Willian Vieira na Carta Capital
Com mais de 8 bilhões de seres humanos sobre a Terra em 2030, a maioria em países em desenvolvimento e com novas demandas por qualidade de vida, seria óbvio pensar na urgência de uma multidão de médicos. Países pobres de população crescente como a Nigéria têm menos de cinco médicos por 10 mil habitantes. A Índia, com 1,2 bilhão de habitantes, não tem sete doutores por 10 mil cidadãos — os Estados Unidos têm quase 25. Mas a resposta médica a esse cenário não vai se dar em progressão aritmética: com o avanço da tecnologia, uma parte cada vez maior do diagnóstico e mesmo do tratamento de doenças, especialmente as crônicas, deve migrar das mãos dos médicos para as de técnicos e enfermeiros e até para robôs e telas de computador e celular. Com a internet universalizada, em 2030, serão os próprios pacientes os protagonistas de uma silenciosa revolução da medicina.
Foi com a certeza de não poder tratar problemas do século XXI com a medicina do século XX — isso exigiria milhões de médicos, algo impossível para países pobres e rurais — que o doutor Devi Shetty abriu o Hospital Narayana Hrudayalaya, em Bangalore, na Índia. Hoje são 14 unidades a oferecer cirurgias de coração por 2 mil dólares (dez vezes menos que nos Estados Unidos). “Só 10% da população mundial tem acesso a essas cirurgias. Vidas são perdidas por esse preço”, afirma Shetty. Por trás do discurso generoso do senhor de grossas sobrancelhas e ar de executivo que se transformou num messias dos pobres indianos, há uma fórmula para explicar os 250 milhões de dólares de lucro ao ano: reduzir ao máximo a participação de médicos. Um exército de enfermeiros e técnicos faz quase tudo. Os cirurgiões, especializados em uma ou duas técnicas, realizam só as tarefas complexas. Os diagnósticos são feitos pelo Skype, em conversas pelo computador. Em breve, tablets conectados a um computador central permitirão às enfermeiras monitorar os pacientes e só chamar o médico se for grave. Foi batizado de Ford da medicina.
Ao menos em países em desenvolvimento, a tendência veio para ficar. “Nos Estados Unidos, o estilo da prática médica tem sido ditado pelas aspirações financeiras dos fornecedores, que administram o negócio como um cartel”, diz o professor de políticas de saúde da Universidade de Princeton, Uwe Reinhardt. “Os preços negociados entre seguradoras e hospitais são segredo de mercado. Ninguém sabe o custo de nada.”
*Leia matéria completa na Edição 717 de CartaCapital, já nas bancas
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