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domingo, 15 de março de 2009

Jornalismo baba-ovo.

É assim que (re)começa
por Luiz Weis no Observatório da Imprensa




O deslumbramento se derrama na primeira página do Globo desta sexta-feira, 13.

Sobre uma foto de bom tamanho do personagem – a única, por sinal, da página – um título que involuntariamente faz justiça à advertência de que aqueles que esquecem o passado estão condenados a repetí-lo:

“A volta do caçador de marajás”.

Se a intenção era fazer ironia, não deu para perceber. Nem no sub (“Collor aprova no Senado medidas para moralizar agências e fiscalizar o PAC”), nem no texto que remete para a matéria páginas adiante:

“Afastado da Presidência em 1992 por impeachment, o senador Fernando Collor (PTB) abriu a primeira sessão da Comissão de Infraestrutura, que preside, com medidas de moralização: criou uma comissão para fiscalizar o PAC e aprovou regras rígidas contra nomeações políticas nas agências reguladoras. Collor surgiu na década de 80 como o “caçador de marajás” de Alagoas. Na comissão, repetiu gestos imperativos que o notabilizaram no Planalto: olhos saltados e dedo em riste. E uma novidade: o nome da namorada (Caroline) tatuado no pulso e um broche com o seu rosto na lapela. A única petista da comissão, Ideli Salvatti, não estava quando foi votada a “despartidarização” das agências.”

Faltou destacar na chamada, como fizeram os outros grandes jornais, que ele deu início aos trabalhos da comissão com apenas seis minutos de atraso, às 8h36. Oh! Ah!

O Valor, por sua vez, ainda o premiou com uma citação em que ele se remete à condição da qual foi destituído por impeachment:

“A grande dificuldade de quem tem espírito do Executivo é se acostumar ao ritmo do Legislativo.” Note-se bem: “espírito do Executivo”. E “tem”, no presente. Em vez de teve, ou tinha.

A matéria do Valor (“Collor endurece regras para indicados às agências”) começa lembrando que ele era “especialista em marketing pessoal” quando ocupava o Planalto. Podia ter acrescentado entre travessões: com a pressurosa colaboração de uma imprensa embasbacada.

Também o Estado destaca na primeira página que ele “recicla velho estilo”, sob uma foto tomada de baixo para cima, o que agiganta o fotografado, carregando na mão esquerda uma penca de documentos, o mais visível deles, não por acaso, intitulado “Balanço do PAC”.

Dentro, sob outra foto, a legenda cita uma frase grandiloquente do protagonista do dia: “Serei parceiro dos interesses nacionais.”

A matéria registra que Collor “deixou claro que vai transformar [a Comissão de Infraestrutura que preside] na vitrine para não ser apenas mais um no plenário de 81 parlamentares”.

Até aí, tudo bem. Seguem-se palavras de rendição à marquetagem do ex:

“Armado de um sorriso sempre aberto, cabelos grisalhos meticulosamente penteados e gestos calculados…”. Oh! Ah!

A Folha, que o tem atravessado na garganta desde quando ele mandou invadir o jornal, foi apropriadamente frugal. Deu a menor matéria, em comparação com as da concorrência, uma foto modesta e a mais burocrática das legendas possíveis: “Collor durante reunião da Comissão de Infraestrutura”.

A ver se, nos outros jornais, se o deslumbramento persistirá. De qualquer forma, a julgar pela estréia, é assim que (re)começa.

Pobre jornalismo baba-ovo.

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