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quarta-feira, 4 de março de 2009

'Dalila', a vilã do Carnaval virou 'febre' neste ano

no site do Correio - Salvador BA

Do alto do trio elétrico, Ivete Sangalo mandou: “Vai buscar Dalila, ligeiro”. Mesmo quem não obedeceu à ordem da musa carnavalesca, encontrou a dita pelo caminho. Personagem musical do ano, a diva virou, literalmente, febre na folia deste ano. Ou melhor, gripe. E das brabas. Daquelas de lotar postos de saúde e hospitais e de derrubar muitos “Sansões”, sem sequer precisar cortá-lhes os cabelos, como reza o mito bíblico do Velho Testamento.

Foi o caso do auxiliar administrativo Alexandre Serravalle, 29 anos, que trabalha em um grande hospital da cidade. Ele curtiu a folia apenas na quinta-feira. Tempo suficiente para que, uma semana depois, estivesse estirado na cama, queixando-se de dores no corpo, febre, tosse, peito congestionado e falta de ar. “Na sexta-feira passada, comecei a sentir os efeitos da Dalila. No domingo, a desgramada já tinha me deixado muito mal”, brinca Serravalle, apesar dos três dias em que teve que faltar ao trabalho por conta da gripe. Agora, diz estar quase recuperadodos efeitos do vírus.

Segundo o infectologista Fernando Badaró, coordenador do Programa de Residência Médica em Infectologia do Hospital Couto Maia, a ‘Dalila’ nada mais é do que um fenômeno que, a cada ano, deixa uma leva de pessoas doentes no período pós-carnavalesco, com menor ou maior intensidade.

“Trata-se de mais uma mutação do vírus Influenza, que causa a gripe. Geralmente, o micro-organismo surge na Ásia e depois aparece no Hemisfério Norte”, explica Badaró. Como muitos europeus e americanos costumam visitar o Brasil no Verão, a mutação do Influenza encontra a população sem defesas imunológicas necessárias para barrar a invasão no organismo, que está acostumado a outras cepas do vírus. “Por isso, é extremamente importante renovar as vacinas contra gripes, por causa das mutações”, acrescenta o infectologista.

Carnaval
SegundoBadaró, apesar de estar presente durante boa parte dos verões baianos, o vírus mutante encontra no Carnaval o ambiente propício para que vire surto, atingindo milhares de pessoas. Tal facilidade de propagação se deve às características da folia. “Isso porque há um aglomerado muito grande nas ruas e avenidas e um contato físico mais intenso entre as pessoas”, afirma o especialista.

Este ano, o problema foi agravado pelas chuvas, que provocaram um maior contato entre as pessoas em espaços fechados. “Sem contar que a má alimentação do período, o consumo de bebidas alcoólicas e as noites perdidas diminuem a resistência do organismo à ação do vírus”, assinala.

Apelidos
“Dalila” é só mais uma das alcunhas dadas à virose pós-Momo. A depender do período em que o surto ocorre, ela ganha apelidos diferentes. Na década de 90, quando virou musa dos marmanjos, empertigada em sensuais lingeries e de chicotinho na mão na TV e em ensaios para revistas masculina, a atriz Suzana Alves, a Tiazinha, também deu nome a um surto de gripe.

O mesmo aconteceu com a “Requebra”, título de um sucesso do Olodum; e com a “PC Farias”, em “homenagem” ao obscuro tesoureiro de Fernando Collor de Mello e um dos principais personagens de um escândalo que abalou as bases republicanas do Brasil. Ano passado, a maldita foi apelidada de “Toda Boa”, também por conta do sucesso da canção no Carnaval 2008.

Contudo, o clínico geral Róbson Davi, coordenador do 10ºCentro de Saúde (PauMiúdo), diz que muitas outras viroses acometem foliões depois da farras dos trios, blocos e camarotes em Salvador. “Depois das viroses provocadas pelo Influenza, as mais comuns são as enteroviroses (que provocam diarreias e outros sintomas), as que são causadas por norovírus (também ligado a problemas gastrointestinais) e Rinovírus (resfriados), além dos agentes da conjuntivite”, enumera.

Davi diz que, devido à proximidade com o Carnaval, os pacientes acabam denominando qualquer virose de “Dalila”. “É preciso ter muito cuidado com a generalização, pois há similaridade entre essas doenças e os sintomas da dengue”, alerta. Davi disse ainda que por conta das “dalilas”, o movimento no posto cresceu mais de 50% nos últimos dias, grande parte por conta do Influenza mutante.

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