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sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Projeto de lei quer garantir que dentistas também atendam nas UTIs

A proposta da deputada Luciana Rafagnin visa reduzir a incidência de infecções hospitalares que entram pela boca dos pacientes.

Curitiba, PR - A deputada Luciana Rafagnin (PT) está preocupada com a alta incidência de infecções hospitalares que entram pela boca e que agravam o estado de saúde de pacientes internados nas Unidades de Terapia Intensiva (UTI) dos hospitais públicos e privados do estado, além de aumentarem o tempo de internação e os custos com pagamento de diárias. Por conta disso, a parlamentar propôs a aprovação pela Assembleia Legislativa do Paraná de um projeto de lei (PL nº 561/09) que institui a obrigatoriedade da presença de profissionais de odontologia nas unidades de terapia intensiva. “Uma das principais funções da equipe odontológica nas UTIs é garantir que infecções na boca não atinjam órgãos vitais, como o coração e os pulmões”, informa a deputada Luciana. “Os especialistas garantem que a presença de um cirurgião-dentista nas equipes multiprofissionais das unidades de terapia intensiva melhora a qualidade de sobrevida dos pacientes, reduz o risco de infecções, o tempo de internação, os custos hospitalares e o uso de medicamentos”, defende.

Pneumonia nosocomial é a segunda causa de infecções hospitalares

A odontopediatra de Cascavel e pesquisadora do curso de Odontologia da Unioeste no Hospital Universitário do Oeste do Paraná, Marli Schmitt Walker, alerta para o fato de que pacientes entubados estão mais suscetíveis a aspirar ou ingerir as bactérias que se alojam na boca: “muitas vezes, as pessoas já chegam à UTI apresentando uma saúde bucal deficiente, o que pode dificultar a melhora no seu tratamento. Uma vez entubados, os pacientes não mastigam, ficam com a boca semi-aberta e se não for realizada a higiene bucal adequada, terão um meio propício ao cultivo de bactérias”, diz. Ela também lembra que as experiências têm demonstrado que os patógenos da placa bacteriana também são encontrados nos pulmões dos pacientes que contraem a pneumonia no ambiente hospitalar. Junto e em comum acordo com os demais profissionais da equipe de intensivistas, o cirurgião-dentista vai poder propor tratamento e estabelecer um protocolo de higiene bucal que contribua para o controle das infecções dessa natureza.

Entre as doenças que acometem os internos das UTIs, a inflamação dos pulmões pela inalação ou ingestão de bactérias que se proliferam na boca é uma das mais comuns. Com base em estudos, é possível estimar que a pneumonia nosocomial, ou melhor dizendo, aquela adquirida em ambiente hospitalar, é a segunda causa de infecções dentro das UTIs ou algo em torno de 10% a 25% dessas ocorrências. E as pesquisas também têm apontado que de 20% a 50% dos pacientes afetados por esse tipo de pneumonia acabam por falecer. Em casos de pessoas submetidas à ventilação mecânica, a vulnerabilidade à doença é ainda maior e varia de 20% a 25%, com taxas de mortalidade podendo chegar até a 80% das situações, o que torna a pneumonia associada à ventilação mecânica a infecção hospitalar mais comum nas unidades de terapia intensiva. Os especialistas também advertem que muitas doenças sistêmicas e medicações administradas por longos períodos produzem alterações na cavidade oral, como gengivites, diminuição da saliva e feridas, entre outras, que se não tratadas devidamente agravam o estado geral dos pacientes.

O maior obstáculo ainda é a baixa prioridade dos procedimentos odontológicos

A chamada medicina periodontal, que é o campo da saúde que investiga a relação entre doenças bucais e sistêmicas, já vem sendo pesquisada mundialmente há mais de um século, mas esses trabalhos só se intensificaram mesmo nos últimos 20 anos. No Paraná, a atuação de cirurgiões-dentistas nas UTIs já é uma realidade em unidades especializadas em cirurgias cardíacas e também no Hospital Costa Cavalcanti de Foz do Iguaçu. No Hospital Universitário do Oeste do Paraná, em Cascavel, um projeto de pesquisa e extensão vem sendo desenvolvido na UTI geral e deve colher seus primeiros resultados somente a partir de 2010.

A odontopediatra Marli Walker lembra que o maior obstáculo para a integração do cirurgião-dentista nas equipes multidisciplinares em UTIs é a baixa prioridade dada ao procedimento odontológico diante dos numerosos problemas apresentados pelo paciente. “Mas é importante que a avaliação bucal seja feita e os cuidados orais sejam instituídos o quanto antes”, diz. Além de evitar as infecções, essas avaliações de profissionais da odontologia podem, por exemplo, identificar a incidência de lesões pré-cancerígenas na mucosa da boca e tão logo o paciente receba alta hospitalar, a biópsia pode ser realizada e a lesão, tratada. “É possível, muitas vezes, identificar precocemente, por meio dessa avaliação, as lesões que não foram diagnosticadas anteriormente”, completa Walker.

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