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sexta-feira, 14 de outubro de 2016

PEC 241: esclarecendo dúvidas.

Muita gente tem me perguntado aqui como a PEC 241 reduz os recursos da saúde e se o fato de respeitar o teto para 2017 não resolveria o problema.
Vou direto ao ponto (1) (porque tem gente que não tem paciência para ler tudo); depois explico com mais calma (2); e depois faço ainda um histórico para entenderem melhor (3).
1- A PEC 241 reduz muito os recursos da saúde. Praticamente à metade
As projeções apontam para as seguintes comparações:
a- Com relação ao PIB
Reduzir dos atuais 1,65% do Produto Interno Bruto (PIB) para 1% ou 0,84%;

b- Com relação à Receita Corrente Líquida
Reduzir dos 15% previsto na Emenda Constitucional 86 (em vigor) para de 7,6% a 9,2%

c- Em números absolutos
Poderá representar perdas de 600 bilhões em 10 anos.

d- Per capita
Com a regra atual (EC 86) a projeção do per Capita da saúde para 2036 seria de 822 reais, com a PEC 241: 411 a 460

Por isso temos dito que Temer quer um SUS pela metade.

2- Por que isso acontece? 
A regra atual, a da EC 86 relaciona o gasto em saúde com a receita. 
A receita acompanha o PIB. Pode-se dizer que varia PIB + inflação.
A regra da PEC 241 só considera a inflação. Então a perda é relativa a todo o crescimento do PIB.

O que é um absurdo. Porque, segundo o jargão, austeridade é não gastar mais do que ganha, não é isso? Mais do que cresce, não é isso?
Então a saúde, segundo essa visão, não poderia aumentar em relação à receita, Mas o que a PEC 241 faz é congelar e não manter o mesmo padrão de gasto, entenderam?
Para mim a saúde é prioridade e, no mínimo, o Brasil precisa ter um padrão de gasto que garante cobertura universal e que ao menos se equipare a países como Argentina e Uruguai, que gastam mais do que a gente.
A regra atual da EC 86, que não é boa (explico no item 3) é muito menos pior que a PEC 241, porque esta última congela o recurso.
Por isso ela cai em relação à população, porque a população aumenta. 
Por isso ela cai em relação ao PIB e à receita, porque ambos aumentam.

No mundo inteiro, se compara o gasto/investimento em saúde com o PIB.
Ao contrário do que o Governo diz, os recursos da saúde não estão aumentando em relação ao PIB, estão acompanhando o PIB desde 2002.
A luta do movimento sanitário é para aumentar em relação ao PIB, porque gastamos muito pouco conforme os padrões internacionais, tanto em relação ao PIB, quanto em relação ao per capita.
Pois a PEC 241 vem e rouba metade disso para pagar juros da dívida.
O artifício de dizer que respeitará o piso e já pagará em 2017 15% da receita, em nada adianta, porque a partir daí variaria com a inflação e não com a receita. 
É bomba de fumaça que cai ante a primeira pergunta que seria: mas como seria o cálculo para 2018 e 2019? Receita ou só inflação?

3- EC 29, EC 86, PEC 01 e PEC 241
A EC 29, aprovada no início desse século, fixava um valor da União e fazia variar com a inflação e o PIB.
Foi a primeira vez que se garantiu recursos estáveis e regulares ao SUS desde sua criação. 
Aquém do necessário, mas ao menos estáveis.

A EC 86 fixou em relação à receita. 
Regra boa. Mas pecou em não ter mecanismo de proteção para momento de crise, pois o que nunca acontecia, aconteceu na crise: receita caiu.
Além disso, a base dela é muito baixa, como era a EC 29.

A PEC 01/2015 que foi aprovada em primeiro turno na Câmara e que ganhou o apoio do Governo Dilma em janeiro de 2016.
Aumentava o patamar de 15% para 19¨% da receita corrente líquida.

E aí, com o Temer e com o Golpe, o Congresso deixa de seguir na aprovação da EC 01/2015 e passar a defender a PEC da Morte.
Abaixo, alguns gráficos do excelente estudo do IPEA.

A variação das curvas é em função do crescimento do PIB.

As curvas mais prováveis são as duas de baixo: crescimento médio do PIB de 2% ao ano (as outras de cima são 0¨% e 1%) e crescimento do PIB conforme a projeção atual.








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