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terça-feira, 21 de junho de 2016

Goiás: Donos de hospitais, bombeiros e quatro médicos são presos no esquema das UTIs

Funcionários do Samu recebiam propina de donos de hospitais e UTIs para encaminhamento fraudulento de pacientes com plano de saúde

no Jornal Opção (dica da minha grande amiga Jovita José Rosa)

Segundo o coordenador do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (GAECO), Luiz Guilherme Gimenes, a investigação partiu da denúncia de um ex funcionário do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência de Goiânia (Samu) e durou cerca de um ano e oito mesesO Ministério Público do Estado de Goiás (MP-GO) cumpriu 21 dos 24 mandados de prisão expedidos pela operação SOS Samu, deflagrada na manhã desta terça-feira (21/6). Entre os presos estão funcionários do Samu, quatro médicos, dois donos de hospitais e UTIs, dois agentes do corpo de bombeiros e um diretor do Samu, todos envolvidos no esquema de propina que determinava o encaminhamento de pacientes para UTIs de hospitais mediante pagamento de propina.

São anotações, materiais recolhidos que comprovam o pagamento de propina, transferências bancárias entre pessoas vinculadas às UTIs e hospitais particulares e servidores do Samu, além de confissões de pessoas já interrogadas pelos investigadores, que não deixam dúvidas da existência do esquema.

Condutores socorristas, técnicos de enfermagem, enfermeiros e médicos recebiam para encaminhar pacientes socorridos pelo atendimento de urgência, que possuíssem planos de saúde, a determinadas UTIs, fraudando a respectiva regulação do acesso aos leitos.

Em entrevista coletiva, o coordenador Luiz Gimenes relatou que a prática era recorrente entre alguns servidores que, inclusive, “faziam questão de trabalhar em áreas mais nobres da cidade, para ter maior possibilidade de atender pacientes com maior poder aquisitivo e um plano de saúde que pagasse mais, para ter melhor possibilidade de negociação no esquema”.

O pagamento da propina a alguns funcionários do Samu foi realizado por médicos e por responsáveis e proprietários de UTIs. Os valores variam a partir de R$100,00 e eram negociados de acordo com o plano de saúde e o estado de gravidade do paciente.

O pagamento da propina era feito em dinheiro, diretamente, ou mediante depósito bancário, pelos proprietários ou representantes dessas UTIs. Ao todo, 19 pessoas jurídicas são investigadas pelo MP, entre hospitais e UTIs.

“Chegou-se ao absurdo, pela ganância e acesso ao dinheiro fácil, de casos em que servidores do Samu realizarem rebaixamento do nível de consciência de pacientes que possuíam plano de saude para motivar o encaminhamento clínico para uma unidade de tratamento intensivo”, relatou o coordenador do Gaeco.

Outro depoimento que chamou a atenção dos investigadores, relatou que uma vítima de AVC (acidente vascular cerebral) socorrida na mesma rua de um hospital, foi encaminhada para outro hospital, que não era o mais próximo, mesmo gerando perigo de morte para a vítima.
“Vale ressaltar que o médico regulador que fez esse encaminhamento para uma unidade muito distante do local de socorro é vinculado ao hospital”, informou Luiz Gimenes. O MP tenta identificar o prontuário deste paciente, para averiguar se o paciente morreu ou teve alguma sequela decorrente da demora no atendimento.

As investigações também seguem no sentido de averiguar outros casos que podem ter levado a morte de pacientes. Os já investigados respondem por associação criminosa, corrupção ativa e passiva. “O que percebemos é que é prática comum para que os empresários, donos de hospitais e UTIs mantenham ‘a casa sempre cheia’, inclusive com pacientes que nem precisam de leito de UTI naquele momento”, disse o coordenador.

Para os investigadores, não há dúvidas de que a diretoria do Samu em Goiânia tinha conhecimento do esquema de propina. Ainda segundo o coordenador do Gaeco, o secretário de Saúde, Fernando Machado deve ser chamado para prestar esclarecimento.
Por meio de nota, a prefeitura de Goiânia afirmou na manhã desta terça-feira (21/6) que abriu sindicância para apurar os fatos e tomar as respectivas medidas administrativas em relação a funcionários comprovadamente envolvidos no esquema de corrupção.

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