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domingo, 13 de setembro de 2015

Roupa suja na Cruz Vermelha em Curitiba

na coluna do Celso Nascimento na GP

Diz o velho ditado que “roupa suja se lava em casa”. Talvez tenha sido em razão desta sabedoria popular que o Ministério Público Estadual se interessou em saber porque o Hospital da Cruz Vermelha, situado em Curitiba, manda suas roupas de cama para a Lavanderia L’Acqua, de Ponta Grossa, a 100 quilômetros de distância.

A curiosidade do MP aumentou quando, compulsando os documentos, o procurador Rodrigo Chemin Guimarães constatou que a quantidade de roupas que o hospital manda lavar fora é absurda – 28 toneladas por mês a mais do que o “Manual de Lavanderia Hospitalar” do ministério da Saúde considera normal.

A denúncia sobre esta suposta irregularidade não era nova. Ela já fazia parte de um rol de suspeitas que começaram a ser apuradas em janeiro de 2014. O inquérito caiu na mão da promotora Karina Cordeiro, que, após um ano de investigações, não notou esta e nenhuma outra irregularidade na gestão do hospital, presidida pelo médico Jerônimo Fortunato.

O relatório da promotora simplesmente aceitou como válidas todas as explicações que à época recebeu de Fortunato. Como eram estranhas e inconsistentes as conclusões do relatório de Karina, os denunciantes pediram que o caso fosse reexaminado pelo Conselho Superior do Ministério Público.

Designado relator, o procurador Chemin foi a fundo e não só apontou as falhas da primeira investigação como, no fim do mês passado, pediu que o inquérito fosse reaberto e que um outro promotor fosse nomeado para conduzi-lo.

Afora a longa viagem para lavar roupas em quantidades anormais, outras irregularidades constam das denúncias agora em fase de reapuração pelo MP. A mais grave delas diz respeito a pagamentos feitos pela Cruz Vermelha à empresa S. Scardoa & G. Taborda Ltda (que usa o nome de fantasia CV-Cor), na qual Fortunato é sócio-gerente e dono de 97% do capital. O endereço desta empresa era inicialmente um terreno baldio num distante bairro de Curitiba, alterado posteriormente para o da própria sede da Cruz Vermelha, na Vicente Machado.

Equipamentos de alto custo teriam sido comprados com verbas do hospital, mas disponibilizados para (lucrativo) uso particular. Caso, por exemplo, de uma máquina de litotripsia (usada para quebrar cálculos renais), embora pacientes que dela precisam sejam orientados a procurar uma clínica particular situada em frente ao hospital. Outros aparelhos, provavelmente de propriedade da CVB, teriam sido entregues à exploração comercial a médicos que também fazem parte da diretoria da Cruz Vermelha. Sem contar que uma irmã do presidente dirige a farmácia e o laboratório de análises clínicas, apesar de fazer parte do conselho gestor da entidade.

O procurador Rodrigo Chemin Guimarães aproveitou para ver a legislação que regulamenta o funcionamento de entidades filantrópicas, assim regimentos e estatutos da própria Cruz Vermelha – uma respeitada instituição internacional, sem fins lucrativos – e encontrou leis e normas que estariam sendo desobedecidas pela direção da filial paranaense. O decreto federal 3100/99, por exemplo, proíbe que dirigentes dessas instituições, assim como cônjuges, companheiros e parentes colaterais percebam salários, vantagens ou benefícios. Dispositivos com as mesmas limitações fazem parte também dos ditames estatutários da Cruz Vermelha. O que não impediu o presidente Fortunato de se declarar dono dos serviços de ecografia.

Jerônimo Fortunato foi procurado pela coluna na tarde de sexta-feira (11) para ser ouvido. Como não se encontrava no gabinete da presidência, sua secretária (Tatiane) anotou os motivos da ligação e números de telefone para o eventual retorno – o que não aconteceu.

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