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quarta-feira, 6 de abril de 2016

"Macunaíma me assegurou que quando o povo dança na rua é porque não vai ter arrego"

por Marcius Cortez (reproduzido no FB do Palmério Dória)


Vai ter ou não vai ter?

De um lado, uma multidão de brasileiros vestindo verde-amarelo e xingando os petralhas e a corrupção do Governo Federal. 

De outro, uma multidão de brasileiros vestindo vermelho e gritando palavras de ordem contra os coxinhas e contra o impeachment da Presidenta Dilma. 

A disputa que tomou conta do país é filha de dois fatos novos. Os revoltosos on-line munidos de seus pixulecos e de seus patos ocuparam as avenidas Paulistas do Brasil. Enquanto que a “cambada comunista”, mesmo ainda muito “festiva”, ganhou fôlego na rabeira do avanço dos movimentos sociais. 

Boa coisa não vai sair desse confronto. Mas há uma diferença que, no momento, está pesando no desenrolar dos acontecimentos. Um lado possui um líder e o outro carece de um porta-voz, de um ideólogo. Aécio Neves e o Governador do Estado de São Paulo tentaram falar numa grande manifestação organizada pelos coxinhas, mas foram escorraçados aos gritos de “oportunista”, “vagabundo”, “ladrão de merenda”. 

A novidade mais desconcertante da última semana foi a divulgação de uma pesquisa que apontava que 56% da população não quer o impeachment da Presidenta. Por certo, os comentaristas políticos independentes saberão explicar as razões dessa reviravolta. 

No Congresso, as previsões para a aprovação da “deposição constitucional” de Dilma Rousseff já foram mais otimistas. Embora não podemos de deixar de levar em conta o fator mala. O fator mala foi essencial para o sucesso do Golpe de 64, pois assim que o ex-ministro da Guerra General Amaury Kruel pôs a mão nos dólares das seis malas da Fiesp, Auro Moura Andrade, o golpista e primeiro mandatário da Câmara de Deputados, declarou vago o cargo de Presidente da República mesmo com João Goulart ainda em solo brasileiro. 

No Supremo Tribunal Federal, se o imbróglio chegar até lá, o caldo entorna para os golpistas após a surra de 7 a 2 que o consagrado autor de “O Moro dos Ventos Uivantes” levou na semana passada. O doutorzinho que arquivou o caso Banestado podia ter passado sem o puxão de orelhas de Teori Zavaski: “comprometeu o direito fundamental da garantia do sigilo que tem acento constitucional”. 

Mais do que depressa, o Imperador da República de Curitiba chamou o cinegrafista e mostrou para o país a sua nova bala de prata: o velho caso Celso Daniel. Outro equívoco, pois quando só dava Celso Daniel no noticiário, no auge da patifaria, o jararaca emplacou mais uma de suas vitórias nas urnas. 

No entanto, não descarto que vem bomba por aí: as arapucas do Cunha, o patrulhamento dos jagunços de Skaf, a cobertura “imparcial” do pig, os golpes baixos do traíra Temer, os vazamentos dos “republicanos” da Polícia Federal, o partidarismo de Gilmar Mendes, tudo é possível no solo árido da esquizofrenia política.

De qualquer maneira, vou deixar gravado aqui o meu palpite. O “empítima” subiu no telhado. Estou com esse pensamento desde o comício do Lula na Avenida Paulista no dia 18 de março. 

Fiquei sabendo que a tevê Globo não transmitiu a fala do ex-Presidente. É grave, simplesmente a vênus platinada não reproduziu um trecho sequer do discurso do sapo barbudo em seus telejornais. “Mais importante do que a Globo diz é o que ela não diz”, lembrei-me dessa sentença atribuída ao falecido Dr. Roberto Marinho. 

Traduzindo para o momento atual isso significa que a Rede Bobo está assustada com a repercussão de seus escândalos: crime de sonegação, lavagem de dinheiro, paraísos fiscais, Mossack Fonseca, Panamá Papers, CBF/Fifa, o tríplex em Paraty construído em área de preservação ambiental (Mata Atlântica), sem falar no boicote levado a cabo pela sociedade civil contra os produtos e os serviços dos principais anunciantes da emissora. 

Me baseio também em outro fato cem por cento científico, um dado puramente antropológico. Na Jornada Democrática da quinta-feira passada, na Praça da Sé, marco zero da cidade de São Paulo, a multidão dançou abraçada. Trabalhadores, estudantes, LGBT, autônomos, aposentados, artistas, mulheres, crianças, a juventude negra, povos indígenas, mendigos, internautas, militares, prostitutas, fazendeiros, comerciantes, empresários, políticos, um mundo de gente dançou até altas horas da noite. 

Diante do espetáculo que me comovia, liguei para Macunaíma. Ele me assegurou que quando o povo dança na rua é porque não vai ter arrego.

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