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sábado, 10 de julho de 2010

Curitiba não tem locais suficientes para tratar usuários de drogas


Prefeitura tem apenas 5 unidades de atendimento e parceria com dois hospitais

Usuários de drogas lícitas e ilícitas têm poucas opções de unidades de tratamento gratuito em Curitiba. A prefeitura disponibiliza a população quatro Centros de Atendimento Psicossocial (CAPS) para adultos dependentes químicos, nos bairros Boa Vista, Cajuru, Bairro Novo e Portão. Um quinto CAPS, no bairro Batel, atende exclusivamente a crianças e adolescente. O Estado presta atendimento emergencial pelo Centro Psiquiátrico Metropolitano (CPM) e 35 leitos de tratamento em tempo integral no Hospital Adalto Botelho.

“Entendo a questão desse tipo de tratamento como uma lacuna que o estado tem por obrigação preencher e fazer mais. É emergencial”, acredita o secretário estadual de saúde, Carlos Moreira Junior. Ele afirmou que a ala especial para o tratamento de dependentes químicos está passando por uma readequação para receber mais 30 leitos e a intenção é ampliar ainda mais.


O tratamento realizado nos CAPS é ambulatorial e o paciente passa o dia realizando atividades e a noite retorna para casa. Portanto, não há o internamento, apenas um acompanhamento médico e a frequência de comparecimentos varia de acordo com a intensidade do tratamento. Em cada unidade são cerca de 190 vagas por mês, sendo que a unidade da criança e do adolescente tem 155 vagas/mês. Para ser atendidos por uma dessas unidades é preciso ser encaminhado pela unidade de saúde local. Esses espaços atendem exclusivamente a capital.

O tratamento com internamento é realizado pela prefeitura apenas com os hospitais conveniados São Julian e Helio Rotemberg. Ao todo são cerca de 250 vagas disponibilizadas para atender toda a população curitibana. “O internamento só é indicado em última opção quando o médico percebe que o quadro clínico do paciente é de grande risco”, explica Raquel Cubas, integrante do Centro de Informação e Saúde da prefeitura, que considera o número de vagas dos CAPS atuais adequados, mas que revela que outros dois CAPS devem ser inaugurados até 2012.

Nos CAPS os pacientes recebem uma abordagem multiprofissional e participam de projetos de geração de renda para a reinserção social. Nessas unidades, a maior procura por tratamento é de dependentes do álcool e o maior desafio para os médicos é o crack. “A maior dificuldade se encontra no fato de se tratar de uma droga nova sobre a qual se estudou muito pouco”, conta Raquel. Outra limitação é o desejo de querer se recuperar. “Dependemos da vontade do sujeito, pois neste caso não há como um terceiro interferir. O desejo tem que partir de pessoa”.


Outra opção são as comunidades terapêuticas, geralmente filantrópicas, que realizam o tratamento continuo de dependentes. “Todas as instituições que conheço, assim como nós, também possuem problemas financeiros”, revela o agente de saúde, técnico em dependência química e coordenador da Associação Emaús, Gilberto dos Santos Paes. Esta é uma comunidade católica, que trabalha com a espiritualidade e não com medicamentos, mas recebe pacientes independente da escolha religiosa. Lá se tratam viciados em qualquer tipo de droga, desde que se sejam casos leves ou moderados.

A associação possui 24 leitos, tem atualmente 15 internos, e sobrevive da contribuição de empresários, doações da sociedade e familiares. “A contribuição dada pela família depende da condição financeira. O valor varia entre nada e R$ 600. Dos 15 pacientes que temos agora, 10 não pagam nada”, explica. Gilberto acredita que todos os locais disponíveis em Curitiba não são suficientes para atender a demanda e que a situação se agrava se tratando da região metropolitana. “Todos os dias cerca de três pessoas vem procurar ajuda aqui. Para aqueles que não temos lugar encaminhamos para outra instituição onde ele pode ser atendido”, afirma.


O coordenador conta que, segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) o número de usuários de drogas aumenta 70% por ano, sendo que apenas 20% se recuperam. “Na associação o índice de recuperação é de 75%, mas mesmo assim para suprir a demanda da cidade seria necessário dobrar o número de locais de atendimento ou o governo investir fortemente nas instituições já existentes”, calcula. Na Emaús, os internos contam com toda a estrutura de uma casa, contato com os familiares, quadra de futebol, academia (que ainda está em construção), capela e biblioteca. “Aqui o muro tem um metro e meio, os portões ficam abertos o tempo todo e ninguém vai embora. Isso porque tudo é negociável, menos a vontade de se tratar. A pessoa precisa querer o tratamento”.


Reportagem Daiane Rosa
Fotos Rodrigo Pinto

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