Em entrevista à Radioagência NP, a ginecologista e professora da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (RS), Carla Vanin, fala sobre como a luta das mulheres resultou em acúmulo, mas não em divisão de tarefas com sexo masculino. Ela também fala sobre os problemas que isso causa à saúde física e mental feminina.
Radioagência NP – Carla, o que implica na saúde da mulher essas excessivas jornadas de trabalho?
Carla Vanin - Fisicamente isso acarreta uma série de coisas que antes as mulheres não tinham. Não é que elas não tivessem antes, por exemplo, as doenças cardíacas, hoje em dia isso aparece muito mais. E o mais interessante é que essas mulheres que atingem uma idade madura, acima dos 50 anos, começam a ser acometidas destas doenças [cardiovasculares, osteoporose e outras], que atingiam antigamente muito mais aos homens. Mas, quando elas têm [essas doenças], isso se dá de forma muito mais forte.
RNP - Quais doenças se dão de forma mais forte?
CV - Por exemplo, um homem de 50 anos tem um enfarto, isso pode ser ruim. Mas muitas vezes o homem sobrevive a isso. Com a mulher é diferente. Muito mais mulheres morrem depois que elas têm um enfarto nessa fase da vida. Isso por problemas hormonais e por várias outras coisas. Trata-se de um organismo que não foi adaptado para todas essas mudanças ao decorrer da vida.
RNP - Você acha que essa luta que a mulher travou para a conquista de espaços, que antes eram dos homens, resultou em um acúmulo, mas não em uma divisão de tarefas?
CV - Muitas vezes acontece que ela tem dupla ou tripla jornada de trabalho. E nós estamos falando de mulheres que se inserem no mercado de trabalho, antes exclusivamente pertencente aos homens, e que disputam uma posição de poder lá dentro. Esses dias eu tava avaliando as mulheres na política e, sem citar nomes nem partido, eu comentei algo que todos concordaram. A política ainda é extremamente machista. Qualquer mulher na política é criticada. Basta acompanhar o noticiário para você constatar que as mulheres se estressam três vezes mais do que os homens se estressam para colocar a sua voz ativa dentro de um meio político. A mesma coisa acontece com uma empresária, quando ela tem que comandar uma série de homens. Ela tem que mostrar que ela possui aquele valor muito mais acirradamente do que um homem, porque isso era um mercado anteriormente exclusivamente masculino.
RNP – Para finalizar, você acredita que nessa luta por inserção, a mulher muitas vezes sofre um processo de masculinização do seu pensamento e postura?
CV - Eu trabalho com mulheres e acho que o pensamento da mulher, às vezes, é muito machista. Isso parece mentira se você pensar em tudo o que já conquistamos dentro do mercado de trabalho. Vemos que nós próprias, muitas vezes, fazemos este tipo de alusão à maneira como os homens funcionam. Isto está relacionado com a nossa criação. E existe realmente essa cobrança para que você mostre muito mais sua capacidade para que as pessoas respeitem o seu trabalho.
De São Paulo, da Radioagência NP, Juliano Domingues.
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