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sábado, 9 de maio de 2015

[Que sociedade é esta em que vivemos???] "A sensação que fica é de desrespeito", diz técnica do Samu sobre motorista que moveu ambulância

Indignados com engarrafamento, motoristas invadiram viatura que ocupava faixa de trânsito no bairro Bom Fim

no Zero Hora


Em atendimentos de urgência, uma ambulância tem prioridade de circulação e estacionamento. Não é apenas bom senso: está previsto no Código de Trânsito Brasileiro (CTB), desrespeitado na noite de quarta-feira por dois motoristas em Porto Alegre. Ao invadir o veículo de socorro que bloqueava a Rua Fernandes Vieira, no bairro Bom Fim, e o deslocar por 200 metros, a dupla arrastou consigo a incredulidade de alguns — mas também o apoio de outros.

O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) socorria uma senhora 83 anos com histórico de problemas cardíacos e um quadro de alteração de pressão e vertigem em um apartamento. Quando o veículo chegou ao local, não havia onde estacionar, relata a assessora técnica da Coordenação Municipal de Urgência, Elcilene Durgante. Assim, motorista e técnico em enfermagem deixaram o veículo em frente ao prédio da idosa com os sinais luminosos ligados, exigência da lei de trânsito, para evidenciar que estavam em serviço.

— A sensação que fica é de desrespeito. A ambulância só parou naquele local e naquela forma porque estavam tentando salvar a vida de um ser humano —, desabafa Elcilene. Segundo ela, a prioridade do Samu é a agilidade no atendimento à vítima.

— O Samu, assim como os demais serviços de urgência, tem como missão primordial garantir o direito fundamental à vida. Temos uma questão que se chama tempo resposta. O tempo levado para chegar até o paciente vai me dizer qual a qualidade e chance de sobrevida dessa pessoa. Em uma situação como essa, não se pode ficar procurando uma vaga para estacionar — aponta Elcilene.

Os socorristas que atendiam à ocorrência se surpreenderam ao não encontrarem o veículo onde haviam deixado ao término do atendimento.

— Se fosse com um familiar deles, não teriam feito isso — disse um deles.Caso necessário, o deslocamento da ambulância poderia ter comprometido a transferência da vítima, por exemplo. Havia orientação do médico regulador, inclusive, de que a senhora fosse levada a um hospital, mas a própria família optou por procurar atendimento com o médico de referência — o que acabou por evitar um transtorno ainda maior.

O diretor-presidente da Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC), Vanderlei Cappellari, reforça que não houve qualquer falha do motorista da ambulância. A orientação é que se minimize os impactos no trânsito em casos de emergência. O socorrista, porém, tem autonomia para estacionar o veículo no local mais seguro e mais acessível à prestação do atendimento.

— A emergência supera qualquer deslocamento. O senso de analisar o cenário do atendimento faz parte, inclusive, do próprio treinamento do socorrista e do motorista de ambulância — esclarece Cappellari.

O especialista em educação e segurança no trânsito Eduardo Biavati, mestre em Sociologia pela Universidade de Brasília (UnB), classifica o episódio como "inédito" e um sintoma do que chama de despertencimento: as pessoas não se veem mais em comunidade, enquanto, na contramão, impera o individualismo.

— Nos últimos tempos, tem se repetido bastante esses episódios de limite do comportamento, do compartilhamento do espaço. A prioridade sempre deveria ser de qualquer veículo de resgate, mesmo em uma situação que, momentaneamente, prejudique a circulação dos demais

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