A crise econômica estava aí em janeiro
Em janeiro, quando o Federal Reserve Board jogou US$ 150 bilhões na economia norte-americana, houve um certo alívio no mundo do papelório. Logo que o pacote foi anunciado, o professor Antonio Delfim Netto informou:
“O Fed mentiu o tempo todo de que controlava tudo. O Fed fingiu que estava tudo bem. As agências de risco fajutas também fingiam que estava tudo bem. Os bancos honestíssimos punham todas as porcarias fora dos seus próprios balanços. Viraram alquimistas, transformando cocô em ouro e vendendo-o para otários.”
Essa opinião, dada no dia 23 de janeiro, continua atual.
A crise vinha sendo anunciada há anos pelo professor Nouriel Roubini, da New York University, e, em janeiro, depois do pacote do Fed, ele dizia que “a discussão já não é mais a recessão, mas a sua extensão e profundidade”. Ao longo de todo o ano, cada passo dado pelo Fed era visto com ceticismo por Roubini. Ele classificou o grande pacote do secretário Henry Paulson como um “não-evento”.
Convencionou-se que a crise estourou em setembro, quando quebrou o banco de investimentos Lehman Brothers. Engano. O que aconteceu em setembro foi o estoque de empulhação. A crise, em sua verdadeira extensão, já estava aí. Uma pessoa podia duvidar de Delfim Netto ou de Roubini, mas que tal a opinião de Alan Greenspan, o ex-presidente do Fed? Em março ele disse: “A atual crise financeira nos Estados Unidos provavelmente será vista em retrospecto como a mais dolorosa depois da Segunda Guerra Mundial”. É verdade que ele se protegeu com o “provavelmente”, mas quem em março jogou fora a polpa comeu casca em setembro.
322 mestres reprovados na Unifesp e na UnB
No caso da crise econômica, por mais enfáticas que fossem as advertências, seus sinais eram difusos. Quem queria podia acreditar que as coisas iam menos mal. Em dois outros casos, parte da elite de duas grandes escolas brasileiras acreditaram que poderiam espanar as advertências, desprezando denúncias de malversação de fundos públicos, impondo à sociedade pactos da burocracia.
Em fevereiro o reitor da Universidade de Brasília, Timothy Mulholland, foi apanhado numa série de malfeitorias contábeis. Os móveis do seu apartamento funcional custaram R$ 470 mil. As três lixeiras saíram R$ 990 cada.
Em abril o reitor da Universidade Federal de São Paulo, Ulysses Fagundes Neto, foi para a vitrine por ter gasto dinheiro da Viúva comprando bobagens durante suas 12 viagens ao exterior. Consumia com gosto e teve que comprar malas em Hong Kong.
Até aí, funcionaram os mecanismos de controle da sociedade. Os reitores delinqüiram, foram denunciados, e a patuléia foi informada que havia algo de podre nas duas universidades.
A questão piorou de figura quando 200 dos 1.442 professores da UnB reuniram-se em assembléia e, por 157 a 24, rejeitaram um pedido de afastamento de Mulholland.
Na Unifesp, o resultado foi idêntico: por 165 votos a cinco, os professores votaram pela permanência do professor Ulysses Fagundes.
Foram todos reprovados. Mulholland e Fagundes acabaram preferindo sair de fininho.
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