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quinta-feira, 7 de maio de 2015

Quatro em cada cinco pacientes não precisariam ir a emergências em Curitiba

Nas redes pública e particular, 80% dos pacientes que seguem hospitais e UPAs não são casos emergenciais


no Bem Paraná


Na imensa sala de espera de um hospital particular de Curitiba, é fácil notar crianças doentes que pulam e correm e adultos conversando animados enquanto esperam na longa fila do pronto-atendimento, que chega a demorar três horas em fins de semana. Basta uma hora em uma das Unidades de Pronto Atendimento (UPA) de Curitiba, mantidas pela Prefeitura de Curitiba e pelo Sistema Único de Saúde (SUS), para também notar que são poucos os pacientes em estado grave. Tanto na rede pública quanto na privada, cerca de 80% dos pacientes que seguem para o pronto-atendimento não precisariam estar lá, simplesmente porque os casos deles não configuram emergência médica. A “cultura” de seguir para o atendimento rápido por qualquer sintoma prejudica e muito funcionamento do sistema de saúde para quem realmente precisa de um auxílio médico emergencial. O que era para ser pronto-socorro se tornou um grande ambulatório.

O superintendente de Gestão de Atenção à Saúde, Cesar Titton, vai ainda mais longe. Na opinião dele, a ida ao pronto-atendimento para um caso não emergencial prejudica o próprio paciente, porque lá haverá medida paliativa e não investigação do caso. “Quem vai com uma gripe forte na UPA, ficará horas esperando, porque não é caso urgente, e terá tratamento para aquela enfermidade sem saber a causa dela. Se a pessoa com sintoma de gripe buscasse uma das 109 unidades de saúde básica espalhadas por Curitiba, teria uma equipe acompanhando, investigando se não é alergia, asma, resultado do tabagismo”, explica Titton. “É preciso mudar o comportamento de buscas. Quando vão ao pronto-atendimento, os pacientes acham que estão resolvendo tudo em um lugar só, mas não estão”. Na opinião dele, é preciso uma revolução no comportamento de saúde da população. “Nós fazemos campanhas e os profissionais costumam orientar os pacientes sobre a diferença entre a consulta ambulatorial e a de emergência, mas a pressa e a falta de informação acabam predominando”.

Diante de tanta fila, as equipes na UPA precisam de desdobrar para diferenciar os casos graves dos casos não graves na triagem. “Muitas vezes quem está na fila por uma dor não aguda na perna não entende que o senhor que parece bem está com a pressão alta e precisa ser passado na frente”, diz Titton. Por isso, o acolhimento ou triagem na UPA é o momento mais importante do atendimento na emergência. É ali que os profissionais de saúde vão organizar o atendimento, avaliar o risco e classificar a urgência ou emergência. “O paciente que está vomitando sem parar o dia todo, com presença de sangue é bem diferente do caso do paciente que vomitou pela manhã e no momento está bem”, explica Titton. Segundo ele, a classificação do risco às vezes erra para mais: “Um paciente com dor aguda no abdome pode ser apendicite aguda, mas somente gases. Ficamos com apendicite e colocamos ele na prioridade”, afirma o superintendente.

O método de classificação de risco Manchester por cores foi implantado nas unidades de saúde de Curitiba em 2011 e é usado na maioria dos hospitais. É validado pelo Ministério da Saúde e segue as recomendações sobre a Política de Humanização do Sistema Único de Saúde (SUS)
Nas unidades de pronto atendimento (UPAs) houve melhora em um indicador de satisfação dos usuários: as reclamações caíram 12% em 2014 em relação ao registrado no ano anterior. Entre outros fatores, a secretaria de Saúde aponta a ampliação do horário de dez unidades de saúde, que passaram a operar até as 22 horas, possibilitou a diminuição da procura pelas UPAs, 24 horas, que precisam ter foco de atendimento nas urgências e emergências.

Balanço

806 mil
atendimentos médicos de clínico geral foram feitos nas nove unidades de pronto-atendimento de Curitiba no ano passado.

290 mil
atendimentos pediátricos foram feitos nas nove unidades de pronto-atendimento em, 2014, segundo dados da secretaria municipal de Saúde

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