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sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Verba suspeita para festas no Paraná saiu de emendas

Dinheiro do Turismo sob investigação do TCU foi destinado a ONG paranaense pelo deputado Alfredo Kaefer. Ex-presidente da entidade era assessora parlamentar dele

na Gazeta do Povo

Dinheiro do Turismo sob investigação do TCU foi destinado a ONG paranaense pelo deputado Alfredo Kaefer. Ex-presidente da entidade era assessora parlamentar dele

O dinheiro do Ministério do Turismo que bancou eventos e festas no Paraná sob investigação do Tribunal de Contas da União (TCU) é oriundo de emendas parlamentares ao orçamento do governo federal. As emendas, no valor total de R$ 2,05 milhões, foram apresentadas pelo deputado federal Alfredo Kaefer (PSDB-PR) em 2009.

Reportagem publicada ontem pela Gazeta do Povo mostrou que o TCU abriu em janeiro deste ano uma tomada especial de contas para apurar supostas irregularidades na aplicação das verbas. O tribunal afirma que há indícios de má-fé por parte da organização não governamental (ONG) que recebeu o dinheiro e realizou os eventos, o Instituto de Desenvolvimento da Organização Nacional de Excelência Administrativa (Iabras). O Iabras já foi presidido por uma ex-assessora de Kaefer.

O deputado nega que tenha havido qualquer irregularidade de sua parte. "Fiz as emen­­das porque era o caminho mais fácil para que o dinheiro chegasse aos municípios", afirma ele. A verba foi liberada para eventos populares, como a Festa do Porco no Rolete, em Ma­­noel Ribas, e o Ré­­­veillon de Foz do Iguaçu.

Kaefer afirma ainda que fez um acompanhamento de todos os eventos e tem certeza de que as festas foram realizadas corretamente. Sobre o fato de o TCU indicar a existência de irregularidades na aplicação da verba – como a suposta subcontratação irregular, pela ONG, de empresas terceirizadas –, Kaefer diz que não responde pelo Iabras, e que na parte do processo que cabia a ele, tudo correu corretamente.

Assessora parlamentar

Documentos do Iabras registrados em cartório mostram que a presidente do instituto até 2008 era Rosemeri Rodrigues – que foi assessora parlamentar de Kaefer.

Rosemeri, que também trabalhou na campanha de Kaefer em 2006, atuava como assessora parlamentar no escritório do deputado em Curitiba. Atualmente, a informação dada no escritório é de que ela não trabalha mais lá.

Kaefer diz que não sabia da atuação de sua ex-assessora na ONG na época em que apresentou as emendas. "Não sabia. Não me recordo quem me indicou a ONG [para destinar a verba da emenda]", diz o deputado. Segundo ele, o mais provável é que a indicação tenha partido de algum município. A reportagem tentou localizar Rosemeri, mas não a encontrou.

Evidência

O Ministério do Turismo entrou em evidência nesta semana exatamente em razão de denúncias de corrupção relacionadas ao uso de verbas de emendas parlamentares. A Operação Voucher, da Polícia Federal, prendeu 36 pessoas ligadas a um esquema de desvio de dinheiro por meio de uma ONG do Amapá.

Deputado estadual deu "aval" ao instituto

O Iabras, ONG que geriu os R$ 2,05 milhões do Ministério do Turismo no Paraná e que atualmente é investigada pelo Tribunal de Contas da União (TCU), recebeu aval de várias instituições antes de receber a verba pública. Relatório da auditoria feita pelo tribunal afirma que, entre as declarações positivas juntadas ao processo, estavam documentos assinados por prefeituras, pela Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) e pelo deputado estadual paranaense Ney Leprevost (PP).

Leprevost é irmão de João Guilherme Leprevost, proprietário da empresa que executou a maior parte dos serviços para os quais o Iabras foi contratada. A CWB Brasil foi contratada como terceirizada em 9 dos 10 eventos realizados com a verba do Ministério do Turismo.

Fato comum

O deputado afirma que não se lembra de ter dado a declaração em favor da empresa, mas diz que é comum que parlamentares assinem documentos do gênero. Leprevost diz que conhece Rodrigo Dziedzick, atual presidente do Iabras, mas que não tem relação de amizade com ele. Além de negar participação em qualquer irregularidade, o deputado diz ainda que nunca foi sócio da CWB Brasil, que afirma ser uma empresa séria. (RWG)

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