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quarta-feira, 9 de março de 2011

Lixo hospitalar: um mercado em transição


Aprovação da Política Nacional dos Resíduos Sólidos e grupos estrangeiros no Brasil aquecem o setor - que movimenta cerca de R$ 1,5 bilhão
Menelau (Serquip): a ideia é crescer com competitividade, respeito ao meio ambiente e segurança
A aprovação da Política Nacional dos Resíduos Sólidos no Senado, em julho de 2010, pouco mudou nas regras específicas para os Resíduos Sólidos de Saúde (RSS), o chamado lixo hospitalar, que engloba os rejeitos de clínicas, postos de saúde, consultórios dentários, laboratórios e unidades veterinárias. Mas de certa forma, os reflexos da nova medida interferem nessas companhias, pois a maioria das atuantes no Brasil tratam também de outros resíduos ou pertencem a grupos com essa finalidade.
  
De acordo com dados da Associação Brasileira de Tratamento de Resíduos (Abetre), o mercado de resíduos teve receita estimada em R$ 1,5 bilhão em 2009,  um crescimento de 14% em relação a 2008. Um mercado atrativo que tem chamado atenção de grupos internacionais. Esse é o caso da Serquip. Fundada em 1999, em Recife (PE), a empresa, presente em 11 estados no Brasil, chamou atenção da gigante americana Stericycle, com atuação, entre outros países, nos Estados Unidos, Argentina, Chile, Irlanda, Portugal, Romênia e Inglaterra  e o resultado foi a compra de 70% das ações da empresa pela multinacional.

Com a aquisição, a Serquip começou a operar como braço internacional da companhia no Brasil e pretende adotar a marca da Stericycle ainda este ano. A operação, segundo o presidente da empresa no Brasil, Alexandre Menelau, deu fôlego às aquisições e à expansão. "O que trouxe de bom, em primeiro lugar, foi contar com a maior marca do mundo em crescimento e grandes clientes,  multinacionais procuram a Serquip. Outra coisa, é  a absorção de tecnologia, como a Stericycle trabalha com várias tecnologias nós temos acesso a know how e à capacidade de investimento", explica.

Troca de experiências e conhecimento também são atrativos na opinião do diretor executivo da Núcleo de Gerenciamento Ambiental (NGA), Alessandro de Souza Campos. O executivo acredita que a parceria com grupos de fora é importante para compartilhar conhecimento. A NGA é especializada em RSS e pertence à holding Geovision. Em maio de 2010, o grupo português Mota Engil e a Leão Ambiental adquiriram 50% da holding. Na época, o valor do acordo divulgado foi de 21 milhões de euros.

"Nós vemos com muitos bons olhos a vinda do grupo e a parceria. Deixa a empresa com mais força para atuar no mercado. Uma vez que é um grupo muito expressivo com presença em mais de 17 países no mundo, com negócios diversificados", avalia.

Mercado em movimento

Segundo a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), hoje são cerca de 50 empresas associadas à entidade e deste grupo, cerca de 10 trabalham exclusivamente com lixo hospitalar. O diretor executivo da associação, Carlos Roberto da Silva Filho, acredita que a entrada de grupos estrangeiros tornará a disputa mais acirrada. "Esse interesse das empresas estrangeiras vai tornar o mercado mais competitivo e traz a tendência, de justamente, aquecer no sentido de tornar mais acirrada as disputas de contrato, a maioria é licitação. Existirá mais profissionalização desse mercado e novos players". Apesar da movimentação, Silva Filho acredita que esse mercado é de empresas que já possuem expertise e não de novatas. "Para esse nicho precisa ter equipamento, licenciamento, trabalho do órgão ambiental".

Se depender da expansão de territórios e conquista de marketi share, a competição em 2011, tudo indica, será quente. Antes da Stericycle adquirir as ações da Serquip,  ela comprou a RPM, do Rio Grande do Sul,  e em dezembro, foi a vez da Serquip- já representante da marca no Brasil, comprar a ATT Ambiental e entrar no mercado do ABC paulista.

Segundo Menelau, há um horizonte de novas aquisições. Hoje a empresa é líder de mercado, possui 500 funcionários espalhados por 11 estados brasileiros e detém 30% do mercado-  cerca de 15 mil clientes. Em 2010, a empresa faturou cerca de US$ 40 milhões e pretende crescer 50% este ano. As ações negociadas na Bolsa de Nova York, estão em ascensão.

"Já éramos o número um antes da aquisição, em quantidade de unidades e população atendida. Hoje, a ideia não é só crescer, mas crescer com competitividade, respeito ao meio ambiente e segurança.  Esse conhecimento que foi agregado ao nosso negócio nos coloca em padrão internacional", destaca Menelau.

Tímida se comparada à líder de mercado, mas com projetos de expansão para 2011, a NGA tem 40 funcionários e concentra suas atividades no nordeste paulista, região que possui 1500 pontos de coleta só em Ribeirão Preto. A empresa também pretende crescer por meio novas aquisições, assunto que segundo Campos está em estudo, mas não é divulgado por questões estratégicas. A empresa cresceu de 10% a 12% em 2010, se comparado ao ano anterior. Para 2011, a estimativa é algo entre 15% e 20% de crescimento.

"Este ano,  a NGA  terá um trabalho forte na manutenção dos seus contratos, melhoria dos trabalhos, e implantação de novas unidades de negócio. Estamos em fase de fechamento do estudo. Não sabemos quantas serão"
Nova Política
A Política Nacional de Resíduos Sólidos não trouxe grandes modificações na área dos Resíduos Sólidos de Saúde, que já possuem regras bem definidas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), órgão do Ministério do Meio Ambiente. Entre as principais mudanças da política foi a obrigação do plano de gerenciamento de resíduos pela entidade geradora.

Campos, da NGA, acredita que a medida traz boas expectativas para o mercado. "Para nós, ela veio somar, expõe e coloca de forma estruturada para o geradores de resíduo uma conscientização de ter o cuidado adequado com o descarte de resíduos. Eles enxergam com ainda mais atenção todo o fluxo, desde o ponto de vista da necessidade de descarte. O cliente ficará mais exigente", diz.

"A maioria das regras são direcionadas ao lixo urbano. Faltava a segurança jurídica, que a política trouxe, fiscalização e aprimoramento, com tudo isso temos interesse das empresas estrangeiras atuarem no Brasil", comenta Souza Filho.

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