Cerca de 600 mil pessoas recebem assistência do programa que procura identificar e combater fatores de risco
A Constituição de 1988 delegou aos municípios a atenção básica em saúde, e em 1992 Catarina se deparou com uma unidade de saúde (US) na frente de casa, no bairro Cidade Industrial de Curitiba (CIC). Tinha tudo o que precisava: médico, dentista, enfermeira. Dois anos depois o Ministério da Saúde implantaria em todo o país o Programa Saúde da Família (PSF), com uma equipe similar à que Catarina e seus vizinhos já tinham disponível. Em 2006 o nome muda para Estratégia Saúde da Família (ESF), para ir além do caráter temporário de um programa. Hoje, três entre dez curitibanos são atendidos pela ESF – nada menos do que 600 mil pessoas.
Paula na consulta com dentista: trabalho aproxima população e profissionais da saúde
Não só Catarina tem o luxo de uma equipe médica à sua porta. Antes mesmo do PSF, a cidade havia sido dividida em regiões e microrregiões de tal forma que as 108 unidades de saúde dessem conta de atender a população de sua área de abrangência. Em 53 delas atuam 166 equipes de saúde da família e 139 de saúde bucal. São médicos generalistas, pediatras, psicólogos, enfermeiros, fisioterapeutas, nutricionistas, farmacêuticos, dentistas, auxiliares de enfermagem e 1.097 agentes comunitários, que moram na própria localidade e batem de porta em porta de olho no histórico de saúde de cada um. Em março eles ganharão o reforço de professores de Educação Física e mais psicólogos.
A ESF segue uma distribuição racional. No Ecoville, por exemplo, poucos precisam dela, enquanto no Sabará o índice talvez chegue a 100%. “Seguimos o critério da equidade, ou seja, mais para quem mais precisa”, diz o coordenador da Atenção Básica da Secretaria Municipal de Saúde, Ademar Cezar Volpi. “Tanto na atenção quanto na prevenção”, completa a diretora do Centro de Informações em Saúde, Raquel Cubas. Se a ESF atende 33,7% da população de Curitiba, as US estão próximas dos 100%. Isso porque em algum momento, seja rico ou pobre, o curitibano será atendido por elas. Todo recém-nascido, por exemplo, recebe a visita do agente comunitário, mesmo que para os pais dizerem que não precisam dos seus serviços.
No saúde da família é a necessidade do paciente que determina o tempo da consulta, não a fila tão comum em outras unidades. “Aqui não estamos interessados só na queixa, e sim na vida da pessoa”, sintetiza Hamilton. “A doença não surge da noite para o dia, por isso a necessidade de acompanhar a pessoa e identificar os fatores de risco”, observa o médico, especialista em medicina de família da comunidade e há 14 anos no PSF. Não só isso, a proposta é conhecer melhor a quem se cuida e criar um vínculo, afetivo até, entre a equipe e o paciente.
O programa resgatou o conceito de médico de família, que faz visita domiciliar aos pacientes. Outro dia, Hamilton chegou de braços dados à US com uma paciente que, devido à idade, resistia a sair de casa. Chegando ali, passou pela sala dos outros profissionais da saúde. E isso não é raro acontecer, também pelas mãos dos agentes comunitários, que fazem pelo menos uma visita por mês em cada residência de sua área de cobertura. Rosane Maria de Paula, por exemplo, é uma das cinco agentes comunitárias da US São José, onde trabalha Hamilton, e tem 198 famílias sob sua responsabilidade. Ela vai todos os dias às casas, fazer visitas de rotina ou entregar consultas.
As Unidades de Saúde acabam desempenhando um papel social. Ali as pessoas se encontram, fazem caminhadas, cursos, reuniões. Foi numa dessas reuniões, ainda em 1994, que Catarina aprendeu re-educação alimentar e perdeu 14 quilos. Há dois anos recebeu dentadura nova, em substituição à antiga, que tinha havia 37 anos. Frequentadora assídua da US, em novembro de 2007 ela conheceria Hamilton. Além de reduzir a carga de remédios que ela tomava, orientou-a a mudar o ritmo de vida, controlar a ansiedade, se preocupar menos com os outros e cuidar mais de si. “Hoje eu sou outra”, resume Catarina. Esta, diz Hamilton, é a síntese do trabalho do saúde da família: identificar os fatores de risco e evitá-los.
COMENTÁRIO: Reportagem interessante sob vários aspectos.
Em primeiro lugar, porque parece ter sido retirado de algum boletim de propaganda institucional da Secretaria Municipal de Saúde de Curitiba.
Em segundo lugar, porque, ao que parece, as pessoas entrevistadas (incluído o Dr. Hamilton Wagner) certamente não foram escolhidas ao acaso... Dr Hamilton tem passagem por diversos municípios da RMC, tendo sido Secretário Municipal de Saúde em mais de um deles (se não estou enganado, foi inclusive presidente do Conselho de Secretários da RMC). Estou aqui tentando lembrar em qual deles ele possa ter investido efetivamente no desenvolvimento da Atenção Básica. Caso tenha feito, provavelmente não sobrou herança alguma...
Em terceiro lugar, quando se afirma que "três em cada 10 curitibanos" tem cobertura do PSF, estamos diante de uma confissão de incompetência (quiçá estelionato eleitoral). Há pelo menos 3 campanhas eleitorais para a PMC escutamos a promessa (ainda não cumprida) de estender a cobertura do PSF para pelo menos 60% da população (a promessa era de "dobrar" a cobertura, o que dá no mesmo).
Aliás, só para relembrar promessas não cumpridas: cadê as 30 horas para o pessoal da saúde?
Em quarto lugar, os indicadores de saúde mostram que os resultados do sistema municipal de saúde (inclusive atenção básica) estão muito aquém do desejável. É simples: há anos existe uma luta inglória para se tentar baixar a taxa de mortalidade infantil para menos de dois dígitos (Londrina e Maringá - por exemplo - já conseguiram). Há anos existe verdadeiro caos nos serviços de atenção às urgências clínicas, que se encontram superlotados com condições de saúde que deveriam ser atendidas nas Unidades Básicas. O número absurdo de pacientes sendo atendidos em situações agudas por decorrência de diabetes, hipertensão e outras doenças crônicas é um indicador indiscutível disto. As persistentes taxas de mortalidade infantil (básicamente por conta da mortalidade neonatal), além das taxas de mortalidade materna e dos índices altíssimos de partos por cesáreas, são também indicativos de que não adianta só distribuir panfletinhos coloridos para mudar a realidade.
Em quinto lugar: não existe Atenção Básica eficiente sem a retaguarda e o suporte de especialidades e exames complementares (chamados "de segunda linha"). Esperar 6 meses para realizar um simples Eletrocardiograma (que deveria ser realizado na própria Unidade Básica) ou mesmo mais de ano para conseguir uma consulta com especialista e, quando consegue, inexiste o necessário retorno ("feed-back") para a unidade de origem, são indicativos de que as coisas não andam bem.
Resumindo: pode até ser que as coisas caminhem de modo razoavel em algumas "ilhas" de excelência. Mas, seguramente, as coisas tem se deteriorado muito no sistema municipal de saúde de Curitiba. Esperemos que esta detrioração não seja irreversível...
Mário , é claro que estas noticias não saem por acaso , mas o Hamilton , até que eusaiba , não é tão bem quisto pele SMS... ele está no sindicato dos médicos , e comigo e outros médicos estamos nos organizando para melhoria do PSF. É verdade que com tendência corporativista da maioria . Pelo menos é uma aliança para brigar pelo PSF. Mas concordo plenamente com sua opinião , e sigo acompanhando seu blog.
ResponderExcluirUma pequena correção , pelo menos aqui no distrito do boqueirão e ECG não demora 6 meses , até pelo contrario , é o único ex complementar que é bastante rápido , mas continuam asoutras demoras , com rx's , consultas com especialistas... Abraços , Sílvio.