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terça-feira, 21 de julho de 2015

Meu sonho é que um dia o brasileiro tenha orgulho do SUS, diz Chioro

Ministro da Saúde afirma que é impossível garantir universalidade e integralidade mantendo padrão de gastos de subfinanciamento

no site da TV Cultura


O ministro da Saúde, Arthur Chioro, abre o Roda Viva desta segunda-feira (20) dizendo que o Sistema Único de Saúde (SUS) obteve vários avanços em seus 27 anos de existência. “O SUS foi capaz de fazer uma grande mudança na morbidade, nas doenças, na transição nutricional; é o único país do mundo que aceitou um sistema de saúde universal”, defende, acrescentando que a Organização Mundial de Saúde (OMS) classifica o SUS como um modelo.

Ao explicar que o sistema obriga o governo a garantir universalidade e integralidade de serviços, que vão da vacina ao transplante, lamenta que o SUS viva "com subfinanciamento”. O ministro compara o Reino Unido, que também conta com um sistema universal, que tem um gasto por habitante/ano de US$ 3.000, ao Brasil, que gasta US$ 525 por habitante/ano. “É impossível garantir universalidade e integralidade mantendo esse padrão de gastos de subfinanciamento; vamos precisar fazer esse debate com a sociedade brasileira”, completa.

Gargalos

Ao longo da sabatina, Chioro analisa os principais gargalos do SUS, mas enfatiza que o maior deles é o das consultas de média complexidade, que já pode ser enfrentado pelas atuais 128,240 mil equipes do Programa Mais Médicos e das 39 mil do Saúde da Família. O ministro adianta que, com o lançamento do Programa Mais Especialidades, serão diminuídas as dificuldades de acesso aos especialistas. Segundo ele, um compromisso da presidente Dilma é que esse programa seja implementado com recursos novos, do Orçamento Geral da União. “A ideia não é começar por todas as especialidades ao mesmo tempo; fizemos estudos para identificar aquelas com maiores dificuldades de acesso”, diz.

Para o ministro, o Brasil precisa, mesmo, é discutir como tornar sustentável seu sistema de saúde. E insiste no diálogo. “O SUS é um valor para todo mundo? Precisamos discutir isso com a sociedade; se não fizermos isso, levando em conta o envelhecimento da população, a mudança no perfil de doenças, a incorporação tecnológica, como vamos buscar sustentabilidade?”, pergunta, acrescentando que quando a Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF) foi extinta, ceifou R$ 40 bilhões. “Se continuasse, teríamos acumulado mais de R$ 350 bilhões”. Chioro lembra que o Conselho Nacional de Saúde estuda outras fontes de financiamento para o setor, como a taxação de grandes fortunas, a contribbuição social e a taxação sobre o cigarro, entre outras.

Orgulho do SUS

Em relação à expansão dos cursos de medicina, o ministro explica que ainda faltam médicos no país e que as escolas têm poucas vagas. Mas que, a partir do Mais Médicos, em 2013, “conseguimos ter mais vagas no interior do que nas capitais”. Ao comentar o fim do primeiro contrato do programa, no ano que vem, Chioro lembra que esses profissionais poderão renovar por mais três anos. "Tivemos um fenômeno novo neste ano: das 4.290 vagas oferecidas, 100% foram preenchidas por médicos brasileiros; a tendência é que, até 2026, tenhamos cada vez mais médicos brasileiros atendendo”, argumenta.

Durante o programa, Chioro comenta a regulação dos planos de saúde e a criação da divisão de crimes de saúde da Polícia Federal (PF). Diz que é uma tendência mundial, pois a área conta com uma forte especulação econômica. O ministro diz que há verdadeiras máfias na área privada. Ao ser questionado sobre os 61% de brasileiros que se dizem insatisfeitos com o SUS, diz que o país já avançou muito. Diz que seu sonho é que, um dia, o país tenha o mesmo orgulho do SUS que os ingleses tem de seu sistema nacional de saúde. "De forma alguma, desconsiderar a percepção da população brasileira, mas transformar essa visão que ela tem no fator de mobilização pra gente superar esse movimento que a gente vive e de fato ter um SUS à altura da dignidade da população brasileira”, completa. 

A bancada de entrevistadores desta edição do Roda Viva é formada por Paulo Saldiva, médico patologista especialista em poluição e doenças respiratórias; Miguel Srougi, professor titular de urologia da Faculdade de Medicina da USP; Cristiane Segatto, repórter especial da revista Época e colunista de saúde da Época Online; Claudia Collucci, repórter especial do Jornal Folha de São Paulo; e Fabiana Cambricoli, repórter do jornal O Estado de S. Paulo. O programa conta com a participação fixa do cartunista Paulo Caruso.

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