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quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Destacando comentário impactante no post anterior sobre experiências no parto


sou neli susin, cirurgião dentista clinicando desde 1976, nasci de parto de cócoras, com parteira popular assistindo minha mãe em casa, em dezembro de 1950. 
Minha avó paterna morreu no parto de seu quarto filho e carregava comigo o medo do parto até a minha primeira gestação em 1973. 
Uma senhora da banca de revistas em frente aonde morava na época, na semana do vai e vem até o hospital me disse: "Para que ter medo? Se fosse assim tão difícil, a humanidade não estava desse tamanho" e riu. 
Aquela frase me fez acreditar em mim e o médico que me seguia, também dizia: "Gravidez não é doença; é só um estado, um período". 
Tive 3 gestações levadas a termo, a última gemelar. Não tive nenhum aborto. Todas foram com parto normal e isso foi conseguido por muito esforço pessoal, por acreditar que assim seria possível e mantendo a calma necessária para convencer a equipe, sobretudo no parto gemelar. 
Trabalhei com uma equipe multidisciplinar de preparação para o parto durante muitos anos quando voltei do pós doutorado no Canadá em 1998. 
Ouvi todo tipo de relato, mas o que mais me impressionou, o que realmente me deu a força que ainda carrego, foi o de uma gestante que conheci no Hospital Getúlio Vargas em 1983. 
Ela relatou que seria necessário uma cesária para seu filho nascer. No entanto, ela não dispunha de dinheiro para pagar o anestesista, que na época tinha que ser pago mesmo no sistema INSS. Aí ela se arrastou até a Santa Casa e disse que ninguém lhe estendeu a mão. 
A Santa Casa fica uns quinhentos metros de distância. 
Quando chegou lá, estava suada, fedida e lhe puseram numa chuveirada gelada. O choque, o desespero, o esforço dispensado para se locomover, produziram o desencadear do parto. 
Seu filho nasceu de parto natural. 
Eu estava, quando escutei esse relato, no meio da minha gestação gemelar. 
No dia em que minhas filhas gêmeas nasceram, quando aconteceu o rompimento natural d'água eu estava em casa. 
Fui caminhando até o Hospital de Clínicas, distante duzentos metros da residência. Chegando lá, queriam imediatamente fazer cesária e pedi que aguardassem. 
Caminhei pelos corredores da maternidade com soro, o dia todo, vendo que as adolescentes de 12, 13, 14, pariam. 
Eu com meus trinta e três, era a velha. Quando não aguentei mais aceitei a cesária, só que precisavam de alguém da família que autorizasse. 
Bendita burocracia de cada época. 
Meu marido estava fora do lugar habitual, seu trabalho na universidade. As filhas maiores na casa de uma amiga e o desespero veio. 
Quando meu marido chegou e entrou na sala de parto, Ana e Lia já estavam nascendo, de parto natural, com seis minutos de intervalo. 
A medicalização do parto, sobretudo anestesia raquidiana, na maioria absoluta das vezes um ato médico desnecessário e complicador, impede que a gestante escute seu corpo e participe ativamente. 
Espero ter contribuído e estou aberta para diálogos.

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