Parentes de pessoas com doenças graves adotam um ponto de vista mais otimista do que o dos médicos sobre a condição do paciente, ainda que recebam uma estimativa específica sobre as chances de sobrevivência. A conclusão é de um estudo da Universidade de Pittsburgh (EUA).
Pesquisas anteriores já haviam detectado que os médicos e as famílias têm opiniões diferentes sobre as chances de sobrevivência de um paciente. Isso levantou dúvidas sobre a capacidade dos médicos de comunicar suas estimativas corretamente.
Especialistas agora recomendam que os médicos deem estimativas numéricas específicas em vez de dizer que é "muito improvável" que a pessoa sobreviva.
Para o novo estudo, pesquisadores analisaram se números ou estimativas qualitativas têm impacto diferente na opinião das famílias.
Os cientistas colocaram 169 familiares de pacientes internados em unidades de tratamento intensivo para assistir a vídeos de médicos discutindo prognósticos de pacientes em UTI com outras famílias.
Metade das pessoas assistiu a um cenário hipotético em que o médico dizia à família que era "muito improvável" que o paciente sobrevivesse e que "muito provavelmente" ele morreria. O médico também dizia que, se ele sobrevivesse, ficaria preso a um aparelho para poder respirar.
A outra metade assistiu a um vídeo com o mesmo tema, mas o médico dizia que o paciente tinha 10% de chance de sobreviver e 90% de chance de morrer.
Nos dois casos, os participantes acabaram ficando com uma estimativa mais positiva do prognóstico dos pacientes do que o falado pelo médico no vídeo.
Os pesquisadores pediram que os voluntários dessem suas próprias estimativas de sobrevivência para o personagem do vídeo.
Quem viu o médico dizer que era "muito improvável" que a pessoa sobrevivesse cravou em 26% as chances de sobrevivência do paciente do vídeo.
Os voluntários que viram o médico falar em 10% de chance de sobrevivência disseram que o paciente tinha 22% de chance.
Para Douglas B. White, da Universidade de Pittsburgh, responsável pelo estudo, o resultado mostra que as famílias não aceitam as estimativas dos médicos.
A pesquisa, publicada no "American Journal of Respiratory and Critical Care Medicine", também sugere que uma comunicação eficaz com as famílias não é só questão de dar estimativas numéricas de sobrevivência.
White afirmou que talvez os médicos de UTI tenham que limitar a quantidade de informações que passam às famílias e também perguntar se as pessoas entenderam o que foi dito.
A confiança é mais uma questão importante. Se os médicos da UTI não são os que tratam o paciente regularmente, isso significa que a família está tendo que confiar no julgamento de uma pessoa estranha.
No estudo, os volutários que tiveram menos confiança nos médicos também discordaram mais do prognóstico mostrado no vídeo.
Ainda não se sabe como os médicos de UTI podem estabelecer um nível de confiança mais elevado com os familiares num tempo tão curto e carregado de emoções.
A pesquisa também diz que as famílias levam outros dados em consideração além do julgamento do médico para formular uma estimativa de sobrevivência para o parente internado.
Estudos anteriores mostram que raramente os familiares se baseiam só no prognóstico do médico. Eles também levam em conta sua própria percepção da força do paciente e de sua vontade de viver, seu histórico de saúde e sua própria confiança no otimismo, na intuição e na fé.
De acordo com White, os médicos conseguem prever com certa precisão a evolução dos pacientes que recebem alta. Mas eles acertam bem menos quando tentam prever se uma pessoa vai ou não sobreviver. O pesquisador lembra que há uma incerteza inerente à medicina, que deve ser comunicada às famílias também.
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