Depoimentos de delegados confirmam suspeita contra Arruda e indicam que esquema vem da gestão anterior
O elo entre os dois é o policial aposentado Marcelo Toledo, apontado pela Operação Caixa de Pandora como um dos principais operadores do esquema de distribuição de propina no governo do DF. A máquina de cobrança de empresas para alimentar o esquema teria sido montada com a participação direta de Toledo desde o governo Roriz (1998-2006) e preservada por Arruda até ser desmantelada, em novembro passado.
O esquema foi revelado após acordo de delação de Durval Barbosa, ex-secretário de Relações Institucionais do governo, também policial e cúmplice de Toledo desde o início. Com o cerco se fechando, Toledo negocia acordo de delação em troca de benefícios penais. O Ministério Público avalia se ele está disposto a apresentar as provas de que dispõe contra Roriz e Paulo Octávio. Mas o acordo só será fechado, conforme apurou o Estado, se o MP considerar que atende o interesse público. A Polícia Federal vem dando segurança discreta ao policial.
Consideradas "provas novas" da maior relevância pela vice-procuradora-geral da República, Deborah Duprat, os depoimentos dos três delegados foram anexados ao inquérito. Ouvidos pelo Núcleo de Combate às Organizações Criminosas do Ministério Público do DF, os delegados Celso Ferro, Cícero Jairo Monteiro e Marco Aurélio de Souza disseram que o então governador José Roberto Arruda interferiu diretamente em operações da Polícia Civil e puniu policiais que investigavam seu governo.
Um dos exemplos dessa interferência aconteceu na Operação Tucunaré, revelada pelo Estado na semana passada e que mostra a ligação de Toledo com um grupo de doleiros num esquema para enviar propinas arrecadadas no governo do DF. O principal doleiro do esquema é Fayed Antoine Traboulsi, investigado em escândalos de corrupção no governo Roriz. A outra operação, batizado de Tellus, investigava desvios na Secretaria de Desenvolvimento, comandada na época pelo vice-governador, Paulo Octávio.
Os delegados citam ainda um terceiro inquérito obstruído por Arruda, a Operação Terabyte, que investigou um grupo especializado em cobrar propina só nos negócios milionários da área de informática.
ESPIONAGEM
Por envolverem o governador, os depoimentos dos policiais civis foram encaminhados à Procuradoria-Geral da República. Cícero Jairo confirmou que foi afastado da Diretoria de Crimes contra o Patrimônio (Depate) por ordem direta de Arruda, inconformado com o avanço das investigações contra Toledo. Seu antecessor no cargo, o ex-delegado Celso Ferro, confirmou ser autor de um documento comprometedor. Apreendido na casa do ex-chefe de gabinete de Arruda, Domingos Lamoglia, durante a operação Caixa de Pandora, o documento dá pistas sobre uma suposta rede de espionagem montada por Arruda para monitorar os passos do Ministério Público e da própria polícia contra membros do seu governo.
O documento, ao qual o Estado teve acesso, complica também a vida do ex-secretário de Comunicação do governo, Welligton Moraes, que está preso no presídio da Papuda, com outros cinco acusados de envolvimento na tentativa de suborno ao jornalista Edson Sombra, testemunha chave do inquérito da Caixa de Pandora. Alvo da arapongagem do próprio chefe, Moraes é acusado no documento de direcionar licitações de publicidade do governo para empresas vinculadas a ele próprio.
GRAMPOS
Marcelo Toledo é investigado por corrupção, espionagem ilegal, extorsão, prevaricação e concussão - quando o servidor público faz ato de ofício ou deixa de fazê-lo para beneficiar a si próprio ou terceiros. É acusado também de ser um dos operadores e beneficiários do esquema de grampo montado na Polícia Civil para chantagear autoridades.
O ex-policial não quis falar, mas seu advogado, Raul Livino, queixou-se das frequentes denúncias contra o cliente publicadas na imprensa, a seu ver vazadas do inquérito. Ele nega que Toledo tenha ligação com os crimes investigados nas operações Tucunaré, Tellus e Terabyte. Reclamou ainda que, como defensor, não teve até agora acesso integral aos autos para medir o grau de barganha do cliente em um eventual acordo de delação.
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