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terça-feira, 3 de março de 2015

Representação política e interesses particulares na saúde

Mário Scheffer* e Ligia Bahia** na página do CEBES


As empresas de planos de saúde doaram R$ 54,9 milhões para as campanhas de 131 candidatos nas eleições de 2014. O apoio financeiro dos planos de saúde contribuiu para eleger a Presidente da República, três governadores, três senadores, 29 deputados federais e 24 deputados estaduais. Outros 71 candidatos a cargos eletivos receberam doações mas não se elegeram.

A cada nova eleição no Brasil, os planos de saúde aumentam as apostas em candidatos ao Legislativo e Executivo, estendendo-as para políticos das três esferas de governo, de diversos partidos e candidaturas, tanto majoritárias quanto proporcionais.

As eleições de 2014 acentuam tendências que ainda não eram nítidas nos pleitos anteriores. O primeiro destaque é o aumento exponencial do volume de doações – se comparado às eleições de 2002, 2006 e 2010.

Outro movimento que adquire matizes fortes é o comparecimento simultâneo de empresas representativas de segmentos distintos da assistência médica suplementar, sinalizando investimentos em bloco dos interesses dos planos de saúde mais bem posicionadas no mercado: quatro empresas/grupos foram responsáveis por aproximadamente 95% das doações. A empresa Amil foi a maior doadora em 2014. A campanha da candidata à reeleição, Dilma Rousseff, foi a que recebeu mais recursos.

Além de traçar o perfil de doadores e beneficiados, o presente levantamento busca trazer elementos que possam estimular estudos futuros sobre possíveis efeitos de lobbies e interesses particulares na conformação do setor suplementar e na sustentabilidade do Sistema Único de Saúde (SUS) no Brasil.

Para além da saúde, os resultados poderão contribuir com o detalhamento da agenda de pesquisas sobre a reforma política, especificamente nas questões do financiamento democrático de campanhas eleitorais e da necessidade de maior transparência nas relações entre interesses privados, políticas públicas e vida política.



* – Mário Scheffer é professor do Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP).
** – Lígia Bahia é professora do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

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