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sábado, 26 de setembro de 2015

"Eu sou ministro da Saúde, não me demitam" , diz Chioro a jornalistas

no Valor


Em meio à reforma administrativa em elaboração pela presidente Dilma Rouseff, que deve repassar o comando do ministério para o PMDB, o ministro da Saúde, Arthur Chioro, disse nesta quinta-feira não se sentir “rifado” no cargo, negou ter tratado do assunto com a própria presidente Dilma e afirmou que o cargo não lhe pertence. 

O ministro disse que não comentaria a perspectiva de o PMDB assumir o comando do ministério, um dos maiores detentores de recursos e apelo social, retirando-o do PT. 

“O cargo não é meu. Quem tem cargo é presidente, deputado e senador. Qualquer outro agente público é por delegação”, disse o ministro. “Eu sou ministro da Saúde, não me demitam”, acrescentou Chioro, dirigindo-se aos jornalistas, após reunião na sede da Opas em Brasília. 

O ministro também evitou comentar a iniciativa proposta pela presidente Dilma de instituir o retorno da CPMF para financiar a Previdência Social, depois recuar na proposta de recriação do imposto para destinar mais recursos para a saúde. 

Questionado sobre o tom duro com que abordou, durante o encontro, a dificuldade orçamentária do ministério para o próximo ano, Chioro afirmou que se tratava de uma reunião técnica, que ocorre todo mês. “É o espaço de pactuação do SUS [essa reunião], eu não poderia deixar de conversar, o tema era esse, pautado no mês passado”, disse o ministro. Em sua fala, Chioro chegou a dizer que o ministério não teve “situação similar” em toda a história do Sistema Único de Saúde (SUS), do ponto de vista orçamentário e financeiro. 

Sarampo e despedida 

Chioro ensaiou nesta quinta-feira um discurso de despedida emocionado ao anunciar a erradicação do sarampo no Ceará, após um surto no Estado que preocupou autoridades da América Latina. 

Chioro chegou pouco depois das 9h à sede da Organização Panamericana de Saúde (Opas), em Brasília, junto com o governador do Ceará, Camilo Santana (PT). 

Ao cumprimentar a reportagem, Chioro evitou responder se estava tudo bem e manteve-se sério, desfazendo o sorriso que vinha mantendo ao cumprimentar os demais presentes. O ministro foi aplaudido ao adentrar o auditório da sede da Opas em Brasília. 

“Pode parecer palavra feita, chavão, mas não tenho palavras para poder definir o que significa na vida, na alma, no coração e acima de tudo das lembranças dos momentos que a gente constrói na vida, o que significa a atitude que vocês acabaram de manifestar na minha chegada à sede da Opas hoje”, disse o ministro ao encerrar seu discurso, aplaudido novamente de pé pelo auditório. 

“Quero fazer um enorme agradecimento. Não é momento de balanço, não é momento de nada. A gente continua firmes e fortes. No momento devido, a gente pretende se pronunciar sobre todas essas coisas, mas eu só quero registrar aqui meu profundo agradecimento e dizer que o que nos mobiliza é a luta por um sistema público de saúde de qualidade, universal e integral”, completou. 

Chioro se referia à angústia externada pelo governador do Ceará, que discursara pouco antes do ministro. “Estou feliz, mas ao mesmo tempo angustiado por essas notícias de que poderão haver mudanças no Ministério da Saúde. Acho que é um momento de muita indefinição, um pouco de angústia, sobre como será o futuro, mas não tenho dúvida de que com a equipe do ministério e os secretaria de saúde vamos continuar”, disse o governador. 

“Vou sair daqui para a Presidência, inclusive para tentar saber o que vai acontecer com a saúde. Parabéns, a vida continua, e o seu trabalho também”, acrescentou Camilo Santana. Ao se referir a Chioro, o governador o classificou como “grande técnico”, “grande homem” e “sensível”. 

Embora tenha evitado demostrar expressamente que está de saída do cargo, Chioro se emocionou em diversos momentos da reunião, sobretudo quando era cumprimentado pelos presentes, e apresentou uma breve relação de pendências do ministério que deverão ser solucionadas no curto prazo, como em uma prestação de contas. Em sua saída da reunião, o ministro procurou disfarçar que estava contendo as lágrimas e falou em uma “vontade de espirrar” incontrolável. 

Ao Valor PRO, serviço de informação em tempo real do Valor, Chioro se disse preocupado com a decisão da presidente Dilma Rousseff em prever o redirecionamento de emendas parlamentares para a área da saúde como forma de compensar os cortes no orçamento. “Achei muito preocupante, porque isso significa que não tem garantia de cobertura das ações regulares, dos compromissos de transferência de recursos. É uma equação que pode não fechar, é muito pouco provável que ela feche”, disse.

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