De 2000 a 2008, o número de pacientes que fazem diálise no Brasil cresceu 84%. Os dados, de um censo feito pela SBN (Sociedade Brasileira de Nefrologia) com metade das 684 unidades de nefrologia do país, refletem o aumento no número de casos de doença renal crônica, decorrentes, especialmente, da maior incidência de hipertensão e diabetes.
Quando não controlados, os dois problemas danificam os vasos sanguíneos, o que é especialmente prejudicial no caso do rim, órgão filtrador.
Segundo o estudo, 87 mil pessoas fizeram o procedimento em 2008, enquanto em 2000 eram 42,7 mil. Em 35,8% dos casos, o que levou à insuficiência renal foi a hipertensão. O diabetes está em segundo lugar, com 25,7% dos casos. A glomerulonefrite (inflamação em certas estruturas renais), que já foi a principal responsável por doenças renais crônicas, aparece com 15,7%.
"Estamos ficando com um perfil semelhante ao de primeiro mundo. Devido aos hábitos de vida, as pessoas estão engordando mais e tendo esses problemas. Vivemos uma verdadeira epidemia de doença renal crônica", diz Gianna Mastroianni, nefrologista da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e coordenadora do comitê de prevenção de doenças renais da SBN.
Segundo ela, o maior acesso à diálise e ao diagnóstico de doença renal contribui para o aumento revelado pela pesquisa, mas é um fator minoritário.
Apesar do aumento no número de pacientes em diálise, muitos serviços estão sobrecarregados, o que obriga os pacientes a fazerem o procedimento longe do local onde moram ou até de madrugada.
COMENTÁRIO: Há algum tempo atrás eu tive oportunidade de participar de uma reunião da Frente Parlamentar da Saúde no Congresso Nacional. Antes da apresentação da pauta que me interessava diretamente, pude assistir a uma comovente apresentação de médicos proprietários de clínicas de diálise contando para os parlamentares sobre o quanto eles vinham sofrendo com os baixos valores pagos pelo SUS pelos seus serviços. A platéia comoveu-se quase que às lágrimas quando um deles informou estar sendo obrigado a fechar a sua clínica - que ficava na cidade do Rio de Janeiro. Já imaginaram o que deve significar para alguém ser obrigado a manter uma clínica de diálise em um lugar tão inóspito, inadequado e sem perspectivas econômicas?
Fiquei pensando com meus botões o que teria levado aquele "pobre samaritano" a se lançar em tal empreendimento cheio de riscos, mesmo sabendo que a cidade do Rio conta com uma rede mastodôntica de hospitais públicos de grande porte que certamente daria conta de toda a demanda de terapia renal substitutiva (TRS)... caso não fosse sucateada, sabotada e dilapidada de todas as formas (pelos de dentro e pelos de fora).
O fato é que existem informações circulando por aí dando conta que as grandes clínicas brasileiras de TRS são controladas (mediante contratos de gaveta) pelas grandes multinacionais fornecedoras de insumos (como é o caso da Baxter, provavelmente a maior delas, e também laboratórios como a Roche).
Vocês já imaginaram o que significa para uma multinacional destas - além de fornecer para um mercado gigante como o nosso os equipamentos e os insumos de TRS - ter o domínio de um dos maiores "rebanhos" mundiais de pacientes renais que cresce 84% em 8 anos? Isto, diga-se de passagem, na vigência da maior crise financeira internacional desde 1929 e, ainda por cima, com generoso aumento de tabela concedido neste ano pelo SUS. Vale lembrar que quase 90% dos pacientes em TRS do país estão no eixo Sul/Sudeste, ou seja: há uma vasta região do país a ser "desbravada" o que, certamente, deve ampliar em muito o "mercado" (a curto prazo).
Conclusão que me resta: o choro que eu presenciei lá na Câmara era movido a lágrimas de crocodilo...
Nenhum comentário:
Postar um comentário