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segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Tamiflu: Cadê os "especialistas"?

por Conceição Lemes no Vi o Mundo

No início do agosto, alguns especialistas e outros desinformados e/ou mal-intencionados passaram a exigir que o Ministério da Saúde fornecesse o Tamiflu (oseltamivir é o nome da droga) a todas as pessoas com sintomas gripais.

No ato, parte da mídia adotou o discurso. Nem sequer se deu ao trabalho de consultar o site do Centers for Disease Prevention and Control, dos EUA, até então considerado o oráculo dos oráculos por esses mesmos críticos do Ministério da Saúde. Bastaria um clique, para saber que o Brasil adotava a mesma recomendação do CDC, de Atlanta, em relação ao tratamento antiviral. Também que seguia o que a Organização Mundial de Saúde (OMS) sugeria.

Em 21 de agosto, o Viomundo denunciou: Tamiflu: uso indiscriminado é absurdo total.

“Quem advoga a distribuição indiscriminada do oseltamivir não está bem informado” reprovou, na ocasião, o infectologista Caio Rosenthal, do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, em São Paulo. “Esqueceu-se da facilidade com que o vírus se torna resistente à droga.”

“É um absurdo total”, condenou igualmente o infectologista Artur Timerman, do Instituto de Cardiologia Dante Pazzanese, em São Paulo. “Há muitos pacientes tomando sem necessidade.”

“O oseltamivir não é nenhuma panacéia”, alertou o epidemiologista Eduardo Hage, diretor da Vigilância Epidemiológica do Ministério da Saúde. “O oseltamivir deve ser dado somente para pessoas que tenham risco aumentado de complicações ou apresentam sinal e/ou sintoma da síndrome respiratória aguda grave (SRAG). É lamentável que alguns setores da mídia e alguns profissionais de saúde estejam disseminando informações equivocadas, causando intranqüilidade na população.”

Na reportagem Folha e gripe suína, dois crimes em 19 meses, Eduardo Hage reforçou: “Até o momento, não há nenhuma evidência científica de que se deva tratar todas as pessoas com sintomas gripais. Tanto que OMS, Estados Unidos e Canadá só estão indicando o antiviral para os casos graves e para as pessoas com maior risco de desenvolver complicações. É o que adotou o Brasil. Esses países e a OMS têm reiterado que existe, sim, o risco de que o uso do antiviral fora das indicações citadas aumentar a probabilidade de o novo vírus desenvolver resistência ao medicamento”.

Na sexta-feira, 25 de setembro, 35 dias após a primeira denúncia do Viomundo, a OMS fez um alerta justamente sobre o risco do vírus A (H1N1) se tornar resistente ao Tamiflu. O A (H1N1) é o vírus causador gripe A ou nova gripe, mais conhecida como gripe suína.

Segundo a OMS, duas situações são de alto risco para o desenvolvimento de vírus resistente ao Tamiflu:

1) Em pacientes com sistema imunológico imunodeprimido ou gravemente comprometido por doença prolongada que receberam o oseltamivir (especialmente por tempo prolongado) e ainda apresentam replicação viral persistente.

2) Na chamada profilaxia pós-exposição. Ou seja, depois de se expor a alguém com gripe, a pessoa começa a tomar o antiviral antes desenvolver os sintomas e, apesar disso, desenvolve a gripe.

Dos 28 casos de resistência viral ao Tamiflu já detectados no mundo, 12 têm ligação com o seu uso preventivo. Até o momento, acrescenta a OMS, os casos de vírus H1N1 resistentes ao oseltamivir ainda são relativamente pequenos. Não há evidência de que estejam circulando no interior de comunidades ou no mundo inteiro.

Como o uso de oseltamivir continua a crescer, novos vírus resistentes a esse antiviral certamente vão aparecer.

Moral da história: desde o começo, o Ministério da Saúde estava com razão. O uso preventivo, indiscriminado, do Tamiflu aumenta o risco do novo vírus desenvolver resistência ao antiviral. O Brasil está certo sobre o Tamiflu.

Agora, a pergunta que não quer calar: cadê os “especialistas” e a mídia que advogavam o uso indiscriminado do antiviral? Será que depois do alerta da OMS farão o mea culpa ou vão ficar na moita?Tenho 99,99% de certeza que optarão pela segunda saída. É como se nunca tivessem falado estupidez e induzido a população a erro. E a saúde pública? Bem, para eles, ela que se lixe. Infelizmente.

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