PARIS - O principal executivo da operadora francesa France Telecom, Didier Lombard, tem recebido pedidos para renunciar ao cargo depois do anúncio do 24º ato de suicídio cometido entre funcionários da empresa. Um empregado de 51 anos se suicidou na última segunda, sendo o 24º caso nos últimos 18 meses. As informações são do jornal britânico The Times.
Segundo o jornal, o homem deixou um bilhete antes de se jogar de uma ponte, culpando a "atmosfera" de seu trabalho pelo ato. Assim como casos de suicídio anteriores, o homem havia recentemente sido transferido de função dentro da France Telecom e começou a ser cobrado por metas.
Um colega de trabalho do último suicida disse a uma rádio francesa que o homem afirmava que o trabalho que exercia não era para ele.
Lombard anunciou o fim de um programa de troca compulsória de gerentes, mas, mesmo assim, sofre pressão de políticos para renunciar. O porta-voz do Partido Socialista francês Bernoít Hamon diz que a renúncia é a única solução e que a reorganização liderada por Lombard é a culpada pelos suicídios.
Contudo, o executivo tem o apoio do governo francês, que afirmou que a renúncia não está nos planos. Contudo, ministros de Estado pedem que sejam aplicados métodos mais "humanos" no trato com os funcionários da France Telecom.
Luiz Eduardo Brandão no blog do Nassif
Soube há pouco de uma história que me deixou estarrecido, e que mostra também como nossa imprensa cobre mal o que acontece com os trabalhadores mundo afora.
A France-Télécom implantou uma política de “mobilidade sistemática” de seus cadres (quadros técnicos e administrativos com cargos de chefia intermediária, no caso ). Por essa política, a cada 3 anos esses funcionários são transferidos de local de trabalho. Imaginem o que isso representa para as famílias. À parte isso, estabeleceu metas individuais de produtividade que geravam uma concorrência insuportável entre colegas de trabalho, metas aliás consideradas por trabalhadores e sindicalistas geralmente impossíveis de serem atingidas com os meios materiais disponíveis.
Resultado: o que a imprensa – inclusive a midiona, não só a imprensa sindical ou independente — chamou de uma “série negra”, em alusão à célebre coleção francesa de romances policiais, de que os homicídios costumam ser o recheio (assim chamada por causa da capa preta dos livros). Trata-se de uma verdadeira epidemia de suicídios: nada menos de 24 funcionários se mataram ultimamente, devido à pressão a que eram submetidos.
Ante o último suicídio, 2ª-feira passada, de um funcionário de um centro de chamadas da linda cidade de Annecy, nos Alpes, que se atirou de um viaduto sobre uma auto-estrada deixando um bilhete em que atribui seu ato “ao clima no seio da minha empresa”, um dirigente sindical da CFTC (central cristã) se indigna: “É uma vergonha. Ele trabalhava num serviço que era conhecido faz tempo por ser insuportável, havia uma verdadeira indiferença, nenhuma humanidade, só se falava em números, os assalariados eram carne de patê!”
Foram necessárias essas 24 mortes para que o presidente de France Télécom prometesse rever essa política de mobilidade sistemática, pressionado por todas as partes, inclusive pelo ministro do Trabalho do gov. Sarkozy, que pressionou o PDG a acelerar as “negociações sobre a prevenção dos riscos psicossociais”. Foi necessária toda essa macabra série de suicídios para que a direção da empresa se mexesse!
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