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segunda-feira, 10 de maio de 2010

Especialistas atestam eficácia e segurança da vacina contra a gripe suína e desfazem boatos e especulações




recebi de minha amiga Haley

Adriano De Lavor na Revista RADIS

Desde que o governo divulgou, no início de março, o calendário de vacinação contra o vírus H1N1, causador da influenza A, uma série de especulações sobre o assunto circulou em parte da mídia impressa e via internet, questionando as previsões de especialistas para uma nova pandemia em 2010 e a eficácia da vacina, apontando possíveis riscos que sua administração representa e até denunciando uma suposta trama articulada para eliminar parte da população mundial por meio da vacinação.Radis pesquisou os boatos e ouviu especialistas sobre a doença, a fim de esclarecer o que há de verdade nesses argumentos e qual é o quadro real da gripe suína. A construção de “teorias conspiratórias” na área da saúde e o papel ideal dos diversos atores que atuam no combate a uma pandemia também foram analisados.
A polêmica teve início no fim de 2009, quando notícias vindas da Europa circularam nas caixas de e-mail por todo o Brasil. Uma delas advertia para o risco de se contrair câncer ao se tomar a vacina, a partir do alerta feito por Wolfgang Wodarg, identificado como presidente do comitê de saúde no Parlamento alemão e na Câmara Europeia. No texto, atribuído ao jornal alemão Neue Presse, de Hannover, o especialista em pulmões, higiene e saúde ambiental denunciava que a solução nutriente da vacina era fabricada por células cancerosas de animais e que traria riscos de desenvolver a doença nos humanos. Além disso, a notícia insinuava que o medo de uma nova pandemia havia sido provocado: “Este é um grande negócio para a indústria farmacêutica. As companhias estão tentando explorar o medo da pandemia da gripe”, teria dito Wodarg.
Textos dando conta de uma “pandemia forjada” apareceram em alguns sites portugueses, que noticiaram ter feito a denúncia em dezembro de 2009, quando 14 parlamentares do Conselho Europeu (CE), encabeçados por Wodarg, teriam apresentado a moção A pandemia forjada — uma ameaça para a saúde, na qual apontavam a influência de laboratórios farmacêuticos nas declarações de cientistas e agências oficiais.
O jornal Diário de Notícias, de Portugal, chegou a classificar como “fraude médica” a decisão da Organização Mundial da Saúde (OMS) de anunciar a pandemia, em junho de 2009, e divulgou o pedido do deputado Pul Flynn, do Reino Unido, de reconsiderar o anúncio, já que não havia “provas concretas”.
Outra mensagem, atribuída ao site NaturalNews, denunciava que a vacina seria produzida com “carne doente” de macacos verdes africanos, e incluiria “elementos perigosos”, como esqualeno e timerosal. Além disso, sustentavam que a patente da vacina estaria nas mãos da empresa privada de segurança americana DynCorp, e não de algum instituto nacional de saúde, o que reforçava a ideia de fraude.
A denúncia mais contundente partiu da médica e escritora Rauni-Leena Luukanen-Kilde. Em vídeo postado na página do YouTube, onde é identificada como ex-ministra da saúde da Finlândia, ela sustenta que não só os números divulgados pela OMS são falsos, como fazem parte de um plano articulado, ainda nos anos 1970, pelo então secretário de Estado americano Henry Kissinger, de eliminar um terço da população mundial. A estratégia seria matar o maior número de pessoas e ganhar o maior volume de dinheiro possível, inoculando substâncias perigosas em vacinas. A OMS estaria sendo obrigada a participar do esquema, por pressão das indústrias farmacêuticas.
VACINAÇÃO SEGURA
A especulação repercutiu no Brasil, não somente no meio eletrônico, onde circulou a maioria das mensagens. Pesquisa divulgada pelo Ministério da Saúde, em março, indicou que 12% dos brasileiros não querem tomar a vacina contra a gripe suína. O objetivo do estudo era medir o grau de conhecimento sobre a doença no país, e revelou que 15% dos entrevistados têm medo de se imunizar contra o vírus H1N1.
O Ministério da Saúde informa em seu site que a influenza A é uma doença respiratória aguda (gripe), causada pelo vírus A (H1N1), um novo subtipo do vírus da influenza, transmitido de pessoa a pessoa principalmente por meio da tosse ou espirro e de contato com secreções respiratórias de pessoas infectadas. Em informes distribuídos à imprensa, o governo garante que a vacina anti-influenza é segura e que não têm sido relatados efeitos adversos graves em países onde ela já é aplicada; sua eficácia é avaliada em 95%. Nota técnica divulgada no site do MS, em março de 2010, contesta a maioria dos boatos: o documento diz que a o uso dos conservantes esqualeno e timerosal “não causa efeitos danosos” ao organismo e atesta a eficácia da vacina com uma dose única.
O documento também refuta as informações de que a gripe suína seria criação da indústria farmacêutica para ganhar mais dinheiro com a venda de remédios e vacinas. O texto informa que o Brasil utiliza desde 2002 o Sistema de Vigilância Sentinela de Influenza, que identificou em 2009 a presença do H1N1 em 70% dos casos de síndrome gripal registrados no território nacional. Em alguns países, o percentual chega a 100%.
“O simples surgimento de casos de gripe em vários países causado por um novo vírus já caracteriza a pandemia”, esclarece o relatório. Dados da OMS indicavam que, desde 11 de junho de 2009, já havia disseminação da infecção entre humanos ocorrendo em diferentes regiões do mundo, situação que cumpre o critério para definição de pandemia estabelecida no Regulamento Sanitário Internacional.
Em relação à suposta trama articulada para eliminar parte da população mundial através da vacina, o comunicado oficial assegura que o vírus já vinha sendo detectado em casos isolados nos Estados Unidos, sem provocar epidemias até então, o que certifica que “não se trata de uma criação em laboratórios”.
Foto: Gutemberg Britorito/IOC
Marilda Siqueira
Marilda, recém-chegada de reunião da OPAS:
metodologia é a mesma da vacina anual para idosos
  
Marilda Siqueira, farmacêutica bioquímica e virologista do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), também atesta a segurança da imunização. Integrante do laboratório de referência nacional para Influenza do Ministério da Saúde e da OMS, ela conversou com aRadis poucos dias depois de retornar de uma reunião do comitê da Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) que avalia a doença, realizada em Washington.
Segundo a pesquisadora, a vacina distribuída no Brasil é a mesma utilizada no Hemisfério Norte, fabricada com uma metodologia mais do que conhecida — a mesma da vacina para influenza sazonal, aplicada anualmente nos idosos. “Não há perigo”, garante, indicando que, no conteúdo da vacina, há “o vírus morto e particulado” — afirmação que desmente o uso de células cancerosas de animais.
  
Fotos: Vinicius Marinho
Roberto Medronho
Para Medronho, programa de imunização é um
dos maiores êxitos da saúde pública brasileira
  
“A vacina é segura e eficaz”, também atestou Roberto Medronho, epidemiologista do Departamento de Medicina Preventiva da UFRJ, durante o debate H1N1: epidemia, vacina e mídia, que marcou a abertura do ano letivo do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict/Fiocruz). Ele salientou que a vacina é uma das armas mais poderosas no controle de uma epidemia, e que o programa de imunização é um dos maiores êxitos da saúde pública brasileira. O pesquisador informou que, em dez anos de vacinação contra o vírus sazonal, apenas um caso de morte foi registrado como associado à vacina e contabilizou-se uma redução no número de internações entre idosos.
“Não tenho dúvidas de que temos que nos vacinar”, assegurou Paulo Sabroza, pesquisador da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz), no mesmo debate. Para o epidemiologista, não há razão para se rejeitar a vacina, e basta uma única dose para a imunização: “quem não pegou o H1N1, vai pegar”, afirmou, lembrando que o vírus deverá circular no país por pelo menos dez anos.
Sabroza esclareceu que, como qualquer medicamento, a vacina não é inócua. “Nada é absolutamente seguro, nem água”, advertiu, observando que, certamente, haverá casos pontuais de efeitos adversos entre as pessoas que estão sendo imunizadas, mas o benefício alcançado com a prevenção de milhões de outros casos torna mais do que positivo “correr esse risco”. O benefício é maior que o risco, também assegurou Medronho, declarando que se vacinará e imunizará seus filhos. Ele defende a necessidade de monitoramento e vigilância da vacina, salientando que o Ministério da Saúde está atento a esse aspecto.
Os riscos de danos ao ambiente, outro problema associado à vacina, são descartados por Rita Barradas Barata, professora adjunta do departamento de Medicina Social da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo (FCMSCSP). De acordo com a pesquisadora, a vacina da gripe é produzida por técnicas de biologia molecular, utilizando-se apenas proteínas com poder imunogênico. Portanto, não há como causar danos ao ambiente.
Rita acredita que a resistência de parte da população ao uso de vacinas novas tem origem, por um lado, no desconhecimento sobre os mecanismos de produção e ação e, por outro, na disseminação de “informações leigas” pela internet, apresentadas como se fossem respaldadas por evidências científicas. Ela alerta que não é raro alguns pesquisadores das áreas de antropologia e sociologia, “com escassos conhecimentos biológicos”, fazerem parte de movimentos contra vacinas alegando alterações ambientais importantes.
Outra questão levantada por Rita refere-se à repercussão dos casos geradores de efeitos adversos, que “reforçam o medo face ao desconhecido”. Segundo ela, até médicos podem compartilhar desse medo, já que “raramente as pessoas raciocinam com base em probabilidades”, tendendo a absolutizar a percepção a partir de poucos casos nos quais ocorreram reações mais intensas. Ela assegura que o procedimento padrão dos sanitaristas é avaliar os diversos riscos e decidir pelo caminho que produz menos danos.
OUTROS VÍRUS
Em relação aos efeitos adversos da vacina, Marilda Siqueira alerta que a população muitas vezes os confunde com a infecção por outros vírus. “Quando alguém recebe esta vacina anti-influenza, fica imunizado contra o vírus da influenza A H1N1 pandêmica”, ressalta, lembrando que, entre abril e junho, há a circulação de vírus da influenza sazonal e de outros vírus respiratórios, que muitas vezes são os verdadeiros responsáveis pelos casos de bronqueolite (popularmente conhecida como peito cansado ou dispneia), em crianças menores de dois anos.
A virologista do IOC explica que, de cada dez casos de suposta gripe suína, sete poderiam ser diagnosticados como infecção por outro vírus, o sincicial-respiratório. “Mas isso não diminui a importância da vacina contra o H1N1”, observa a pesquisadora. Ela alerta ainda que há casos de pessoas já contaminadas pelo H1N1, que adoecem após se vacinar e imaginam que a imunização não fez efeito. “São quadros que podem dar uma falsa impressão de que a vacina não funcionou”.
Mesmo assim, Marilda assegura que não há necessidade de se fazer diagnóstico laboratorial em todos os casos. A estratégia do Ministério da Saúde, desde agosto de 2009, é testar apenas os casos mais graves, quando há hospitalização ou morte. Ela acredita que os países se encontram mais preparados nas áreas hospitalar e de vigilância e controle para o que venha a acontecer em 2010, e lembra que no Brasil a tendência é a diminuição dos casos graves. Em primeiro lugar, grande parte da população já adquiriu imunidade para o vírus; em segundo, a estratégia de vacinação do governo irá cobrir quase 50% da população, privilegiando aqueles grupos que apresentaram maior número de casos graves em 2009.
A prioridade na aplicação de vacinas é para trabalhadores da área de saúde, indígenas, pessoas com doenças crônicas, gestantes, crianças entre seis meses e dois anos, adultos de 20 a 29 anos e maiores de 60 anos. Até o final da campanha, pretende-se vacinar cerca de 91 milhões de pessoas ainda no primeiro semestre de 2010, com o objetivo de impedir uma pandemia no inverno do Hemisfério Sul.
Para isso, o governo investiu R$ 1 bilhão para comprar doses de três diferentes fornecedores (Instituto Butantan, Laboratório Glaxo Smith Kline e Fundo Rotatório de Vacinas da OPAS). Do total de 91 milhões de doses da vacina adquiridas, 33 milhões foram compradas do Instituto Butantan. Marilda lembra, ainda, que o governo adquiriu e vai distribuir uma quantidade maior de oseltamivir (tamiflu) para intervenções terapêuticas, o que significa que o país está se preparando. “Esperamos epidemias com consequências menos drásticas do que no ano passado”.
Em relação às críticas feitas à quantidade de vacinas compradas pelo governo brasileiro, ela lembra que a compra se justifica uma vez que o país tem know how em vacinação, ao contrário de outros países. Marilda toma como exemplo os Estados Unidos, “que não sabem fazer campanhas de vacinação”, lembrando que por lá há problemas de logística que dificultam a distribuição em massa da vacina. Além disso, no Hemisfério Norte, o impacto da influenza foi menor, já que o vírus circulou com maior força no inverno daqui. Mesmo assim, considera que os sistemas de saúde fizeram a escolha certa: “os países que compraram muita vacina fizeram muito bem. Na saúde, quanto mais se oferecer, melhor”.
DESAFIOS DA COBERTURA JORNALÍSTICA
A melhor forma de conduzir a interlocução entre promotores de saúde e a população em campanhas de vacinação é assunto que vem sendo objeto de estudo do Núcleo de Estudos de Divulgação Científica do Museu da Vida/Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz. As pesquisadoras Luisa Massarani e Flavia Natércia Medeiros analisaram a cobertura jornalística sobre influenza feita pelo Jornal Nacional, veiculado pela Rede Globo, entre abril e agosto de 2009, período em que a doença foi pauta diária do noticiário (ver matéria na pág. 2). Luisa apresentou parte dos resultados da pesquisa no debate que aconteceu no Icict. Ela destacou como positiva a preocupação em se dar um espaço significativo ao tema (157 inserções, com 39,7% delas em destaque na abertura do telejornal).
Luisa Massarani
Luisa Massarani: cobertura jornalística de pandemias
é um desafio e requer “cautela em dobro”
  
Entre os aspectos negativos, ela identificou que “a cobertura também semeou o pânico”. Ela identificou que as imagens predominantes na cobertura realizada peloJornal Nacional foram as de hospitais e cidadãos comuns em filas, salas de recepção ou de espera. Em sua análise, ela considerou que essas imagens, ainda que reforcem a mensagem de “preparação” contra a doença, dão margem a questionamentos sobre a eficácia das medidas tomadas e das recomendações feitas pelas autoridades sanitárias. Outra limitação importante identificada foi o pouco espaço dado aos aspectos científicos da doença: evolução, surgimento de vírus emergentes, desenvolvimento de kits de diagnósticos e vacinas.
Luisa acredita que os profissionais de saúde poderiam preparar um material adequado para jornalistas, sintético, objetivo, que fornecesse subsídios para uma melhor cobertura do tema. O ideal, defende, seria criar um serviço do tipo teledisque, para que os profissionais pudessem tirar suas dúvidas. Ela observa que os jornalistas, diante de informações confusas e, às vezes, contraditórias, precisam de “fontes confiáveis”, como os sites da Organização Mundial da Saúde ou da Fiocruz, bem como os setores de comunicação social dessas instituições.
Mesmo assim, Luisa considera imenso desafio cobrir pandemias: se, por um lado, atenua os riscos — para evitar pânico — a cobertura pode fazer com que as pessoas não compreendam a dimensão do problema; por outro, o alerta sobre os perigos da pandemia, pode facilmente ultrapassar as fronteiras do bom senso. “Não há uma fórmula mágica, infelizmente, mas o jornalista precisa ter cautela em dobro e avaliar bem o material que produz antes de torná-lo público”.
RELAÇÃO CONFLITUOSA
Para Rita Barradas, é fundamental que autoridades sanitárias e especialistas lancem mão de uma comunicação social eficiente. “A conscientização e o esclarecimento dos riscos reais me parece a melhor forma de lidar com essa questão”, diz a pesquisadora. Ela defende que mídia e lideranças sociais precisam ser mais responsáveis na veiculação das informações — garantia de que os riscos reais possam ser conhecidos e levados em conta nas decisões individuais.
Medronho observou que há um “conflito de interesses” em algumas decisões relacionadas ao enfrentamento da epidemia, e questionou: “até onde nossas decisões são baseadas em critérios científicos ou atende (voluntariamente ou não) outros interesses?” Salientou, por exemplo, que a mudança de nome para H1N1 suprimiu a relação da doença com o processo social e produtivo da produção de carne suína. “Tem que se discutir a ética e a relação dos trabalhadores em relação ao processo de produção da carne, que é absurdo”.
Ele reconheceu que os pesquisadores têm dificuldades para lidar com a imprensa, advertiu que a mídia exige “uma certeza” que nem sempre os especialistas podem dar e criticou a “necessidade de criar fatos” dos jornalistas. Considerou que uma “pandemia de informações” era responsável por parte do clima de desconfiança da população em relação à campanha de imunização.
“Nada como uma crise para revelar nossa verdadeira natureza”, sinalizou Paulo Sabroza. Ele observou que a imprensa apenas amplifica “o que fazemos com nossas doenças”, lembrando que a discussão se transferiu do nível coletivo para o individual. O pesquisador da Ensp advertiu que as orientações do tipo “esperamos que você se cuide” e recomendações de uso de máscara e álcool gel sugerem a garantia de segurança individual que não existe, que transfere a responsabilidade para o cidadão daquilo que foge do controle coletivo. “Em momentos de crise, é necessário manter a hegemonia. Isso é controle do Estado”.
Por outro lado, manifestou preocupação diante da circulação de informações que coloca no mesmo patamar todos os níveis de saber. O conhecimento científico acumulado não está isento de erro, reconhece, mas não pode ter a mesma relevância de informações que circulam na internet. Ele lembrou um caso ocorrido durante o surto de febre amarela, em 2008, quando houve risco de morte graças a informações distorcidas divulgadas pela imprensa. “Quem precisava, não recebeu a vacina; quem não podia, acabou sendo vacinado”.
Luisa lembrou que a comunicação de risco é um dilema frequente nas redações, onde as decisões são tomadas em um clima de estresse. E lançou a questão: “Como falar de uma doença com potencial letal sem semear o pânico?”. O jornalista Umberto Trigueiros, diretor do Icict, destacou que este dilema acompanha a Fiocruz há 100 anos, reforçando a estratégia da instituição em se tornar uma fonte de informações de credibilidade para jornalistas.
Desconfiança histórica
  
Leônidas/O malho/1904. acervo biblioteca COC
Revolta da Vacina
Cena da Revolta da Vacina,
de 1904, no Rio de Janeiro
  
Reações populares às campanhas de vacinação não são novidade no Brasil. No início do século 20, o movimento conhecido como Revolta da Vacina (1904) foi um protesto da população do Rio de Janeiro à “abordagem coercitiva baseada em leis e decisões que iam de encontro aos direitos de cidadania”, como narra Cristina Maria Vieira da Rocha, coordenadora de vigilância à saúde da Secretaria Estadual de Saúde de Alagoas em 2003, no texto Comunicação social e vacinação (História, Ciências, Saúde — Manguinhos, volume 10, editado pela Casa de Oswaldo Cruz).
Ao analisar o histórico das campanhas de vacinação no país, Cristina identificou que metodologias e técnicas de aproximação com a população são importantes “para que ela perceba a oferta de serviços e ações de saúde como direito de cidadania”. Ela considera que a comunicação, “fator essencial para a transformação da realidade”, é colocada, quase sempre, como reprodutora de ordens com intenção de levar os interlocutores a seguirem condutas corretas. Por outro lado, alerta que nem sempre as estratégias oferecem “a contrapartida necessária para que a prática pretendida se concretize”.
Cristina ainda observa que, quando a informação é classificada como “desconfortável” pelo indivíduo, tende a ser ignorada; ao contrário, quando considerada “agradável”, a população acaba incorporando. Por isso mesmo, defende a credibilidade como credencial para aproximar o público das informações veiculadas sobre saúde. Para ela, é a credibilidade que melhor orienta a apreensão das informações.

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