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sábado, 2 de maio de 2015

Carta de José Richa ao filho

por Célio Martins



Estimado filho

Evitei durante muito tempo escrever para você. Aqui no alto onde estou, eu procuro ficar em paz, longe das disputas políticas aí da terra, mas confesso que nos últimos tempos estou preocupado.

Agora, com a evolução da internet, a gente fica sabendo das coisas instantaneamente. Primeiro chegaram as notícias de que as finanças do Paraná, sob seu governo, estavam quebradas. Fiquei sabendo que o descontrole chegou ao ponto de até faltar gasolina para as viaturas da Polícia Militar.

Depois vieram essas investigações de corrupção na Receita Estadual. Li nos jornais que gente bem próxima de você – um deles foi até seu colega de automobilismo – está envolvida nesse negócio obscuro.

Não dormi por algumas noites, mas não escrevi por que achei que você ainda dispunha de tempo para se redimir com os paranaenses. Na economia, com boas medidas e duro combate aos desvios e desperdícios, é possível colocar o trem nos trilhos. Quanto à corrupção, basta vontade política e que a Justiça não deixe os corruptos impunes.

Mas na última quarta-feira eu não pude mais me conter. Você não deveria ter permitido que a polícia fizesse o que fez com os professores. Você sabe que eu participei do movimento estudantil, que fui presidente da União Paranaense dos Estudantes e que sempre lutei pela educação.

No meu governo eu enfrentei a dura luta dos estudantes e professores pelo ensino gratuito nas universidades, melhores salários e mais recursos para a educação. Em todos os momentos procurei os caminhos da negociação.

Tenho conversado com colegas que vieram para cá, como o Franco Montoro, o Ulysses Guimarães, o Tancredo Neves e o Mário Covas. Eles não entendem como você está rejeitando princípios que tanto nós defendemos. Você sabe que eu estive não só com eles nas lutas pelas eleições diretas, mas também ao lado de outros defensores da democracia e da justiça social, como o Lula e o Brizola.

Não sei se ainda há tempo para você mudar de rumo. Se eu estivesse aí para dar conselhos, eu diria para você se voltar para os programas sociais, se dedicar aos menos favorecidos, cuidar da educação e da saúde da população e trabalhar muito. É preciso acordar bem cedo, como eu fazia – muitas vezes eu acordava às 5 horas da manhã – para se dedicar aos paranaenses, principalmente àqueles que mais precisam do governo.

Agora que eu estou além do bem e do mal, posso ver como esse mundo aí embaixo é injusto. Em países do terceiro mundo, como o Brasil, os governos deveriam se concentrar em projetos e programas para os mais pobres, pela redução das desigualdades, coisa que você não tem feito.

Não se deixe levar pelos oportunistas que se aproximam de você para obter vantagens. Quando você estiver em baixa, eles vão abandoná-lo. Não permita que nem um centavo do dinheiro da população vá para o ralo da corrupção, para os aproveitadores ou para bancar privilégios.

Fique distante nem se envolva em conluios. Não deixe que professores ou quaisquer outros trabalhadores sejam massacrados. Coloque a polícia para garantir a segurança da população, para combater os criminosos, e não para reprimir quem trabalha e ganha a vida honestamente.

Nunca é tarde.

Do seu eterno pai.


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