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domingo, 3 de junho de 2012

Delícias da privataria: Apagão das maternidades


Nos últimos 10 anos, a procura por partos em hospitais privados do Distrito Federal cresceu 42,5%, mas a oferta do serviço não acompanhou a demanda. Como resultado, muitas gestantes têm que percorrer várias unidades até conseguir uma vaga







São nove meses de expectativa, cuidado e dedicação para tudo dar certo na hora do nascimento de um filho. Mas aí, a única coisa que não depende da vontade da mulher acontece: na hora de ter o bebê, falta vaga no hospital. Para a surpresa das futuras mães, essa situação acontece com frequência em unidades particulares do Distrito Federal. E caso a tendência registrada nos últimos anos se mantenha sem que a capacidade de atendimento aumente, as alas maternas ficarão cada vez mais disputadas.


Levantamento feito pelo Correio mostra que, ao longo dos últimos 10 anos, a procura por maternidades privadas cresceu em ritmo frenético. Enquanto o total geral de partos realizados em todo o DF tenha aumentado muito pouco nesse período - apenas 1,3% - e nos estabelecimentos públicos tenha havido um recuo de 9%, o total de bebês nascidos em hospitais privados cresceu 42,5% desde 2002 (veja gráficos). No ano passado, essas unidades assistiram o parto de 13.701 crianças.


Para especialistas, fatores diferentes contribuem para a formação desse cenário. Um deles é que mais pessoas vêm tendo acesso aos planos de saúde em função do aumento da renda. De acordo com a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), mais de 78 mil pessoas contrataram planos médicos entre 2005 e 2011 no Distrito Federal, um acréscimo de 12% no número de beneficiados. O resultado é que muitas pessoas estão migrando para a saúde privada. Nos últimos 10 anos, o total de partos realizados na rede pública diminuiu em cerca de 4 mil cirurgias, praticamente o mesmo volume de crescimento registrado entre os hospitais particulares.


O problema é que, com muita gente decidindo escapar da falta de garantias do Sistema Único de Saúde (SUS), os grupos privados não conseguiram crescer no ritmo em que viram seus saguões e filas cada vez mais lotados. Além de moradoras do DF, mais mães que vivem em outros estados, principalmente no Entorno goiano, têm buscado os serviços particulares de saúde da capital. Além disso, especialistas alertam que não há investimentos massivos em alas maternas porque elas simplesmente não são lucrativas para os estabelecimentos privados.




Trauma


Nenhuma dessas justificativas, porém, repara o trauma deixado na servidora pública Lucyanna Rodrigues, 32 anos. Em março do ano passado, ela foi direto para o Hospital Santa Lúcia quando seu segundo filho, Gabriel, estava para nascer. Apesar de não ter ficado completamente satisfeita com o atendimento - ela não conseguiu amamentar o bebê na primeira hora de vida -, a escolha do hospital se deu para que não se repetisse o caos ocorrido na primeira gravidez. Em novembro de 2008, quando estava com 10cm de dilatação, sem quase conseguir se mexer, ela diz ter sido barrada na entrada do Hospital Santa Luzia por um vigia. "Ele disse que o hospital estava com problemas no gerador e que era para ir para o Santa Lúcia. A pé! Imagine como a emergência estava lotada", conta.


A médica que atendeu Lucyanna no segundo hospital fez o exame de toque e constatou que João Paulo já estava quase nascendo. Era preciso interná-la rapidamente. "O funcionário não queria me internar porque não havia leito. Mas a médica deu um ataque e conseguiu me levar para o centro cirúrgico. Foi a gente entrar na sala que o João Paulo nasceu. Não lembro o nome dessa médica, mas rezo por ela mesmo assim", diz Lucyanna, emocionada em reviver a confusão, mesmo passados mais de três anos.


A experiência ruim fez com que o imprevisto fosse levado em conta na hora de ter o segundo filho. "Os médicos dizem para a gente ir quando está com contrações a cada cinco minutos. Mas fui antes porque fiquei com medo de algo acontecer como da primeira vez", diz.


De acordo com a assessoria de imprensa do Santa Lúcia, a demanda pela maternidade vem crescendo desde 2010. Só nos primeiros quatro meses de 2012, foram realizados quase 10% a mais de partos em relação ao mesmo período de 2010. O hospital alegou que casos como o da servidora são excepcionais e que recentemente a ala materna foi ampliada. Informou ainda que quando outra maternidade apresenta problemas no atendimento, o redirecionamento das gestantes acaba causando uma situação atípica. O Correio procurou o Hospital Santa Luzia em duas ocasiões e não obteve retorno até a noite da última sexta-feira.




Benefícios


Amamentar o bebê nos primeiros 60 minutos após o nascimento é importante tanto para a mãe quanto para a criança, em termos de afetividade. É considerado um remédio natural, protegendo o recém-nascido de doenças. Também ajuda a mulher a ter leite mais rapidamente, além de auxiliar nas contrações uterinas, diminuindo o risco de hemorragias.

"Meu esposo entrou na recepção da emergência e disseram que estava lotado. Não me deixaram nem entrar. Passei muito sufoco. A gente não imagina que é assim" Kléia Braz Silva, 29 anos, dona de casa.

Comentário: A lógica é simples, porém perversa: Parto não dá lucro. É situação MUITO didática da concepção de saúde do empresariado que é MUITO diferente do poder público. Para o empresariado (por conta de sua natureza e "vocação") prevalece a saúde financeira da sua empresa.Simples assim.


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