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terça-feira, 19 de maio de 2015

#PSDBteuPASSADOteCONDENA Durante o reinado de FHC, o presidente do Brasil era o diretor-gerente do FMI, Michel Camdessus.

Agora, sob nova direção


FMI assume política econômica e impõe pesada recessão para conter inflação e queda do real

GUILHERME EVELIN E WLADIMIR GRAMACHO na Isto É em 10.Fev.99
O ministro da Fazenda, Pedro Malan, estava numa posição difícil e seu adversário, Francisco Lopes, tinha fama de ás da sinuca. Ao demitir o presidente do Banco Central (BC) na última semana, deu uma tacada política de mestre. Matou a bola preta e confinou a uma posição defensiva a ala desenvolvimentista do governo, comandada pelo ministro da Saúde, José Serra. Dono da mesa, Malan acabou com o jogo de sinuca e voltou ao velho pôquer monetarista. Dobrou a aposta nas decisões do Fundo Monetário Internacional (FMI), agora em parceria com Armínio Fraga, um de seus antigos pupilos da Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio. Armínio deixou o posto de executivo do megaespeculador George Soros, em Nova York, na segunda-feira 1º o, para assumir o lugar de Lopes no BC e tentar enquadrar o caótico mercado financeiro do País nas novas regras do jogo. O presidente Fernando Henrique mostrou quem o Planalto considera indispensável na condução da política econômica. Na terça 2, o próprio Malan preparou uma recepção de luxo para a missão de alto nível enviada a Brasília pelo FMI, sob a liderança do vice-diretor-gerente, Stanley Fischer. As metas do acordo firmado em 1998 foram renegociadas e ficou selada a liberação de mais US$ 9 bilhões, até março, do socorro financeiro total de US$ 41,5 bilhões. Dois técnicos do Tesouro americano também estiveram em Brasília para acelerar o aval que permitirá a emissão de títulos brasileiros no Exterior. Mas a decisão final depende da recomendação do FMI. Por tudo isso, o governo brasileiro aceitou a contrapartida exigida pelo Fundo. Os juros continuarão altos durante o primeiro semestre e um novo aperto será dado nas engrenagens do ajuste fiscal. Haverá aumento de impostos, mais cortes no Orçamento e milhares de funcionários públicos serão demitidos para produzir uma economia adicional de algo entre R$ 4 bilhões e R$ 8 bilhões até o final do ano, além dos R$ 24 bilhões já acertados. O pior efeito: a recessão e a escalada do desemprego serão inevitáveis.

Além do funcionalismo, o cidadão comum também sofrerá na pele os efeitos da ortodoxia do FMI. Os cortes de gastos já estão sendo preparados pelo Ministério do Orçamento: vão atingir a área social, as emendas de parlamentares e o que resta de investimentos. Do lado das receitas, devem ser elevadas as alíquotas do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) e do Imposto sobre Exportações, o que dividiria com o Tesouro o lucro que os exportadores brasileiros estão obtendo com a desvalorização do real. Os produtos importados também estão na mira da Receita e poderão ser taxados, ficando ainda mais caros. A intenção é reforçar o caixa e incentivar o equilíbrio da balança comercial. Está descartada a hipótese de privatização da Petrobras, do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal. Fernando Henrique não gosta da idéia e a proposta não passaria no Congresso. O impacto das medidas fiscais encolherá a economia brasileira – o próprio governo admite que o Produto Interno Bruto (PIB) pode cair até 3,5%. E a inflação, que não deveria ir além dos 10% em 1999, segundo os planos iniciais de Malan, agora já pode alcançar os 20%, conforme projeções feitas pela cúpula do Ministério da Fazenda.
Também foi o polêmico monitoramento do FMI que ajudou a implodir Chico Lopes, o mais efêmero dos presidentes na história do BC (não chegou a tomar posse e ficou apenas 20 dias no cargo, como interino). Ele já começara a cair no seu dia de estréia com o fracasso da "banda de juros diagonal com movimento endógeno". Mas foi em Washington, no primeiro final de semana após sua indicação, que selou seu fim. Enquanto o ministro ouvia placidamente a bronca do FMI, o ex-presidente do BC dava as costas para gente influente como Teresa Terminassian, vice-diretora do Departamento para o Hemisfério Ocidental. A azeda economista do FMI queria acabar com o Comitê de Política Monetária (Copom), obra maior de Chico Lopes no BC. "Ele virou a cara e deixou-a falando sozinha", conta um ex-assessor. O diretor-gerente do FMI, Michel Camdessus, também falou duro e tentou obrigar a missão brasileira a realizar uma reunião telefônica para aumentar as taxas de juros já na noite do domingo 17. Nova peitada. A elevação só ocorreu depois que Lopes voltou a Brasília, obedecendo ao ritual do Copom.
Armadilha Irritado, logo que retornou a Brasília, Malan tentou adiar a sabatina de Lopes no Senado e trouxe Armínio Fraga para encontros com FHC e com o presidente do Congresso, Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA). Com a corrida aos bancos da sexta-feira 29, conseguiu o argumento que faltava para derrubar o adversário. Às 9 horas da manhã, Lopes já tinha preparado o plano de intervenção no mercado de câmbio para segurar o dólar. Mas Malan mandou esperar a orientação do FMI e tirou o BC do mercado. Resultado: o dólar bateu em R$ 2,15 e Lopes consolidou a pecha de acadêmico inoperante. Fernando Henrique desabafou com assessores: "O mercado perdeu o medo do BC." Na tarde de sábado 30, Malan foi ao Alvorada exigir a demissão de Chico Lopes. FHC telefonou para Armínio Fraga em Nova York e disse que precisava dele imediatamente. O economista aceitou. O telefone da casa de Lopes, no Rio, tocou só na noite do dia seguinte. Era Malan sugerindo que ambos entregassem seus cargos para que o presidente ficasse "à vontade" e definisse o novo rumo da política econômica. Tudo jogo de cena. Lopes chegou a Brasília na segunda-feira 1º e, à tarde, teve um encontro com FHC: saiu de lá convicto de que Malan estava caindo. O ex-presidente do BC só percebeu que ele é que estava sendo demitido à noite, em novo encontro com o presidente, Malan e o ministro-chefe da Casa Civil, Clóvis Carvalho. "O que você acha de Armínio Fraga para a presidência do BC?", perguntou friamente FHC. "Acho ótimo, presidente", respondeu um atônito Chico. Ao final do encontro, Malan convidou Lopes para um café da manhã no dia seguinte. "Obrigado, mas vou escolher melhor meus amigos", devolveu. Malan acabou tomando café com o "amigo" ACM.
O ritual maquiavélico horrorizou o BC. "Antes eram todos companheiros e agora não param de brigar", lamentou Demósthenes Madureira de Pinho Neto, diretor de Assuntos Internacionais, que está de saída. O próprio Lopes preferiu reagir com ironia: fez questão de ser fotografado comendo um "churrasco" e alugando o filme Advogado do diabo. A crueldade do episódio, porém, tornou transparente o até então menosprezado apetite de Malan pelo poder. Mas toda essa habilidade pode ser inútil se a política econômica resultar no mesmo fiasco experimentado por outros países que seguiram à risca a bula do FMI. A chamada ala desenvolvimentista não desistiu de derrubá-lo, assim que a tempestade amainar. "Malan não fica no governo até o final do ano", aposta um tucano próximo a FHC. A vinculação com ACM e a sustentação oferecida pela crise e o FMI sugerem a Malan muita cautela a partir de agora.
Colaboraram: Isabela Abdala (DF), László Varga e Maria Fernanda Delmas (SP)
  
A CARTILHA
As mudanças no acordo que vai nortear a economia brasileira
Superávit primário Em outubro passado, previa-se que o saldo entre receitas e despesas para 1999, sem considerar os gastos com juros, seria equivalente a 2,6% do PIB, ou seja, deveriam sobrar nos cofres cerca de R$ 23 bilhões. A nova meta será entre 3% e 3,5%, o que exige uma economia maior: entre R$ 27 bilhões e R$ 31 bilhões.
Inflação Antes da desvalorização foi estipulado que a alta dos preços não deveria ultrapassar 2% em 1999. Agora negocia-se uma meta abaixo dos 10%. Para tanto, será necessário estabilizar o dólar entre R$ 1,50 e R$ 1,60. Mas admite-se uma inflação de 20% para o ano.
Recessão O governo não tem interesse em colocar no papel um número real de estimativa de queda do PIB (que soma cerca de US$ 900 bilhões). Por enquanto, admite que cairá mais de 1%. Para o Ipea, braço técnico do Planejamento, a redução pode chegar a 4% só no primeiro semestre.
O GARROTEJuros Vão permanecer nas alturas para ajudar a estabilizar o dólar numa cotação menor e segurar a inflação. O mercado financeiro projeta taxa de 53,83% ao ano para abril.
O EFEITO CRUEL
Desemprego A forte recessão vai gerar demissões. A CUT usou a metodologia do Dieese para prever que a taxa de desemprego na Grande São Paulo poderá chegar a 25%, ou seja, cerca de dois milhões de trabalhadores.
"O preço é uma recessão cavalar"

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