No século 19, muitas enfermidades eram tratadas com substâncias que acabaram proibidas, qando seus efeitos nocivos se tornaram conhecidos
Substâncias que alteram o estado de consciência das pessoas estão presentes desde os primórdios da história da humanidade. Extraído da papoula, o ópio é conhecido há pelo menos 8 mil anos. Foi usado até por faraós egípcios e imperadores romanos. Originária da Ásia Central, a maconha foi prescrita como medicamento contra dores mens truais, reumatismo, prisão de ventre e malária na primeira farmacopeia do mundo, escrita pelo imperador Shen-Nung, provavelmente em 2737 a.C.
Proibição é polêmica
Em maior ou menor escala, todos reconhecem o malefício causado pelo uso de drogas, mas a proibição está longe de ser unanimidade. O psicanalista Anderson Matos duvida da eficácia da proibição como política antidrogas. “O exemplo da lei seca americana foi emblemático: tentou-se erradicar o uso do álcool do cotidiano das pessoas, mas isto não ocorreu de fato”, afirma. “A proibição não ‘regulou’ o costume de ingerir álcool, e o efeito colateral da lei foi o surgimento de uma rede clandestina de abastecimento. Na ilegalidade, o álcool passou a render cifras tentadoras a quem estivesse disposto a arcar com os riscos do negócio”, afirma.
À medida que os efeitos nocivos das substâncias psicoativas passaram a ser conhecidos, surgiu no início do século 20, nos Estados Unidos, um movimento de combate ao uso abusivo desses produtos. As pressões cresceram, a ponto de se chegar à proibição total das drogas. Até as bebidas alcoólicas estiveram proscritas entre 1920 e 1923, quando vigorou a chamada lei seca. Em vez de reprimir o consumo, a proibição desencadeou o surgimento de uma rede clandestina de abastecimento de bebidas alcoólicas, semelhante ao narcotráfico de hoje. Foi um período em que a máfia, de origem italiana, prosperou nos Estados Unidos.
Com a liberação do álcool, a Drug Enforcement Adminis tration, agência criada para o combate às substâncias ilícitas, incluiu a maconha no rol das substâncias proibidas, ao lado dos opiáceos e da cocaína. “Dessa forma, a ojeriza a determinados grupos étnicos e, principalmente, a certos tipos de produtos usados por eles encontra certo tipo de respaldo legal para um controle social”, afirma o psicanalista Anderson Matos, mestre em Psicologia pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Brasil
Conforme lembra o professor Elisaldo Araújo Carlini, do Departamento de Psicobiologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), em seu trabalho A História da Maconha no Brasil, as autoridades brasileiras logo embarcaram na onda proibicionista, adotando medidas repressivas contra traficantes e usuários a partir dos anos 30. Em 1961, o Brasil tornou-se signatário da Convenção Única de Entorpecentes das Nações Unidas.
Inspirada na legislação dos Estados Unidos, a lei antidrogas de 1976, que vigorou por 30 anos, criminalizava tanto o comércio como a posse de drogas para consumo próprio. Um dos infratores famosos da lei foi o ex-ministro da Cultura Gilberto Gil. Preso com maconha no primeiro ano de vigência da norma, em Florianópolis, durante uma turnê dos Doces Bárbaros – grupo que formava com Ceatano Veloso, Gal Costa e Maria Bethâ nia –, o músico baiano precisou declarar à Justiça que era dependente da erva para ser internado em um hospital psiquiátrico, em vez de permanecer encarcerado. A partir de 2006, o Brasil adotou uma legislação nos moldes europeus, e os usuários deixaram de ser considerados criminosos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário