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terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Corpos são encontrados em vala clandestina no cemitério da Vila Formosa

Cerca de 90 corpos foram despejados em vala escondida no cemitério da Vila Formosa. Vala também abrigou corpos de desaparecidos políticos. Os trabalhos foram acompanhados pelo Deputado Adriano Diogo. 

Após uma semana de investigação e procura dos corpos de 10 desaparecidos políticos, a Policia Federal encontrou mais do que as ossadas dos desaparecidos. Ossadas recentes que foram despejadas na vala clandestina do Cemitério da Vila Formosa, foram encontradas durante às buscas.

Abaixo de um jardim, pela entrada da rua Flor da Vila Formosa, no cemitério que leva o nome do bairro, abrigava até semana passada a maior prova da falta de respeito ao próximo. Aproximadamente 90 sacos de corpos foram soterrados e esquecidos emmeados de 2002. Cerca de 1,5 metros foram encontrados os sacos de ossadas individualizadas e previamente identificadas pelo próprio cemitério.

Abaixo dessa camada de sacos, foram encontradas ossadas que, de acordo com as investigações, datam da década de 70, o que dificulta a investigação pelo fato de foram esmagado por um longo período de tempo.

“Não consigo entender como os corpos foram parar ali”, comenta do deputado Adriano Diogo que está acompanhando o caso de perto. “Quando achava que estávamos no fim das investigações, vi que estamos apenas começando. Não sei se elas têm ligação com os presos políticos, como vieram parar nessa vala, por que não existe registro desses corpos. Isso precisa ser investigado a fundo para punir os responsáveis por esse descaso humano”.

O trabalho de identificação das ossadas soltas e descobrir quando que elas foram enterradas é o foco do trabalho da Polícia Federal (PF). Trabalho quase impossível, segundo a própria PF. Já os corpos ensacados estão previamente identificados.

De acordo com o procurador da República em São Paulo Marlon Alberto Weichert, o trabalho de campo foi muito produtivo. “Agora que o material foi recolhido, será feita uma re-análise do trabalho no campo. Precisamos dos resultados do trabalho laboratorial e um reestudo da área”, relata o promotor.
 

Buscas continuam em 2011

Ao longo de toda a semana as equipes técnicas trabalharam em duas frentes. Na primeira, localizaram um ossário clandestino que pode ter abrigado os restos mortais de vítimas da ditadura. Na segunda, deveria ser feita a exumação dos corpos de Virgílio Gomes da Silva, o comandante Jonas, e de Sérgio Correia, ambos militantes da Ação Libertadora Nacional (ALN).

A questão é que ficou pendente a exumação na cova que poderia ser de Virgílio. A Polícia Federal acredita que será preciso um estudo mais aprofundado para determinar com precisão a localização da cova – ainda há dúvida entre alguns pontos da quadra.

As procuras pelos corpos estão paralisadas até fevereiro, o que intrigou muito os membros do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (Condepe), que esperavam mais agilidade.

“É difícil aceitar que nos tempos da democracia a Polícia Federal não caminhe no mesmo sentido que nós da comissão sobre mortos. Houve uma intenção de não ter essa localização agora”, critica Ivan Seixas, ex-preso político, da Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos Políticos e presidente do Condepe.


Problema administrativo

Jeferson Evangelista Correa, chefe da área de Serviço Forense da Polícia Federal, afirmou que, segundo o relato de um funcionário antigo, há mais um metro de profundidade a avançar até que se atinja uma laje de cimento, que seria o fim desse ossário. Pode haver ossos soltos ou acondicionados, o que é igualmente grave do ponto de vista da PF por caracterizar infração da administração do cemitério.

"A dúvida era o que encontraríamos no local. Agora, sabemos que são ossos tirados de alguma parte do cemitério com algum grau de organização", esclarece. Por isso, ele sustenta que provavelmente não se trata de corpos de desaparecidos da ditadura. "Se fosse feito com a intenção de esconder alguma coisa, não seriam colocados em sacos, mas seriam despejados. O mais provável que seja uma ação do cemitério", explicou.

Procurado, Osvaldir Barbosa de Freitas, superintendente do Serviço Funerário da capital paulista de 2001 a 2005, na gestão de Marta Suplicy, não quis se pronunciar até esta quarta-feira, quando acredita que terá reunido informações a respeito das intervenções. Ele comentou à Rede Brasil Atual que os problemas de documentação foram os principais desafios da gestão, mas alegou que precisaria ouvir os gestores do cemitério de Vila Formosa para esclarecer o que ocorreu.

* Com informações do Rede Brasil Atual

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