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quarta-feira, 14 de setembro de 2016

Organização Médicos sem Fronteiras pede que pesquisas de saúde se alinhem a interesses da população


A organização Médicos sem Fronteiras (MSF) divulgou hoje (14) relatório em que faz um apelo aos governos para que alinhem as políticas de pesquisa na área da saúde aos interesses da população. Segundo o documento, as empresas farmacêuticas negligenciam algumas das maiores ameaças à saúde, com por exemplo o aumento de infecções resistentes e o ebola.

A tuberculose é outro exemplo, dado pela organização, de doença com lacunas no tratamento. De acordo com o levantamento, nos últimos 50 anos só foram lançados dois medicamentos contra a doença infecciosa que mais mata no mundo, responsável por 1,5 milhão de mortes por ano.

O relatório da MSF, Lives on the Edge: Time to Align Medical Research and Development with People’s Health Needs (Vidas no limite: é hora de alinhar pesquisa e desenvolvimento médicos às necessidades de saúde da população), está sendo divulgado às vésperas da Assembleia Geral das Nações Unidas, que ocorrerá na próxima semana e, entre outros assuntos, vai discutir a busca por novos modelos de pesquisas médicas que incentivem a produção de medicamentos com custo mais acessível para doenças negligenciadas.

“Tanto em países pobres quanto em países ricos, as pessoas estão descobrindo que os medicamentos de que precisam ou não existem ou são tão caros que elas não podem comprá-los, e os governos precisam resolver esses problemas”, disse em nota Katy Athersuch, assessora para políticas de inovação da Campanha de Acesso da MSF

Segundo o levantamento do MSF, os governos não fazem com que as pesquisas financiadas com o dinheiro dos impostos atendam às necessidades de saúde prioritárias. “Governos financiam US$ 70 bilhões, dos US$ 240 bilhões gastos anualmente com pesquisas médicas, mas falham em usar as doses corretas de incentivos e regulação para conseguir os produtos de que precisamos. Em 2014, apenas 16% dos investimentos em pesquisa sobre doenças relacionadas à pobreza vieram de empresas farmacêuticas”, diz o documento.

A organização também defende que se os governos oferecem financiamento para pesquisas médicas, eles devem exigir que o produto final seja acessível à população. “Governos concedem a empresas direitos sobre produtos desenvolvidos com dinheiro público por meio da concessão de patentes a corporações farmacêuticas – direitos exclusivos para comercializar e usar invenções, incluindo remédios. Isso mantém os preços altos porque cria monopólios; sem concorrentes, empresas farmacêuticas ficam livres para cobrar o que quiserem”, acrescenta o relatório.

Para a organização, a falta de ferramentas de diagnóstico, de vacinas e de medicamentos para ebola e infecções resistentes, por exemplo, ilustra como o foco da indústria está na receita financeira esperada pelas empresas e seus acionistas, e não nas necessidades médicas mais urgentes.

2 comentários:

  1. Dr. Mario. Muito oportuno seu artigo. Para colaborar com o assunto, Há um estudo que indica a diminuição da tuberculose nos beneficiários do bolsa família (http://repositorio.unb.br/handle/10482/18702), e que depois foi ampliado e apresentado à ONU:
    Beneficiários do Bolsa Família têm mais chance de cura na tuberculose
    POLÍTICAS PÚBLICAS
    Estudo da UnB aponta que quem recebe a transferência de renda tem 5,4 pontos percentuais a mais de chance de melhorar da doença
    publicado em 19/03/2015 17h50

    Brasília – Combater a pobreza também é investir na saúde da população. Este é o resultado da pesquisa inédita da mestranda em epidemiologia das doenças infecciosas e parasitárias da Universidade de Brasília (UnB), Ana Wieczorek Torrens.

    A tese de mestrado O impacto do Bolsa Família na cura da tuberculose comparou um grupo formado por pessoas diagnosticadas com a doença e beneficiárias do Bolsa Família com outro composto de beneficiários incluídos no programa após o encerramento do tratamento. “A proporção de cura entre os beneficiários do Bolsa Família foi 86%, 5,4 pontos percentuais acima do grupo não exposto ao benefício durante o tratamento”, destacou Ana, que trabalha como fisioterapeuta epidemiologista no Ministério da Saúde.

    “Essa melhoria é estatisticamente significativa”, explicou a pesquisadora. Segundo a mestranda, a nova estratégia de controle da tuberculose recomenda a proteção social para os pacientes com tuberculose. O estudo é o primeiro achado da efetividade da transferência de renda condicionada na cura da doença. “A tuberculose é uma doença relacionada à pobreza, os casos se concentram em populações mais vulneráveis. E a transferência de renda condicionada se torna uma possibilidade para melhorar a adesão ao tratamento”, explicou.

    O estudo cruzou dados entre o Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinane), o Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal e a folha de pagamento do Bolsa Família da Caixa Econômica Federal, durante o ano de 2010. Segundo o Ministério da Saúde, a tuberculose é sério problema da saúde pública no Brasil. São notificados aproximadamente 70 mil novos casos a cada ano e 4,6 mil pessoas morrem em decorrência da doença. O Brasil ocupa o 17º lugar entre os 22 países responsáveis por 80% do total de casos de tuberculose no mundo. Nos últimos 17 anos, a doença apresentou queda de 38,7% na taxa de incidência e 33,6% na taxa de mortalidade.

    Atenciosamente, Antonio Carlos Torrens

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