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sábado, 11 de março de 2017

Pobres em “hospitais de rico” citados por Doria representam 4% de exames do Corujão


Eram 13h do dia 21 de fevereiro, uma terça-feira, quando o prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), discursava para uma plateia de “empresários, políticos e autoridades”, segundo a organizadora do evento Conexão Empresarial, a VB Comunicação, em Nova Lima (24 km de Belo Horizonte). O discurso, de 51 minutos e transmitido pela página oficial do tucano no Facebook, ressaltava os feitos dos, até então, 52 dias de administração do tucano. Falou sobretudo do “Corujão da Saúde”, principal vitrine do mandato e que promete zerar a fila de exames na cidade de São Paulo, cujo número muda a cada dia.

“Só em exames médicos tínhamos 416 mil pessoas esperando para fazer exame”, disse, no evento, sobre o programa. “Colocamos 44 hospitais — e agora já estamos com 50– privados para fazer exame. (…) Até ontem (20/2), já fizemos 171 mil exames em hospitais privados. Hospitais de rico –Albert Einstein, HCor, Sírio-Libanês, Oswaldo Cruz, Beneficência Portuguesa–, onde o pobre não ia, não tinha acesso. Hoje, os pobres e humildes fazem exames em hospitais referência, onde só gente rica, com plano de saúde, frequentava.”

O que Doria não disse era que apenas uma pequena taxa desses exames seria feita nesses hospitais –e que “pobres e humildes” já frequentavam essas unidades por programas firmados antes de sua gestão. Em 2009, para ser exato, quando o prefeito era Gilberto Kassab (PSD), começaram a ser celebrados convênios com o Proadi-SUS (Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde).

Somados, os cinco hospitais “de rico” citados por Doria no evento de Nova Lima ofereceram 16.440 exames –o Beneficência Portuguesa não explicitou quantos procedimentos seriam feitos por meio do Corujão. No universo dos diagnósticos de imagem, isso representa um percentual que não chega a 5%. Se o deficit era de 416 mil, conforme disse Doria naquele evento, eles representam 3,95%.

Se o número usado for o do Termo de Referência de contratação de serviço da Secretaria Municipal de Saúde, divulgado no Relatório de Acompanhamento de Edital do Tribunal de Contas do Município, de 370.176, o percentual seria de 4,44%. A maior parte dos exames será feita nas grandes redes privadas de diagnósticos por imagem da cidade, como a Fidi (Fundação Instituto de Pesquisa e Estudo de Diagnóstico por Imagem) e o Cies (Centro de Integração Educação e Saúde).

Em apenas três casos, os convênios foram celebrados pela gestão Doria (Samaritano, Clínica Scoppetta e Cetrus Diagnóstico). Nos já correntes, foram assinados cinco termos aditivos para participação no Corujão –quatro deles com o Fidi, cujo valor somado é de R$ 4.473.153,43 e que equivale a 27% do valor de contratação estimado pela prefeitura no termo de referência indicado ao TCM. Os demais hospitais não tiveram os termos aditivos, essenciais para a transparência da operação, publicados no “Diário Oficial”.

“Ainda não existe formalização [desses procedimentos]”, afirma a superintendente de qualidade e responsabilidade social do HCor, Bernardete Weber. “Neste caso, não houve a publicação [do termo aditivo] porque houve um problema com a divulgação do convênio [com a prefeitura].”

(…)

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