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domingo, 9 de maio de 2010

Analfabetismo científico

recebi do Vitor Moreschi

Fonte: Blog do Carlos Orsi

Editor: Marcelo Druyan
É possível que seu navegador não suporte a exibição desta imagem. A edição da revista Science que circula esta semana traz uma série de artigos sobre “alfabetização científica”, ou como transmitir para a população em geral — e para as crianças, em particular — o mínimo de conhecimento científico necessário para navegar no mundo contemporâneo.
O analfabetismo científico é um problema em praticamente todo o mundo. Com o agravante de que, diferentemente do analfabetismo literal, muitas vezes não chega a ser reconhecido como um problema, mesmo entre as parcelas mais educadas e/ou poderosas da sociedade.
Parafraseando um antigo aforismo de C.P. Snow, um milionário que ignore quem foi Machado de Assis acaba visto como uma figura folclórica, excêntrica; um que ignore a segunda lei da termodinâmica é só mais um cara normal. Além, claro, de uma ótima vítima para esquemas de moto-perpétuo.   
“Ciência é um método, uma disciplina, uma postura”
Este, aliás, é um ponto que passa em branco na maioria dos discursos sobre a alfabetização científica: quando se reconhece o valor do ensino e da divulgação da ciência, o foco costuma repousar sobre os benefícios econômicos — pesquisa e desenvolvimento, novos produtos, engenharia — que são, evidentemente, reais e importantes. Mas pouco se fala sobre a educação científica como fator de cidadania e, se me permitem o termo, de defesa pessoal.
Mais do que uma instituição acadêmica ou de um conjunto de princípios, leis e teorias a assimilar, ciência é um método, uma disciplina, uma postura. De forma bem resumida, é o hábito de não aceitar afirmações como verdadeiras sem prova, e de avaliar criticamente toda prova apresentada. Ciência, enfim, é uma ferramenta de detecção de falsidades e de busca da verdade.
Tão ou mais importante do que conhecer os resultados obtidos por essa ferramenta é familiarizar-se com o instrumento em si. Empunhá-lo, acostumar-se com seu peso, ver como sua lâmina é afiada e, por fim, aprender a usá-lo no dia-a-dia, ao lidar com coisas tão díspares quanto promessas de políticos, discursos de autoajuda, comerciais de produtos milagrosos, ofertas de crediário, terapias e, sim, esquemas de moto-perpétuo.  
“Este seria um mundo com menos vítimas e melhores cidadãos”
Um do artigos da Science trata, aliás, exatamente disso: Jonathan Osborne, da Universidade Stanford, queixa-se de que há muito pouco debate crítico nas aulas de ciências.
“Como uma das marcas registradas do cientista é o ceticismo crítico e racional, a ausência de oportunidades para desenvolver a capacidade de pensar e discutir cientificamente parece ser uma fraqueza significativa na prática educacional contemporânea”, escreve Osborne.
Há alguns anos, a jornalista de ciência do New York Times Natalie Angier escreveu um livro — premiado — chamado The Canon (”O Cânone”), que buscava explicar o que há de mais básico na ciência atual. A partir de um primeiro capítulo sobre, exatamente, o pensamento científico, a obra se lança numa exploração da matemática, biologia, física, química, geologia e astronomia.
São pouco mais de 260 páginas e não creio que tenha sido traduzido, infelizmente. Mas se todos tivessem contato com as ideias e princípios que descreve, este seria um mundo com menos vítimas e melhores cidadãos.

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