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sábado, 26 de junho de 2010

Oportunismo e falta de opção levaram à escolha de senador

de Renata Lo Prete, editora da coluna “Painel”, da Folha de São Paulo:

Alvaro Dias virou -ao menos até o momento- candidato a vice por uma mistura de oportunismo (dele) e falta de opção (de José Serra).


Na cabeça de Serra, plano mesmo existiu apenas o A, de Aécio Neves. Por apostar na possibilidade de atraí-lo -fundamentalmente com base em pesquisas que, a esta altura, indicassem perspectiva robusta de vitória-, ele jamais investiu na construção de uma alternativa.
Temia fechar a porta àquela que sempre lhe pareceu a melhor solução.
Para completar, as negativas públicas do ex-governador de Minas eram contraditadas nos bastidores, aqui e ali, por pessoas de sua inteira confiança, mantendo viva a especulação em torno da “chapa dos sonhos”.
A novela se arrastou durante meses, produzindo algum desgaste político e, no noticiário, uma longa lista de gente que “não aceitou” ser vice -composta, em boa medida, por gente a quem Serra nunca cogitou dar a vaga.
Único esboço de um plano B, Francisco Dornelles não tinha os atributos do primo Aécio, mas poderia ajudar no Rio, Estado-chave onde os tucanos correm risco de deslizamento, e, mais importante, traria como dote quase um minuto e meio de tempo de televisão do PP, partido que o senador preside.
Porém, em meados de maio, a mesma onda de crescimento de Dilma Rousseff (PT) que levou Aécio a pronunciar o “não” definitivo enterrou a disposição do PP em se juntar à oposição.
Aí começou a repescagem.
Presidente do PSDB, o pernambucano Sérgio Guerra subiu na bolsa de apostas menos pela capacidade de agregar votos, diminuta, e mais porque seu nome causaria pouco atrito entre os aliados. Já estava em queda quando foram descobertos funcionários fantasmas em seu gabinete no Senado.
Serra considerou a sério a hipótese Patricia Amorim, vereadora tucana no Rio (um ganho potencial) e presidente do Flamengo (outro).
Opção heterodoxa, a ex-nadadora foi bombardeada pelo próprio partido (Guerra e Dias à frente) e pelo presidente do DEM, Rodrigo Maia (RJ) -que agora ameaça deixar a aliança em razão da escolha de Álvaro e do modo como ela veio a público.
Com a resistência em baixa, a candidatura foi atacada por uma infecção oportunista: Alvaro Dias, um senador afeito à vitrine das CPIs que jamais contou com a simpatia de Serra, passou a vender sua indicação como única forma de convencer o irmão, Osmar (PDT), a apoiar os tucanos no Paraná, em vez de se lançar candidato ao governo e dar palanque a Dilma.
Serra não gostou da faca no pescoço, mas, interessado em interromper a série de más notícias para a campanha, acabou cedendo.
Seu vice -se o arranjo sobreviver- carece das três qualidades mais valorizadas na função. Não agrega tempo de TV, não ajuda a resolver um Estado complicado (o Paraná é dos mais confortáveis para os tucanos) e não ameniza a resistência de nenhum setor do eleitorado a Serra. Foi o que deu para fazer.

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