Fernanda Prates, Jornal do Brasil
RIO DE JANEIRO - A apropriação de plantas e ervas para fins medicinais remete aos primórdios da humanidade. E, até hoje, tomamos chás e extratos cujos poderes foram descobertos há séculos por nossos antepassados. Os medicamentos vegetais, no entanto, há muito ultrapassaram a condição de “chazinhos” e, cada vez mais, o conhecimento tradicional vem sendo aliado à pesquisa científica por pesquisadores que compreendem que ciência e natureza andam juntas na preservação da saúde.
– Muita gente pensa que fitoterapia é só o “chazinho da vovó”. Também é, mas não é apenas isso – afirma Glauco Villas Bôas, pesquisador e coordenador do Núcleo do Gestão em Biodiversidade e Saúde de Farmanguinhos. – A planta medicinal é remédio mesmo, e químicos, farmacólogos e antropólogos vêm se unindo para buscar conhecimentos tradicionais.
Levando-se em consideração que 80% da população mundial utiliza medicamentos de origem vegetal e que, segundo Villas Bôas, cerca de 3/5 dos produtos medicinais colocados no mercado têm origem biológica, não há mais como duvidar do poder desse tipo de medicamento. Prova disso é o fato de que uma das maiores referências em medicina do país, o Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos), da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), um laboratório farmacêutico de renome mundial, vêm realizando diversas iniciativas em pesquisa e desenvolvimento de fitoterápicos, sendo pioneiro na área de desenvolvimento de produtos naturais.
Da mesma maneira, essa capacidade de gerar riquezas e permitir produtos inovadores não passou desapercebida pelos cientistas e empresas farmacêuticas que, cada vez mais, vêm buscando aliar desenvolvimento científico com conhecimentos tradicionais de povos locais para explorar novas possibilidades:
– O Ministério da Saúde e as grandes corporações já perceberam a potencialidade dos fitomedicamentos em um país com a biodiversidade do Brasil – afirma Valério Morelli, engenheiro agrônomo e pesquisador da Farmanguinhos. – Em lugares como a Amazônia, por exemplo, você vê empresas realizando pesquisas de levantamento de dados entre índios e comunidades locais.
E a ideia de que medicamentos fitoterápicos são menos “científicos” do que os remédios sintéticos – os chamados alopáticos - vem sendo lentamente derrubada pela ciência. Segundo Villas Bôas, produtos de origem vegetal já estão se tornando líderes dentro do mercado, com grande aceitação de uma outrora relutante classe médica:
– Os problemas com os fitomedicamentos eram a credibilidade e o embasamento científico e tecnológico insuficientes – explica Villas Bôas – No entanto, essa relutância some a partir do momento em que produto passa por essas etapas de pesquisa e tem sua eficácia comprovada.
O trabalho científico, aliás, entra em ação logo nas primeiras fases da produção de um fitomedicamento. As plantas passam por um período de estudo e adaptação para obtenção de substâncias necessárias para a produção de um medicamento. Descobertas em seu ambiente natural, essas plantas são levadas para um local mais controlado, no qual os cientistas devem garantir que estejam padronizadas e que ainda sejam capazes de produzir as substâncias desejadas:
– Para estabelecer um padrão químico, pegamos a planta, enviamos para o laboratório e lá é feita sua “impressão digital”, ou seja, descobrimos quais substâncias existem nela e em que concentração – explica o agrônomo Morelli. – Também precisamos garantir que elas continuem produzindo as substâncias depois de retiradas de seu ambiente natural.
COMENTÁRIO: No período em que eu tive oportunidade (e a honra) de trabalhar na Secretaria de Saúde-PR, a gente começou um movimento pretendendo desenvolver as culturas relativas à Fitoterapia no estado. A idéia era bem interessante. Mobilizamos o pessoal ligado à agricultura familiar, as universidades estaduais e tivemos uma participação importante da Dra Margrid Teske do Laboratório Herbarium.
A Dra Margrid é uma grande entusiasta da Fitoterapia, e sua visão se mostrou muito abrangente. Ela nos chamava atenção para as possibilidades econõmicas que nós estamos deixando passar em nosso país referentes à produção de plantas ditas "medicinais".
O mercado internacional está aberto. As necessidades de insumos, em especial na Europa são grandes. O cultivo de espécies com interesse farmacêutico é adequado para as pequenas propriedades (tipo agricultura familiar), os valores que podem ser agregados são enormes. O Herbarium se comprometeria a dar suporte para o cultivo, para técnicas de extração de princípios ativos (algumas poderiam ser realizadas pelos próprios produtores rurais) e orientações para desidratar e conservar as plantas.
Infelizmente o trabalho não prosseguiu.
De qualquer forma, tendo em vista que deve ter uma turma por aí preocupada com programas de governo e tudo mais, fica a sugestão...
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