UOL via Boletim Eletrônico do NEMS-PR
Poucos elogios, muitas críticas e uma reclamação frequente: a demora. As avaliações dos pacientes atendidos em unidades que atendem pelo Sistema Único de Saúde (SUS) em São Paulo atestam as reclamações que são rotina das pessoas com problemas de saúde que precisam de atendimento. A reportagem do UOL Notícias visitou algumas unidades para um "teste informal", colhendo depoimentos dos usuários.
Por uma manhã e uma tarde, a reportagem rodou a cidade de São Paulo visitando unidades emergenciais e ambulatoriais que servem a população.
A maior parte das reclamações de quem buscou atendimento em um dia frio e chuvoso como ontem (22) era sobre o tempo que tiveram que ficar à espera de atendimento médico. Depois da demora, o que mais foi relatado pelos pacientes ouvidos pela reportagem é a sensação (leiga) de que os clínicos fazem diagnósticos "quase instantâneos", sem análises detalhadas de seus estados de saúde.
Na Santa Casa de Misericórdia de Santo Amaro, na zona sul, o quadro era tumultuado. A sala da ortopedia estava tomada de gente –cerca de 50 pessoas–, mas o ambiente ainda era tranquilo comparado à fila vista na espera no setor de raio-X. Com suspeita de fratura no braço esquerdo, a diarista Manuela Pereira da Silva, 23 anos, já se preparava para enfrentar oito horas até o resultado de seu exame. “É o que o pessoal comenta, vai demorar oito horas”, afirmou.
Do outro lado do prédio, no Pronto-Socorro, Valdira Santos, 36, segurava no colo o filho John Micael, 2. Com um corte, o menino tinha sangue escorrendo pela cabeça e, mesmo assim, continuava esperando pelo atendimento. “Ele caiu na creche e viemos correndo. Mas estamos aqui há quase duas horas. Vamos para uma sala, mandam ir para outra, e continuamos sem saber o que fazer”, disse ela.
Na AMA (Assistência Médica Ambulatorial) Elisa Maria, na zona norte paulistana, a cena da mãe Jéssica da Silva com seu filho no colo chamava a atenção. Atônita, ela andava de um lado para outro, com o pequeno Theo Felipe, 8 meses, totalmente coberto com cobertores para se proteger da friagem. “Ele está há 2 meses com tosse e falta de ar. É a sexta vez que estou vindo aqui nas últimas semanas. E agora já estou esperando há 2 horas para conseguir entrar”, explicou.
Na avaliação dos médicos que o atenderam, ele tem uma virose. “Só dizem isso, que ele tem uma virose”. Ela assume não entender nada de medicina, mas lista os procedimentos que julga estranhos nas avaliações clínicas. “A médica nem encosta nele. Isso tá certo? Só me perguntam umas coisas e mandam voltar pra casa, tomando xarope. Nunca fez uma inalação, nada. E ele não melhora. Já vi colega minha perder o filho assim."
Em Pirituba, na AMA José Soares Hungria, que funciona nos fundos do Hospital Municipal de Pirituba, na zona norte, o cenário de confusão era bem parecido. Na porta da unidade, pelo menos 15 pessoas se amontoavam em pé para conseguir “roubar” um pedacinho do toldo e fugir da garoa fina – sem contar os outros cerca de 40 que já tomavam conta das cadeiras da ala de espera.
A estudante N. P., 16, estava nesse aglomerado, com "cara amarrada". “Acho que estou com infecção urinária. Está doendo muito. Esperei já duas horas para conseguir uma indicação para fazer um exame de urina. Agora vou pegar uma outra fila para fazer o exame e, depois, me falaram que são outras duas horas até sair o resultado. Perdi o dia aqui”, reclamou.
Já no hospital Professor Liberato John Alphonse Di Dio, conhecido como hospital do Grajaú, na zona sul, a fila de pacientes também era grande. Cerca de 60 pessoas esperavam pelo atendimento. Roberta Talita, 19, foi até a unidade para tratar da garganta inflamada. Disse ter levado três horas para ser atendida. Quando entrou na sala do médico, estranhou a rapidez do atendimento. “Ela olhou minha garganta e, em menos de cinco minutos, acabou (a consulta)”, disse ela, que tomou uma injeção contra a inflamação.
Na portaria da unidade, logo atrás vinha Cristina F., 30, assistente de limpeza. Ela disse ter quebrado o pé há menos de uma semana. “Vim para cá, me enfaixaram, deram remédio e me mandaram engessar na UBS (Unidade Básica de Saúde). Na UBS, me mandaram vir para cá. Hoje, outra vez, me mandaram ir para a UBS”, explicou ela, que continuava apenas com faixas enrolando o pé machucado.
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