Conheci o Dr Moysés Paciornik quando eu já estava formado. Eu tinha feito a residência em Pediatria no Hospital dos Servidores do Estado no Rio de Janeiro. Tinha ido lá para aprender Terapia Intensiva Neonatal, mas voltei impregnado para sempre de uma coisa que o Dr. Luiz Torres Barbosa (então Chefe da Pediatria do HSE) chamava pomposamente de "Pediatria Social" (isso lá pelos idos de 1978 e 79). Hoje em dia, pólvora redescoberta, rebatizaram a "Pediatria Social" com o nome de "Humanização" (embora eu reconheça que o conceito tenha sido consideravelmente ampliado).
Fiquei encantado com aquela pessoa simpática e sorridente que era vista como figura excêntrica por grande parte da coletividade médica de Curitiba e alhures no Brasil - evidentemente.
Já naquela época ficou claro para mim, que a luta do Dr. Moysés era muito mais do que "uma nova técnica" ou "uma nova posição" para o parto. Dr. Moysés estava, ao seu modo, resgatando para as mulheres o que era das mulheres, e que lhes havia sido tomado (de assalto?) pelos médicos lá atrás, na corte de Luiz XV (acho que era este o número do Luiz... Se eu estiver enganado, alguém me corrija). Ou seja: o ato divino de "Dar à Luz".
(Luz aqui tem o sentido de Vida e não de lâmpada ou holofote).
Mais ainda, eu havia ficado encantado ao encontrar na Rua XV com o Lauro Godoi. Lauro (que se intitulava "médico generalista" depois de ter abandonado a psiquiatria e abraçado a acupuntura) descreveu em detalhes, extasiado, como havia sido o parto de seu primeiro filho (ou filha? me ajudem!) evidentemente DE CÓCORAS!
Antes do nascimento da Tiemi, minha primeira filha, Shirley e eu estivemos visitando a sala de parto de cócoras da Clínica Paciornik. Naquele dia, Dr Moysés nos ciceroneou pessoalmente. Tiemi, minha filha, por intercorrências outras, veio ao mundo em parto cesáreo muito bem indicado, diga-se com justiça, em outro hospital.
Tempos depois me diverti com o Armando Raggio contando como o Dr. Moysés fez todo mundo que participava da reunião dos "Cabeças Brancas da Saúde", abaixar e ficar (sim!) DE CÓCORAS no que ele chamava de "ginástica Caigangue" para prevenir males da coluna.
Hoje fui à estante e encontrei um livro chamado "Aprenda a Viver com os Índios" (Ed. Espaço e Tempo, 1987). Na dedicatória diz bem assim: "Ao Dr. Mario, Tiemi e Shirley, Feliz Ano Novo e muita alegria para vocês"...
Divido com vocês algumas passagens tiradas da orelha do livro:
O PARTO DE CÓCORAS
"Deixado à natureza mais de 90% dos partos dar-se-iam expontâneamente(...) Menos de 10% necessitam da ajuda de uma parteira bem orientada e destes, menos da metade necessitariam da colaboração de um médico mais experiente,"
GINÁSTICA ÍNDIA
" É raro o índio do mato com dor nas costas.
O índio não faz ginástica, assim mesmo tem o corpo bom, boa saúde. No seu cotidiano assume posturas que valem pela mais completa das ginásticas."
COMER E DESCOMER
"Os homens e os peixes morrem pela boca. Os peixes morrem quando comem errado, iludidos ao comer a isca com o anzol.
Os homens quando comem demais ou comem o que não devem.
Deixado à natureza, nenhum animal come errado, só o homem."
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