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quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Antes bandeira do presidente, opção pública “morre”

Nem mesmo seguradora pública sugerida por Obama abrandaria a crise na saúde
Nem mesmo seguradora pública sugerida por Obama abrandaria a crise na saúde

Renato Godoy de Toledo

da Redação Brasil de Fato

O presidente dos EUA, Barack Obama, elegeu a reforma da saúde como sua prioridade doméstica, já no primeiro ano de mandato. Mas a principal bandeira erguida por ele nessa reforma, a opção pública, já está a meio pau e deve ser recolhida definitivamente em breve.

O mandatário estadunidense defendia a criação de uma espécie de plano de saúde federal que concorresse com os privados. Após uma campanha contra esse item, a medida foi excluída na proposta inicial apresentada no Congresso, após reuniões bipartidárias.

Especialistas ouvidos pela reportagem apontam um cenário muito adverso, pois, para eles, nem mesmo a opção pública defendida anteriormente pela Casa Branca poderia solucionar a crise no modelo de saúde do país.

Stephen Lendman, do Centro de Pesquisa da Globalização, afirma que essa opção não afrontaria o interesse dos grandes grupos privados. “A opção pública está morta, mas ela nunca foi viável. Seria possível [anteriormente] que uma opção chamada de pública passasse no Congresso, mas ela seria falsa. Porque a ideia é fornecer milhões de clientes a mais para as seguradoras privadas e empresas farmacêuticas”, critica. De fato, Obama sugeria que o seguro federal pudesse trabalhar em parceria com o setor privado.

Para a médica de Chicago Helen Redmond, apenas uma opção realmente pública poderia solucionar a desordem na saúde do país. “Obama disse que a opção pública não é essencial e, provavelmente, não vai estar no documento final. Mas a opção pública não seria o suficiente para encerrar a crise na saúde. O presidente disse que essa teria que competir com a iniciativa privada, com preços similares e cobertura de menos de 5% da população. Apenas um plano nacional, com financiamento governamental, que abolisse a iniciativa privada poderia encerrar a crise na saúde”, indica.

Histeria da direita não faz sentido, dizem especialistas

Protestos não têm razão de existir, já que seguradoras continuarão beneficiadas

Renato Godoy de Toledo

Republicanos e a mídia dos EUA têm vociferado contra o projeto do presidente Barack Obama para a reforma da saúde. O aumento do gasto público, a suposta assistência a imigrantes ilegais e a realização de abortos com verba pública têm sido as principais trincheiras dos conservadores para atacar a Casa Branca.

Porém, Obama sinaliza que não há motivo para tal grita, já que o projeto, que deve ser acertado num acordo bipartidário, não deve alterar a estrutura da saúde estadunidense, nem afetar os ganhos da indústria da saúde privada.

Para Helen Redmond, médica de Chicago, a oposição ao plano parte de um pequeno setor radical da sociedade, mas ganha notoriedade na sociedade por conta do grande espaço que a mídia lhe cede. “Existe um pequeno grupo de malucos de direita, fanáticos anti-aborto e racistas que não gostam do presidente Obama, embora ele tenha cedido quase completamente às demandas da direita. Obama é um capitalista e todas as suas principais políticas apoiam a ‘América corporativa’. Portanto, não faz sentido que eles se oponham à sua administração. Infelizmente, a mídia dá muito espaço para essa ala da direita, o que dá impressão de que eles são bem maiores do que realmente são”, aponta.

Stephen Lendman, do Centro de Pesquisa da Globalização, acredita que o assunto da reforma na saúde ajudou a florescer outros temas de interesse de radicais de direita. “A questão da saúde é um assunto à parte, mas o racismo contra os ditos ‘imigrantes ilegais’ permeia o debate. Eles não são ‘ilegais’, ninguém é ‘ilegal’, pode ser não-documentado, mas não ‘ilegal’. Até porque eles pagam impostos”, defende.

De acordo com Lendman, o mesmo deve valer para o aborto, legalizado em alguns estados. “O aborto, é legal e deve ser coberto por qualquer plano de saúde. A direita-fascista-cristã no país é muito forte. Eles influenciam muito o Partido Republicano. O aborto tornou-se um grande problema político”, explica Lendman.

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