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segunda-feira, 18 de maio de 2015

Mulher branca que nunca trabalhou compõe perfil de jovem médico em SP

na FSP


Mulher, jovem e branca. Mora com os pais, nunca trabalhou, sempre estudou em escola privada e fez ao menos dois anos de cursinho para entrar na faculdade.

Os pais têm curso superior e ganham acima de dez salários -condição de menos de 3% da população brasileira.

Esse é o perfil dos recém-formados em medicina no Estado de São Paulo, segundo dados inéditos do Cremesp (conselho regional de medicina), extraídos do exame que se tornou obrigatório para quem deseja atuar no Estado.

As informações revelam o que pesquisas anteriores já sinalizavam: quem estuda medicina no Brasil pertence a uma elite muito distante da realidade brasileira em que 60% das pessoas vivem com menos de um salário mínimo.



"Acha que os filhos dessa elite vão querer atender os muito pobres? Trabalhar em periferias ou áreas remotas? Não. Vão querer atender aonde vão ganhar mais", afirma Bráulio Luna Filho, presidente do Cremesp.

Outra pesquisa, publicada em 2013 pelo Instituto Oswaldo Cruz (Fiocruz), corrobora isso: de cada cem formandos em medicina no Brasil, apenas cinco desejavam trabalhar em cidades pequenas.

Só um quinto dos recém-formados queriam atuar em clínica geral, como nos programas de saúde da família.

"A maioria já tem um padrão socioeconômico elevado e quer mantê-lo. Escolhe as especialidades valorizadas pelo mercado, mais ligadas a tecnologias e não a humanidades", diz Daniel Knupp, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade.

Ele informa que 70% das 1.100 vagas de residência em medicina de família ficam ociosas todos os anos por falta de interessados. As vagas equivalem a cerca de 10% do total oferecido em residência médica no país. Em países como Canadá, Holanda e Inglaterra, 40% das vagas são para clínica geral.

Mauro Luiz de Britto Ribeiro, vice-presidente do CFM (Conselho Federal de Medicina), diz que o médico é um profissional "como outro qualquer", atraído por leis do mercado. "Se o governo investisse em políticas que garantissem melhor remuneração e condições de trabalho, haveria mais procura."

Daniel Knupp concorda. "No Brasil, especialistas ganham dez vezes mais do que médicos de família. No Reino Unido, especialistas ganham no máximo 30% a mais."

Os estudos do Cremesp e da Fiocruz mostram que o desejo dos jovens médicos não coincide com o que determinam as novas diretrizes curriculares do ensino médico, com prazo para serem implantadas até o fim de 2018.

Publicadas em junho de 2014, elas sinalizam que os médicos precisarão sair das faculdades mais preparados para atender às necessidades básicas da população do SUS.
Editoria de Arte/Folhapress 


Mas qual o caminho para alcançar isso? Um deles, na avaliação de Luna Filho, é ampliar o ingresso nas escolas médicas de pessoas de outros segmentos sociais.

Programas federais como o Prouni (Programa Universidade para Todos) e o Fies (Fundo de Financiamento Estudantil) vêm possibilitando que estudantes com menor poder aquisitivo façam cursos mais caros, como medicina, mas ainda são minoria.

No estudo do Cremesp, por exemplo, só 25,6% dos recém-formados foram custeados por esses programas.

Para Knupp, outra opção envolveria mudanças na seleção dos interessados em cursar medicina e regulação na oferta de vagas de residência para atender demandas reais do sistema de saúde.

FEMINIZAÇÃO

Na opinião da médica Patrícia Tempski, pesquisadora da Faculdade de Medicina da USP, é preciso um olhar especial para a feminização da medicina, que se consolidou no país a partir de 2008. Hoje, quase 60% dos novos médicos são mulheres.

Essa mudança influenciará o modelo de cuidados de pacientes e a organização da saúde, com vantagens e desvantagens. Entre os pontos positivos está o fato de a mulher preferir especialidades básicas, como pediatria e ginecologia, e discutir mais os tratamentos com pacientes.

Por outro lado, segundo Mario Scheffer, professor da USP, ela tende a fazer cargas horárias menores, ter menos vínculos de trabalho (o homem, além do consultório, tem, em média, três empregos), dificuldades em se fixar em áreas distantes e se aposenta antes.

Um comentário:

  1. Muito infeliz o depoimento do professor Mario Scheffer, generalizar desse jeito o trabalho das mulheres na Medicina. Porque ela tem menos empregos a produtividade não é alta, quer dizer que ter 3 empregos e consultar pacientes em 10 minutos é melhor.Enfim, não é algo que eu vejo sendo a melhor coisa - a qualidade do serviço é melhor do que a quantidade.

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