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quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

ONU recomenda que país invista mais no atendimento a usuários de droga

Agência Brasil

RIO - O Brasil mereceu destaque no relatório anual sobre consumo e produção de drogas da Organização das Nações Unidas (ONU), divulgado hoje. Embora o país não apareça como produtor de drogas pesadas (cocaína ou heroína), acabou se tornando rota de passagem para traficantes rumo aos Estados Unidos e à Europa, e se transformou em grande consumidor.

Por fazer fronteira com quase todos os países sul-americanos, o país é mais vulnerável à ação de traficantes, que ingressam com maconha e cocaína pelas cidades do interior até os grandes centros urbanos. A ONU elogiou a legislação adotada no país a partir de 2006, que propõe penas mais brandas para os usuários, ao mesmo tempo em que endurece a ação contra traficantes.

Mas, o documento alerta o país para a necessidade de se criar infraestrutura capaz de atender a viciados em drogas, para tratamento e reabilitação. Também enfatiza ser preciso haver políticas públicas de prevenção.

Para o professor da Faculdade de Educação da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Jairo Werner, é exatamente esse o ponto a ser perseguido pelo governo brasileiro. Médico e especialista em saúde mental, ele trabalha diretamente com a questão do uso de drogas, principalmente por crianças e adolescentes. - É preciso abrir centros de tratamento, inclusive formando consórcios entre municípios. Depois é preciso haver acompanhamento social do usuário e também de sua família - afirmou.

Ele citou o caso do Rio de Janeiro, onde só existem 60 vagas para atender pacientes nessa faixa etária. - Seriam preciso pelo menos 10 centros de tratamento na região metropolitana, com 20 leitos cada um -calculou.

Werner disse estar especialmente alarmado com o aumento “exponencial” no uso de crack, droga feita a partir da cocaína, muito usada por pessoas de baixo poder aquisitivo. - De forma geral, 90% [dessas pessoas] vivem nas ruas, têm entre sete e 16 anos e estão fora da escola. Os outros 10%são jovens de classe média, que começam a usar o crack fumando junto com cigarros de maconha - acrescentou.

Segundo o médico, com um grama de cocaína é possível fazer pelo menos dez pedras de crack, o que torna o produto mais barato. - Os usuários ficam pedindo moedas até completar R$ 1 para comprar a pedra. Mas como o efeito passa logo, em seguida eles precisam consumir mais - relatou.

Pelos dados que dispõe, ele calcula que existam cerca de 3 mil crianças e adolescentes viciados em crack na região metropolitana do Rio de Janeiro. - Estão se formando mini-cracolândias. Algumas chegam a ter até 200 jovens circulando por dia - denunciou.

Werner considera insuficientes os esforços dos governos para enfrentar o que ele chama de “epidemia do crack”, que deve continuar a aumentar. - Isso é apenas a ponta do iceberg. O Brasil tem um potencial de crescimento muito grande para todas as drogas - alertou.

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