da medida, que, além disso, faturaria na mídia. Beleza. O problema é que tinha tudo para dar errado. E deu. Alguém apontou a alça e a massa de mira para o próprio pé. E, dedo leve, acionou o gatilho.

Só quem é da lide democrática, com militância no movimento estudantil, sindical ou social, sabe que há emoção, dinâmica e evolução em movimentos de massa. O Camburão acirrou os ânimos, jogou gasolina na fogueira.

É sofrível ver as imagens do secretário Francischini tomando um safanão na porta do Camburão. O peso dos anos é cruel para todos nós. O secretário visivelmente fora de forma, trôpego, cambaleante, tentando se livrar, correndo para se esconder atrás do cordão policial, para só então, depois e recomposto, aparecer valente ordenando o caminho aos deputados. Parecia um General Radamés, às avessas, em versão bufa.

Não foi boa orientação colocar o secretário no plano tático, conduzindo no local uma operação daquela natureza. Melhor seria o secretário ter coordenado o gabinete de crise, próximo ao perímetro, nas cercanias do teatro de operações, recebendo informações, prospectando e avaliando cenários, tomando decisões, aconselhando o governador. Isto é absolutamente imprescindível para preservar a autoridade e manter íntegro o comando.

A presença e proatividade do secretário em hora e local errado teve um custo alto. Experimente colocar “FRANCISCHINI DANÇOU” no Google ou Youtube. Pode escolher a versão que lhe apetecer, de valsa a funk, passando por um secretário milongueiro, bailando tango.

O secretário sempre sonhou em titularizar a pasta da Segurança. Lutou por isso, da forma como poucos fariam. A temerária operação Camburāo/Caveirão poderia colocar em risco sua permanência no cargo, algo que lhe é tão caro. Afinal de contas, secretário de Segurança, em momentos de crise, é como fusível elétrico. Sacrifica-se para não se perder o todo. Fleury demitiu do cargo de secretário de Segurança, em São Paulo, seu melhor amigo, Pedro Franco de Campos, para se safar do desgaste do Carandiru. Álvaro Dias não teve o mesmo pragmatismo, apiedou-se e manteve Antonio Lopes de Noronha na SESP.

Fleury terminou o governo e se elegeu deputado federal, com grande votação. Álvaro levou mais de uma década para ser novamente vitorioso nas urnas e até hoje, passados trinta anos, o fato ocorrido em seu governo ainda tem recall negativo junto aos professores.

Não consigo, então, conceber ter sido ideia do secretário Francischini esta sandice de colocar deputados no Camburão e tomar a dianteira das ações.

Acho mesmo que alguém, na antevéspera do Carnaval vestiu a fantasia de Erasmo Dias e assim decidiu. São os mistérios insondáveis do governo.

Para saciar nossa curiosidade, algum dia nós saberemos de fato o que ocorreu. Nada, absolutamente nada, fica encoberto para sempre em matéria de governo nas cercanias do Centro Cívico e do São Lourenço. Pode demorar um pouco, mas algum dia o véu é suspenso e a verdade se revela.

*Reinaldo de Almeida César, delegado da Polícia Federal em Curitiba, foi secretário da Segurança Pública do Paraná na primeira gestão do governo Beto Richa. 

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